Estava a ler um artigo sobre “Sono e Sonho”, do último volume de revista “Granta”, lembrei-me se um diácono sonhasse. Comecei, então, a pensar no Jardim do Éden, se lá estivesse, até para começar pelo princípio, Génesis, e não ir a outros mitos de origem, porque há outros, lá isso há. No princípio Deus viu que a terra era um vazio, um caos, era um abismo sobre a superfície das águas. E nós sonhamos pelo dia em que Deus disse “faça-se luz”, a luz apareceu e ficamos com o céu a terra as águas e a Luz, sonhamos com esta Luz, apareceu o firmamento, os cosmos, e no terceiro dia apareceu a terra e depois apareceu a verdura, as árvores e as florestas, os frutos das árvores, as ervas e as sementes. Continuamos a sonhar, apareceram no firmamento os grandes luzeiros e o sol e as estrelas, e separou-se o dia da noite; apareceram os seres vivos, os abióticos e os bióticos, os peixes e as aves e Deus quis que se multiplicassem, dessem origem a outros seres. Os animais mais ferozes e todas as espécies de animais domésticos. Nós continuamos a sonhar, então Deus fez o homem e a mulher para que cuidassem deste paraíso, dando-lhes a liberdade para viverem nele. E disse-lhes mais: crescei e multiplicai-vos, andai e vivei. O Homem e a Mulher foram edificados por Deus, são a sua Glória, antes, porém, foi criada a Terra e o Cosmos, para que o Homem e a Mulher pudessem ter vida.
Em todos estes dias o poema refere que Deus viu que “tudo era bom”, estava feliz, por ter criado todo um cosmos que funcionava por si. O que seria este jardim do Éden onde se passeava na brisa do dia, nas montanhas e planícies construídas para que todos os seres vivessem em comunhão e em reconciliação constante. Nós vamos continuar neste sonho que a poesia nos fornece, com a grandiosidade de uma molécula e do ser mais pequenino que existe. Não vamos esquecer os répteis, os insetos e os microrganismos por mais pequeno que sejam, nem a partícula mais pequenina descoberta há poucos anos a “partícula de Deus”, e que os cientistas dizem conter ainda mais outras pequeninas partículas.
Vamos sonhar embalados na poesia que constrói as vidas, na poesia que saindo das nossas gargantas possui o Amor único que une os seres, não vamos esquecer o Amor único que unem os seres bióticos: o Homem e a Mulher. Vamos sonhar com a chuva que cai para adubar os campos, com o vento que leva as sementes de umas plantas para as outras e que sem ele ficaríamos sem flores.
Vamos sonhar embalados no poema que constrói os homens e as mulheres como seres iguais, seres que se amam e constroem a humanidade. Vamos sonhar numa humanidade onde a igreja seja um louvor ao Deus do Éden, que nos reenviou uma mensagem de Amor pelo seu Filho Jesus, o carpinteiro de Nazaré. Vamos sonhar que todos vivemos em Paz e na Justiça do jardim do Éden e passemos pelo das Oliveiras, para imprimir nas nossas vidas a comunidade que se dá, que se oferece, que vive, que ama, que é misericordiosa.
Vamos sonhar no Éden, na convicção que lá viveremos, numa comunhão de sonhos, e sem requisitos hierárquicos. Vamos sonhar no jardim das Oliveiras que nos apresenta Jesus a caminho da ressurreição, do “aparecer Jesus”, da libertação da morte que fizemos e amanhamos.
Por isso não sonhemos com hierarquias que tudo comandam, ao som das trombetas para comando de tropas, mas sonhemos que os tambores e as tubas e as trombetas do Éden, são maravilhas onde queremos estar e ser, sem comandos que não sejam um poema de Amor.
Vamos sonhar com uma Humanidade onde a reconciliação nos faça retornar ao Jardim do Éden, lá não existem leis e comandos, mas só a Liberdade de Amar.
Joaquim Armindo
Pós – Doutorando em Teologia
Doutor em Ecologia e Saúde Ambiental
Diácono – Porto – Portugal