OS DIÁCONOS NÃO SÃO UM SETOR DENTRO DA IGREJA

Há alguns dias ouvi uma bizarria: existem setores dentro da igreja, ou seja, papa, bispos, presbíteros, diáconos e povo. Aqui, estaria a sinodalidade e a corresponsabilidade dentro da igreja. Cada setor exprime a sua opinião dentro dos seus pares, assim os diáconos não podem estar presentes nas reuniões presbiterais, mas deverão – deduzo -, cumprir as decisões dos presbíteros, o povo – coitado do Povo de Deus -, não terá voz, mas sim de cumprir as decisões de cima, isto seria o que é a sinodalidade e a corresponsabilidade. Ao pensar em tudo isto, lembrei-me que nem uma câmara corporativa é, porque nada há que represente todos na Igreja, e assim não é católica, mas organização empresarial do século XIX, dado que neste século já nem sequer as empresas têm este conceito. Os diáconos não podem ser um setor da igreja, embora o clericalismo se proponha a colocá-los como um setor. Verdade é que o presbiterado não é um setor, nem o episcopado o é, nem o papado, nem o Povo de Deus. Jesus deixou toda a Humanidade como o único setor da igreja, por isso não existem setores na Igreja. A verdade, porém, é que todos se comportam como tal.

Se virmos o diaconado, em si, as suas reuniões são presididas pelo bispo ou um presbítero e as ordens de trabalhos ditadas de cima, não têm voz. A voz que alguns fazem ouvir, é como um papel que a embrulha e já está: no caixote do lixo. Se, porventura, tivermos em consideração o presbiterado, é o bispo que preside, e os assuntos a refletir são da sua pena. Se formos ao Povo de Deus, então, esse é ouvido em reuniões sobre assuntos que não escolheram e com representantes – normalmente os mesmos -, que quando falam, destina-se a ouvirem-se a si próprios, as decisões estão tomadas. Curiosamente, na cúpula da igreja, nos seus sínodos, sobre a presidência de Francisco as coisas estão a mudar, embora lentamente. Se é ele que convoca as reuniões sinodais, é ele que, normalmente, fica calado em todas as reuniões, esperando os resultados sinodais. Dizem-me: mas é ele que resume por meio de documentos essas reuniões, isso é certo. Nunca esqueçamos, porém, que ele até quer ouvir pessoa a pessoa por intermédio da internet. Também, me podem referir que os “escolhidos” para estarem presentes junto a Francisco a ditar as suas opiniões, não são bem representantes, mas pessoas escolhidas sobe a batuta clerical. Até dizem palavras modernas, como “economia de Francisco”, “sustentabilidade”, “ecologia”, mas bem lá no fundo ou não sabem o que é, ou se sabem, falam para fazer “figura”. Alguém consegue ver um sem-abrigo, desamparado, descartado, sem ensino superior, a ser escolhido?

  • Não existem setores na igreja, a sinodalidade e corresponsabilidade, não é isso. A diaconia na Igreja é de todos os cristãos e cristãs, que por força do Espírito Santo, que emerge sempre e sempre do povo de Deus, não é um setor, nem um dicastério, mas Amor para os outros, principalmente àqueles que, ainda hoje, são pregados na cruz, onde Jesus morreu, e por sua ressurreição lhes deu a liberdade. A diaconia também não é um “serviço”, mas brota dos corações dos homens e das mulheres, que até podem não ser cristãos. O diácono, por força de o ser, por força da Graça recebida pelo poder do Espírito Santo, não pode constituir um grupo à parte do Povo de Deus. O diaconado é sinodal e corresponsável, não é um “serviço”, mas uma totalidade holística, que se dá, e dar-se não é um “serviço”, Jesus não morreu para prestar serviço a ninguém, morreu pelas mãos dos poderes déspotas políticos e religiosos da época, e ressuscitou para libertar os oprimidos pelos poderes clericais e políticos, que por sua vez subjugam a cultura e a Mãe Terra, em nome de uma economia neocapitalista e colonialista.

Os diáconos não podem passar à margem da sinodalidade, e como homens casados ou solteiros, devem assumir este dever de refletir sobre a sinodalidade nas suas comunidades cristãs, porque só a assumindo, podem libertar as vozes emperradas por séculos clericais e que o Povo de Deus – de que, aliás, fazem parte – possa ter voz na igreja. Uma Igreja só possui no seu seio corresponsabilidade, quando assume que todos e todas devem – não é podem! – ter palavra, a começar com a comunidade paroquial sinodal.

Quem o teme serão os instalados na igreja que absorvem, em nome de prestação do seu serviço -, os lucros, da imponência, da majestade e do dinheiro. Os diáconos estão libertos de lucros, de imponência, importância ou carreira eclesiástica, e não procuram o deus-dinheiro. Serão eles os principais fautores da (re) construção da sinodalidade, que nos levará à corresponsabilidade e à alteração de uma igreja piramidal, para uma igreja de diaconia, como servos da Palavra e do Evangelho.

Joaquim Armindo
Pós-doutorando em Teologia
Doutor em Ecologia e Saúde Ambiental
Diácono – Porto – Portugal

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