SÍNODO ONDE OS DIÁCONOS TÊM VOZ

SÍNODO ONDE OS DIÁCONOS TÊM VOZ

Vem aí o Sínodo 2023, onde se vão refletir, analisar e decidir, as linhas que os Sínodos Gerais, isto é, de todas as comunidades católicas romanas, instruem para o serviço do Povo de Deus. As comissões das dioceses e das conferências episcopais estão a ser formadas, no intuito da audição de todo o Povo de Deus. Esperemos que dessas comissões façam parte diáconos, que pela sua vivência sabem melhor o que é a família e a sociedade, que alguns padres e bispos e poderão ser um contributo forte a uma audição do Povo de Deus salutar; esperemos, também, a presença de leigos em número que contrabalance o número de clérigos. Esperemos, ainda, que nas redações dos pareceres diocesanos estejam diáconos e leigos e que nas comissões das conferências episcopais possam estar presentes em número suficiente.

Esperemos, finalmente, que aqueles que possam ter vozes divergentes sejam ouvidos e tenham lugares nas comissões responsáveis pela audição e consequente redação dos relatórios, que como sabemos não vão além das dez páginas. O êxito do Sínodo está na audição de todo o Povo de Deus, mesmo os mais afastados, ou principalmente destes e as decisões a tomar na fase da reunião do Sínodo determine posições para serem uma caminhada de “comunhão, participação e missão”. Se não entenderem as autoridades eclesiásticas que deverá ser assim, o Sínodo não passará de ter uma ressonância atroz e desarreigada do pensamento dos cristãos e das cristãs, para o governo da igreja num mundo em constante mudança.

E quando me refiro a todo o Povo de Deus, queria sublinhar a importância de se ouvir todas as tradições religiosas, cristãs ou não, dispostas a um diálogo profícuo. Ainda a audição de todos os ateus e agnósticos que nos façam o favor de connosco caminhar para um outro cosmos é necessário e fundamental. Estes, agnósticos ou ateus, são de uma preciosidade rara ser ouvidos, porque, por um lado, tantos sentiram a rejeição da igreja perante factos indesmentíveis, e outros tantos são a voz do Espírito do Senhor, que fala como quer, por quem quer e onde quer. Esquecermos as mensagens de todos os homens e mulheres de boa vontade, que não têm as mesmas ideias que os cristãos católico-romanos, será um erro e que colapsa o próprio Sínodo.

A caminhada sinodal começa agora, mas não acabará com a reunião dos bispos. Aliás, competia à hierarquia associar ao Sínodo não só diáconos, mas também um número razoável de leigos que pelas suas experiências contribuíam para uma real comunhão, participação e missão de toda a Criação. Esta etapa de início torna-se decisiva para que o sínodo tenha êxito ou não. Ouvir o Povo de Deus, significa escutar ativamente, e ser capaz de traduzir essa audição nos relatórios, e se assim não for estamos perante uma fraude que induzirá o sínodo a decisões mais compatíveis com a “idade média” do que um mundo do século XXI. A honestidade neste processo tem de provir da reflexão e oração de que jamais colocaremos as opiniões pessoais de um número reduzido de pessoas, em detrimento dos milhares que devem ser chamados a pronunciar-se.

Aos diáconos compete agir, mesmo que não sejam convocados para as comissões. Agir de forma a chamar todo o Povo de Deus para emitir as suas opiniões e formando as pessoas para as perguntas que se lhes colocarem. Porém, a formação deve ser um espaço livre onde não apareça a resposta às perguntas, mas sim a essência da pergunta. Toda a formação que seja convidativa à formulação de uma resposta seria uma forma óbvia de orientação da resposta, o que será não um acompanhamento, mas o fornecimento de uma diretriz, da nossa diretriz.

Aos diáconos competirá a entrada de ar fresco neste caminho para o sínodo 2023, e a começar agora, trazendo à reflexão aberta e livre os acontecimentos da vida, reconhecendo que a igreja e suas estruturas têm de se libertar de fardos passados e compreender que estamos na irreversibilidade de sermos os guardiões do Evangelho de Jesus.

Joaquim Armindo
Pós Doutorando em Teologia
Doutor em Ecologia e Saúde Ambiental
Diácono – Porto – Portugal

 

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