CONFIANÇA NO SENHOR NOSSO DEUS E A NOSSA AÇÃO RESPONSÁVEL
Continuamos a estar todos a atravessar diversas vagas do COVID-19, ao mesmo tempo uma vacinação em massa, com medidas cada vez mais restritivas à nossa “normalidade”, e para o desespero de cada homem e cada mulher, vai sendo cada vez maior, ao ponto de ser perder os caminhos que as autoridade de saúde dizem ser essenciais e, simplesmente, não os cumprindo, venham multas/coimas ou não. Já se discutem as ordens dos cientistas e epidemiologistas e pergunta, em tantos países, “porque os cabeleireiros não podem estar abertos e as igrejas para as missas podem”. Começa a não se confiar nos técnicos de saúde e a perder a paciência e quem está a cumprir deixa de cumprir, porque existem tantos que não cumprem. Os hospitais estão lotados e quase não existe resposta às exigências. As pandemias culturais e espirituais começam a originar “doenças” que se podem tornar muito graves. Cabe aos peritos na cultura e aos peritos na espiritualidade, uma atuação forte, de confiança e “vacinar” imediatamente estas “doenças”. As religiões – quaisquer que sejam – têm uma ação muito particular e uma responsabilidade tremenda. Cabe-nos, a nós, e refiro-me, em particular, às cristãs e aos cristãos, uma ação de oração persistente; se existem pessoas bem preparadas para enfrentar pandemias espirituais, quais serão, senão nós? Mas a oração a que me refiro, não é só a de “petição”, pedir a Deus que nos livre da pandemia que engendramos é quase “um negócio”, mas refiro-me à oração que nos coloca em atitude, como tenho dito, de ORA+AÇÃO, de levar a Esperança e a Fé aos nossos povos.
No seu livro “Recuperar la criación”, de Andrés Torres Queiruga, é citado São Tomás de Aquino que refere “Devemos rezar, não para informar Deus das nossas necessidades ou desejos, mas sim que nós mesmos sabemos de que nestas coisas precisamos da assistência divina”. Uma assistência na confiança de que Deus estará connosco na AÇÃO. Queiruga, no mesmo livro, dá o exemplo dos nossos pedidos: “Senhor, nós te pedimos que não exista fome na Etiópia” e a seguir: “Ouve-nos Senhor”. Esta é uma atitude de confiança em Deus, e para que Deus nos dê confiança para atuarmos, não é mais do que isso. Um dia os amigos de Jesus disseram-lhe está aqui uma multidão que tem fome e Jesus respondeu “Dai-lhes vós de comer”, e como eles não tinham confiança foi necessário que um dos que o ouviam lhe apresentasse o seu lanche, e a partir daí a confiança em Deus. “Pedi e dar-se-vos-á”, a Esperança a Confiança que Deus está connosco, e os problemas serão resolvidos, pela nossa ação, neste caso de urgência das “pandemias” espirituais.
Torna-se necessário não perder esta Confiança em Deus e transmiti-la por todos os caminhos e veredas. Urgente que quem ora, não esqueça a ação. Nós precisamos de Deus e Deus precisa de nós. O Salmo 16 (15) é cantado nesta confiança: “Protege-me, ó Deus, porque em ti confio. /Digo ao Senhor: Tu és o meu Deus, /és o meu bem e nada existe acima de ti./Quanto aos deuses que existem no país,/os poderosos, nos quais se compraziam/aqueles que multiplicam os seus ídolos/ e correm atrás deles,/ não tomarei parte nas suas libações de sangue,/ nem sequer pronunciarei os seus nomes./ Senhor minha herança e meu cálice,/a minha sorte está nas tuas mãos./Na partilha foram-me destinados lugares aprazíveis/ e é preciosa a herança que me coube./Bendirei o Senhor porque Ele me aconselha;/ até durante a noite a minha consciência me adverte./ Tenho sempre o Senhor diante dos meus olhos;/ com Ele a meu lado, jamais vacilarei./ Por isso, o meu coração se alegra/ e a minha alma exulta/ e o meu corpo repousará em segurança./ Pois Tu não me entregarás à morada dos mortos,/ nem deixarás o teu fiel conhecer a sepultura./ Hás de ensinar-me o caminho da vida,/saciar-me de alegria na tua
presença,/ e a teu lado terei eterna felicidade”. Este poema é uma canção a Deus, Nossa Herança e Fonte de Vida, e será a nossa Confiança no caminho tortuoso em que vivemos.
As Filhas e os Filhos de Deus nesta tormenta que passa, não podem deixar a oração, mas muito mais que isso deverão colocá-la em ação, serem transmissores das dores que o nosso povo sofre, e entender a mão da Confiança do Senhor, que se servirá para descomprimir o desespero espiritual que todas e todos estamos a sofrer. Não numa atitude prosélita, mas de conferir mais consciência que haveremos de ultrapassar juntos, esta pandemia. Compete a cada um de nós, sair a terreiro, irmanados com o salmo 16 e proclamar a nossa Confiança que vamos percorrer o “caminho da vida”. Deus quer, assim nós queiramos!
Joaquim Armindo
Pós-Doutorando em Teologia
Doutor em Ecologia e Saúde Ambiental
Diácono – Porto – Portugal