UM DISCURSO BEM EXPLICITO SOBRE O DIACONADO

Uma notícia que o jornal digital “Vida Nueva” nos dá, hoje, dia 2 de julho de 2021, e que ficará para a história de todos os cristãos e cristãs, seja de que tradição religiosa forem, informou que cinco indígenas do grupo étnico, do Equador, Kichwa, foram instituídos leitores e acólitos para servirem os seus povos. São o Rito, a Susana, o Flávio, o Juan e a Aurea, que falam Quichua; é esta a primeira vez desde séculos passados que duas mulheres são instituídas, o que representa um dos que se “sonhos que se realizam”, segundo o bispo do Vicariato de Puyo, e uma das conquistas do Sínodo Amazónico. Eles e elas podem agora Celebrar a Palavra, administrar Sacramentos e acompanhar o trabalho pastoral. Alguns deles já catequistas frequentaram formação especifica durante três anos, para estas instituições. Não só para a Igreja Católica Romana, mas para todos os cristãos é uma boa noticia, esperando, agora, pela próxima que será a ordenação diaconal, destes e destas muitos e muitas mais. A Igreja em movimento, a Igreja em caminho, a Igreja interpretando os sinais do Espírito do Senhor. Esta é a Igreja de Jesus, inclusiva e não discriminatória. Compete, de acordo com o aprovado pelo Vaticano, às igrejas particulares, estabelecer ou não estes ministérios, o que dá autonomia às Dioceses e às Conferências Episcopais respetivas – o que, diga-se -, estamos de acordo; agora que essa autonomia não seja usada para discriminar ou excluir ninguém. Esperamos, sinceramente, que todas as Dioceses do mundo aplaudam e estimulem estas instituições e, já agora, proponham, pelo menos, o acesso das mulheres ao diaconado, conforme o Sínodo da Amazónia pretendeu.
Mas o discurso bem explicito do bispo de Roma, papa Francisco, é aquele que fez com respeito ao diaconado, aquando da visita dos diáconos da Diocese de Roma, e que tomamos dirigido a todos os diáconos. Alegrando-se por um diácono ter sido nomeado diretor da Cáritas e a outro confiada uma igreja, de acordo, como sublinhou, “um antigo costume”, Francisco teceu considerações sobre o que pretende de um diácono; verdade que é uma opinião pessoal, mas não deixa de ser do bispo dos bispos, o que se traduz num discurso ao mundo e, concretamente, aos bispos diocesanos. Em algumas dioceses portuguesas seria impossível, dada a posição dos seus bispos e dos seus presbíteros, de estarem a retirar continuamente essa possibilidade aos diáconos, mais obstruindo a sua missão.
E refere que o diácono não deve cair na tentação do “clericalismo”, que tantas vezes diz ser uma chaga e um impedimento do Evangelho de Jesus. O diácono, refere, não está acima do Povo de Deus, na lógica da Igreja deve ser o oposto, estar numa lógica de “humilhação”, de não ser super de ninguém, mas amar para servir. E isso começa pelo Povo de Deus compreender que o diácono ou o clero “acima”, é o contrário de Jesus, porque o serviço é estar “abaixo”, aprendendo o Evangelho pela boca dos mais pobres e excluídos. Refere que: “Os diáconos nos lembram isso quando, como o diácono São Francisco, levam aos outros a proximidade de Deus sem se impor, servindo com humildade e alegria. A generosidade de um diácono que se doa sem olhar as primeiras filas cheira ao Evangelho, fala-nos da grandeza da humildade de Deus que dá o primeiro passo – sempre, Deus sempre dá o primeiro passo – para chegar até para aqueles a quem deram as costas.”
Com estas palavras percebemos o que a Igreja sente e quer de nós; não uma “guerra” com os presbíteros, mas a assunção de quem está mais apto a enfrentar o mundo, desde o nascimento à morte. Um bispo dizia um dia que o diácono deveria presidir a duas celebrações essenciais: batismo e funeral, dado o seu saber da vida. Acrescentaria o sacramento do matrimónio, não é um presbítero que sabe – em princípio -, o que é a vivência de um casal, mas o diácono sabe. Existem presbíteros que pensam ter o monopólio do casamento, mas não têm- eu digo, infelizmente-, mas o diácono sabe o que é o casamento, a mulher e os seus filhos, e aqui também Francisco falou!
Joaquim Armindo
Pós- Doutorando em Teologia
Doutor em Ecologia e Saúde Ambiental
Diácono – Porto – Portugal

 

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