OS DIÁCONOS NO ALTAR DA VIDA
Não seria de esperar outra coisa, de uma igreja onde pertencemos, e que é ao mesmo tempo santa e pecadora. Se em alguns países ou dioceses os diáconos foram bem-vindos após o Vaticano II, noutras é um ministério a condicionar e a abater. Terão pouca sorte os homens que no comando – poderes religiosos -, assim pensam, o Espírito do Senhor não deixará que assim seja. Não se trata aqui de dizer “bem ou mal, disto e daquilo”, tão só registar o que se vai passando em algumas dioceses, em várias partes do mundo. Existiram os bispos – sucessores dos apóstolos, e de acordo com a ordem da sucessão apostólica -, e como tivessem muito para fazer, chamaram homens e mulheres para que com eles e elas os ajudassem no “serviço das mesas”, do altar eucarístico de uma humanidade que necessitava de Jesus. Assim nasceu um ministério chamado de diácono, para estar ao serviço dos mais necessitados e excluídos, nesta grande mesa eucarística, de doação de Jesus aos homens e mulheres da Criação do Éden. Os diáconos que na igreja primitiva precederam os presbíteros, ou anciãos, continuaram a existir nas igrejas cristãs, até que o seu ministério foi interrompido e depois retomado na Igreja Católica Romana. Não sei se o apóstolo Paulo teria sido ordenado bispo, mas cremos que sim, até dada a sua presença no Concílio de Jerusalém.
Pelas suas caraterísticas os diáconos são homens – em algumas tradições, também mulheres -, que exercem um trabalho dito secular, e que dão vida a uma Igreja que pode ser enfadosamente não articulada com a vida quotidiana; a Igreja em saída é caraterística dos diáconos, dada a sua presença no altar da vida da humanidade. Pelo seu relacionamento social e experiência pessoal, são pedras fundamentais na construção diária da igreja. Não constituem pessoas sem conhecimentos cognitivos, mas aperfeiçoam estes com as suas vivências. Qualquer tentativa de os clericalizar será maléfica – bem, todo o clericalismo o é -, no referente aos poderes que sufocam a espiritualidade. Esta é mais uma caraterística do diaconado, porquanto fazem dos dias a espiritualidade e compreendem a afetividade em todas as suas nuances. Não são “pastores” inacabados, ou seja, pessoas, que só se colocam num patamar da vida. A espiritualidade sem afetividade é uma miragem, assim como qualquer homem ou mulher que coibam a sua afetividade dificilmente subirão o monte. Claro que existem exceções, que só confirmam o que é dito.
Reaparecidos os diáconos pós- Vaticano II, eles só tomam uma outra perspetiva assente pela falta de presbíteros. Embora não sendo o ministério diaconal dependente da existência ou não de presbíteros, de facto torna-se notório mais a sua exigência supletiva, embora não determinante, como ficou referido.
As práticas pastorais de algumas dioceses foram, no entanto, fortalecidas por este sopro existente no diácono – também ele com o sacerdócio comum dos fiéis -, muitas comunidades cristãs puderam ser (re)tomadas pelos diáconos, e, diga-se, com bons frutos. As suas competências pessoais arreigadas à pastoral e à espiritualidade, tornaram mais vivo o Evangelho do Senhor. Fez-se prática, o que tantas vezes é teórico, sem qualquer fundamento. Mais, não deram contratestemunho pelo facto de serem casados e com filhos, mas ficou-se a dever aos diáconos, verificar que é possível uma doação total a Jesus com a família. O contrário, que tantas vezes é defendido, torna-se não só uma impossibilidade de caminhada, mas uma falta de sensibilidade para os problemas humanos. Tão só porque os presbíteros que não constituem família, não possuem essa imperativa caminhada do género humano; sem pretender ofender quem quer que seja, estão amputados do diálogo de comunhão e, logo, menos disponíveis para os outros, ao contrário do que se possa pensar.
Existem práticas pastorais relativas aos diáconos em algumas dioceses, em Portugal é assim, em outros países, também o será, que, depois da ordenação em massa de diáconos, eles são ostracizados; a menos que se transformem em “correias de transmissão dos presbíteros”. O nosso povo, o Povo de Deus, necessita de diáconos no altar da comunhão eucarística, em comunidade, mas, fundamentalmente, no altar da comunhão eucarística da humanidade. E isso, é que Francisco quis enfatizar, quando falou em “retirar” os diáconos do altar. Há tantas pessoas que não sabem ler Francisco!
Não tenham medo senhores bispos cujas dioceses possuem diáconos. Eles só querem servir Jesus e proclamar o Evangelho, num ministério organizativo e sacramental da igreja. Não querem o vosso poder, nem o poder dos presbíteros, porque poder corrompe.
Joaquim Armindo
Diácono Porto – Portugal