MENSAGEM DA PRESIDÊNCIA DA CND PARA O DIA NACIONAL DA CONSCIÊNCIA NEGRA

A Presidência da Comissão Nacional dos Diáconos faz publicar a mensagem na comemoração do Dia Nacional da Consciência Negra e memória de Zumbi dos Palmares.

                                                                                COMISSÃO NACIONAL DOS DIÁCONOS (CND)

                                                                                     DIA NACIONAL DA CONSCIÊNCIA NEGRA

“Já não há judeu nem grego, nem escravo, nem livre, nem homem nem mulher, pois todos vós sois um em Cristo Jesus.» Gl 3,28.

A Presidência da Comissão Nacional dos Diáconos (CND) vem manifestar seu apoio e solidariedade às comemorações do DIA DA CONSCIÊNCIA NEGRA, celebrado neste dia 20 de novembro, por remeter ao assassinato de Zumbi, último líder negro do Quilombo dos Palmares, no ano de 1695. Um símbolo da luta em busca por justiça e valorização da vida do povo negro brasileiro.

Além de ser uma homenagem e reconhecimento da luta de Zumbi dos Palmares e seus companheiros no quilombo, o Dia da Consciência Negra é considerado importante no reconhecimento dos descendentes africanos e na construção da sociedade brasileira. A negritude está presente na arte, na música, na gastronomia e nas religiões de matrizes africanas praticadas no Brasil. Proporciona reflexão fundamental para evidenciar as desigualdades e violências contra a população negra ainda existentes em nossa sociedade. Para além de um momento festivo, a data proporciona a reflexão sobre o racismo e as suas implicações na atualidade.

Os diversos motivos sociológicos e culturais para explicar a situação de desigualdade enfrentada pela população negra no Brasil têm suas raízes no racismo. De acordo com o IBGE, 55,8% da população brasileira é negra.  O Brasil é o país com a maior população negra fora da África e o segundo com maior população no mundo.  De cada 100 pessoas assassinadas no Brasil, 71 são negras, conforme pesquisa de 2017. Um verdadeiro extermínio da população jovem negra, jovens negros são os que mais morrem no Brasil, vítima de violência ,o que revela um dado assustador.

Apesar de ter uma enorme população negra, quantas dessas pessoas são vistas em posições consideradas de poder na nossa sociedade? Quantos atores, atrizes, políticos, juízes, modelos, jornalistas, apresentadores, médicos, engenheiros, entre outras profissões com remunerações melhores são negros? E nas TVs — novelas, filmes, comerciais, quando os negros aparecem, são retratados em sua maioria com estereótipos negativos que reforçam preconceitos enraizados. Expressões usadas no cotidiano, como: “preto de alma branca”, “denegrir”, “neguinho fez isso ou aquilo”, “negra de traços finos”, “mulata tipo exportação”, “a coisa está preta”, “mercado negro”, “fazer nas coxas”, “serviço de preto”, “não sou tuas negas”, entre tantas outras. As práticas racistas são tão enraizadas que as pessoas sequer se dão conta de que estão contribuindo para a perpetuação do racismo.

A Consciência Negra evidencia na atualidade o que ainda existe, a desigualdade, a violência, o preconceito e o racismo. Ao lançarmos a luz nessa realidade a partir do evangelho, veremos que sobe aos céus, um grito por justiça. Podemos contemplar alguns versículos do Novo Testamento que fundamentam a igualdade entre os homens.  O próprio Cristo nos ensinou:  «. Tudo o que quereis que os homens vos façam, fazei-o vós a eles. Esta é a Lei e os profetas.»  Mt 7, 12. Também o Apóstolo São Paulo ensinou na Carta aos Gálatas: » porque todos sois filhos de Deus pela fé em Jesus Cristo. .Todos vós que fostes batizados em Cristo, vos revestistes de Cristo.  Já não há judeu nem grego, nem escravo nem livre, nem homem nem mulher, pois todos vós sois um em Cristo Jesus.»,  Gl 3, 26-28.

«Racismo, preconceito racial e qualquer tipo de discriminação e exclusão são terminantemente contra a proposta de Jesus Cristo e sua prática comunitária de inclusão e valorização do ser humano, principalmente dos mais pobres e sofridos; tal ideia é confirmada pelos evangelhos, pois eles “narram a proximidade de Jesus com as pessoas excluídas que se encontravam em situação miserável e injusta: pobres, crianças, pecadores, prostitutas, assaltantes, cobradores de impostos […] e mulheres. » (Brito Leandro, 2018)

  • Os papas, assim se pronunciam: «…devemos ajudar também a sociedade civil a superar toda a possível tentação de racismo, de intolerância e de exclusão» (Papa Bento XVI (28/08/2008)
  • Grave pecado individual e social, reafirmam a sacralidade da vida: «prevalece hoje a opinião de que todos os seres humanos são iguais entre si por dignidade de natureza. As discriminações raciais não encontram nenhuma justificação» (São João XXIII (PT,44) 
  • «… não podemos tolerar nem fechar os olhos diante de qualquer tipo de racismo ou de exclusão, e devemos defender a sacralidade de cada vida humana» (Papa Francisco (03/06/2020)

Lembramos das palavras de Dom Roberto Francisco – Bispo de Campos – RJ: «repudio com total determinação toda tentativa de desprezar ou inferiorizar qualquer ser humano em razão de cor de pele, raça, etnia, credo ou filosofia. Mas, não basta a indignação ou o protesto silencioso, torna-se necessário o testemunho inequívoco que desaprovamos e não permitimos comportamentos racistas, uma vez que ofendem a toda humanidade.»

Essas incômodas questões, devem encontrar uma significativa reflexão diaconal, é essencial pensar em como o racismo está presente no cotidiano da sociedade brasileira e no quanto é importante combatê-lo incessantemente. Nesse contexto uma escuta atenta pessoas negras para que possam expressar-se a partir do seu ponto de vista, tendo sempre respeitado o seu lugar de fala. Há ainda muito que se fazer para oferecer aos afro-brasileiros pleno acesso aos seus direitos humanos fundamentais, à liberdade de expressão e à igualdade racial. Para que ocorram significativas mudanças é necessário um esforço em conjunto dos seguimentos da sociedade civil e religiosas. Destacamos o apoio e engajamento dos diáconos junto a ação evangelização, espiritualidade, e promoção humana integral, que a Pastoral Afro-Brasileira se propõe a oferecer, como resposta da Igreja, contra o racismo estrutural que sustenta as injustiças sociais e culturais que continuam marginalizando o povo negro.

Que Mariama interceda por todos nós, para que superemos, qualquer atitude ou pensamento intolerante, racista e preconceituoso. Que Nossa Senhora Aparecida nos guie na diaconia em favor daqueles que Cristo se identificou.

Manaus (AM), 20 de novembro de 2021

Diácono Francisco Salvador Pontes Filho – Presidente da CND

cnd.org.br

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