O LEMA DOS JOGOS OLÍMPICOS

 

Uma notícia publicada no jornal Vida Nueva, último, focalizou a minha atenção nos jogos olímpicos que se realizarão em Tóquio, no corrente ano. Os jogos olímpicos têm sempre como lema “Citius, altius, fortius”, ou em linguagem que entendamos “Mais rápido, mais alto, mais forte”, criação do francês Henri Didon, amigo pessoal de Pierre de Coubertin. Acontece, porém, que numa sugestão do bispo de Roma e papa Francisco, foi adicionada a palavra “communiter”, que quer dizer “juntos”, companheiros, nesta caminhada independentemente, dos lugares que todos e todas querem ter: o ouro, a prata e o cobre. Fica assim o lema muito mais completo e identificável na amizade que deve existir entre os povos, mesmo no desporto: “Mais rápido, mais alto, mais forte, mais juntos”; “mais juntos” é “mais companheiros”, digo eu. Esta é uma forma do Estado do Vaticano, que não estará presente nos Jogos Olímpicos, só porque as suas equipas ainda estão em formação, e não possuem a “rodagem necessária”; aliás sabe-se que Francisco é um entusiasta do desporto e até vibra pelas suas equipas.
Por detrás de tudo isto está a encíclica “Fratelli Tutti”, um documento que mereceu os encómios de todo o mundo e todas as religiões, por isso mesmo a alteração ao lema, no sentido de introduzir a fraternidade em qualquer “competição” sejam quais forem aqueles e aquelas que conseguirem ser os “primeiros”. Até porque não é isso que muito interessa, pois, qualquer atleta que chegou em primeiro lugar, deve-o à existência dos segundos e terceiros e demais classificados, se não estivessem todos juntos, haveria um, que não poderia ser o “primeiro” dado não existirem os outros. Daí que qualquer atleta só pode ser “primeiro”, ou qualquer equipa, dado os outros, assim só com o clima fraternal se podem entender os jogos olímpicos, como qualquer competição. Aqui a competição é um lugar certo e evidente: só pode existir, existindo quem “perde”, quem não “perde”, antes o seu companheiro ou a sua equipa não chegou primeiro ou não marcou tantos golos. Sabemos que o desporto passou a ser um negócio oportunista, corrupto e para enriquecer alguns, mas sabemos, também, que é um exercício físico ecuménico, ou não é desporto.

Diz o padre Sánchez de Toca, do Pontifício Conselho da Cultura e COI, que estes jogos olímpicos podem ser uma bela resposta à pandemia se neles a fraternidade existir. Aliás, o mesmo sacerdote tem, em nome do Vaticano, distribuído verbas às equipas dos países mais pobres, para que possam estar presentes, com a dignidade que merece a condição humana. Por isso, defende, como o Vida Nueva publica, que a “religião oferece ao desposto vitaminas de valores”. São estas vitaminas que levam o choro de quem ganha ou quem perde, porque os dois choram, um de alegria e outro de tristeza, só os valores da fraternidade humana leva o consolo aos dois.

Assim, no desporto, todos todas somos interdependentes, dependemos para ganhar e dependemos para perder, palavras que nem deveriam existir no léxico desportivo; todos são companheiros e colaboradores, sem uns, não existem os outros, só na fraternidade podemos todos caminhar na direção certa dos “valores”.
Embora a sustentabilidade não seja só isso, também nos jogos olímpicos de Tóquio existirá uma busca da ecologia da sustentabilidade ambiental: é necessário evitar todos os desperdícios inúteis e mais um dado concreto na ecologia da sustentabilidade social, é que o número de mulheres será igual ao número de homens, não existe qualquer distorção neste domínio.

Os jogos serão fraternos e solidários se em cada momento se assistir a uma resposta conjunta, “juntos”, à interpelação ecuménica entre povos e nações, nas várias sociedades e na justiça e paz, serão uma forma de demonstrar a inclusão de todos com todos.

Tudo isto diz respeito à Igreja, e aos diáconos em particular, são eles afinal que estão juntos às populações.

 

Joaquim Armindo
Pós doutorando em Teologia
Doutor em Ecologia e Saúde Ambiental
Diácono – Porto – Portugal

 

 

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