UM SÍNODO PARA O NOSSO TEMPO?

UM SÍNODO PARA O NOSSO TEMPO?
Um dia destes estava a falar com um diácono da diocese do Porto sobre o Sínodo. Diz-me ele, e certamente, com muita razão, os senhores bispos fazem os papéis e enviam, e nem precisam de ouvir mais ninguém. Mas será mais uma vez que acontecerá não levar a Sínodo aquilo que o Povo de Deus reflete? O bispo de Roma, e papa Francisco, disse e escreveu que queria ouvir o Povo de Deus, e, principalmente, todos os que saíram da Igreja e não mais voltaram. Que gostaria de ouvir as pessoas de outras religiões e até os ateus. Será que mais uma vez a voz do Espírito que soa das vozes enrouquecidas das pessoas normais não chegará ao Sínodo dos purpurados e, por consequência, ao seu bispo Francisco por muito que ele queira? São interrogações, em particular os diáconos, que temos de inverter o sentido e que tudo irá acontecer como o Espírito de Deus quer, porque se não for assim é porque não existiu Sínodo. De facto temos razões para duvidar, tantos sínodos que já passaram e já se esqueceu o que lá foi tratado. Tenhamos alguma esperança de que fale mais alto a razão do nosso tempo, que a mesquinhez de tantos que querem abafar a voz do nosso povo e os sinais do nosso tempo. Pelo menos que saibamos, só o Sínodo da Amazónia está a caminhar, não esquecendo o que foi aprovado, embora não totalmente.
Refere o documento de apoio ao sínodo, conhecido por Vademecum, “O atual processo sinodal que estamos a empreender é guiado por uma questão fundamental: como se realiza hoje este “caminhar juntos” em diversos níveis (do local ao universal), permitindo à Igreja anunciar o Evangelho? Quais são os passos o Espírito nos convida a tomar para crescer como Igreja sinodal? (PD, 2) ”. São quatro palavras a reter: “estamos”, “caminhar juntos”, “local” e “anunciar”. Ora, “estamos”, “juntos”, não quer dizer só alguns, mas todos e todas, focalizando o “local” por mais pequeno que seja, a comunidade, a paróquia, o pequeno grupo, aqueles que afinal fazem a Igreja, para “anunciar”, se não for assim não haverá anúncio do Evangelho do Senhor, que não conhece hierarquias, muito menos quando elas são transformadas em poderes todo-poderosas.
Mais adiante, no mesmo documento, lemos: “A esta luz, o objetivo do atual Sínodo é ouvir, como Povo de Deus, o que o Espírito Santo diz à Igreja. Fazemo-lo ouvindo juntos a Palavra de Deus na Escritura e na Tradição viva da Igreja, e depois ouvindo uns aos outros, e especialmente aos marginalizados, discernindo os sinais dos tempos. Com efeito, todo o processo sinodal visa promover uma experiência vivida de discernimento, participação e corresponsabilidade, onde se reúnem diversos dons para a missão da Igreja no mundo.” Este texto, que é desconhecido da maioria dos cristãos, é claríssimo quando fala em “Escritura”, “Tradição viva” e “sinais dos tempos”, os tempos de hoje são diferentes dos tempos já vividos e os “sinais” são outros enraizados na “Tradição viva” e nas “Escrituras”, não nas hierarquias cristalizadas e comandadas pelo sabor do poder. A “Tradição viva” é aquela que surge nos “sinais” dos nossos tempos, e não as tradiçõezinhas que vamos inventando ao longo dos anos, para nossa defesa contra aqueles que juramos não estarem de boa-fé, porque quem está de boa-fé, não pode estar calado, mas diz e afirma a sua opinião
Porque, “O Concílio Vaticano II revigorou o sentido de que todos os batizados, tanto a hierarquia quanto os leigos são chamados a ser participantes ativos na missão salvífica da Igreja (LG, 32-33). Os fiéis receberam o Espírito Santo no batismo e na confirmação e são dotados de diversos dons e carismas para a renovação e edificação da Igreja, como membros do Corpo de Cristo.”, adianta o documento, que vimos a citar, em que pontifica todos os cristãos, e não só as hierarquias, na participação no descobrimento do Reino prometido.
Apesar de todas as interrogações ainda confio que a voz dos “mais pequeninos” vão chegar ao Sínodo, para dar o alento necessário, a fim de a Igreja ser o sal do mundo e a Luz iluminando a escuridão.

Joaquim Armindo
Pós – Doutorando em Teologia
Doutor em Ecologia e Saúde Ambiental
Diácono – Porto – Portugal

 

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