Viver o diaconado é um privilégio

Em 26 de abril de 1992, o então Bispo do Porto, Arcebispo D. Júlio Tavares Rebimbas, ordenou os primeiros Diáconos (permanentes) da Diocese do Porto. Porque faço parte deste grupo inicial de diáconos, 28 anos depois, ponderei escrever este simples testemunho. Nas circunstâncias atuais da vida da Igreja e a situação de crise mundial – provocada por uma mais que previsível crise económica e pelo aparecimento de uma nova pandemia a que chamam “Covid 19” – são urgentes sinais concretos de esperança.

Como diácono, acompanhei situações dramáticas provocadas pela anterior crise (o tristemente célebre “tempo da troica”). Não poderei nunca esquecer que a grande maioria destas situações dramáticas que acompanhei era a pobreza escondida que atingiu sobretudo casais jovens. Esta pobreza continua…

Um dos serviços que prestei à Diocese do Porto foi como jornalista, no semanário diocesano. Foi-me confiada uma coluna da página eclesial, que titulei “A fé dos simples”. Uma boa parte destes textos estão em livro (“A fé dos simples”, “Desafios de Deus”, “Encontros que mudaram tudo”). A reação das pessoas a estes artigos abriram-me os olhos para outra espécie de pobreza: tanta gente carente duma palavra de alento e de estímulo para que não desistam de viver. Esta “pobreza” caracteriza-se também na necessidade de tanta gente que precisa de ser ouvida, abraçada, que precisa que alguém lhes diga: “Deus ama-te”.

Os meus artigos retratavam situações reais, em era sempre deixada a certeza que Deus não abandona ninguém, não desiste de ninguém, e que, por maiores que sejam as dificuldades, há sempre uma saída.

Estas experiências, ao longo destes 28 anos, foram-me confirmando o que sempre pensei: o diaconado é imprescindível na vida da Igreja. Acho mesmo que se insere, ou é mesmo o rosto visível da diaconia da Igreja. Entendo que viver o diaconado é um privilégio, sobretudo através da mesa do amor fraterno. Esta liturgia – a do amor fraterno – não tem a visibilidade da outra Liturgia – também necessária e como consequência da primeira.

Cada vez mais me convenço que os Apóstolos ao criar o “serviço das mesas” – o diaconado – tinham em mente dar aos homens este sinal da Caridade, ou, dito de outra forma, traduzir em gestos de amor fraterno o amor infinito de Deus pelos homens, em especial os mais pobres, os doentes, os que não têm esperança, os que não têm trabalho, os que não têm pão sobre a mesa.

Muito mais que presidir a funerais ou batizados, de usar uma dalmática muito bonita na Missa, no mundo de hoje e nas circunstâncias atuais, ao diácono devem-lhe ser confiadas como absolutamente prioritárias as mesas da Palavra e da Caridade.

Este trabalho específico do diácono implica um apoio muito grande do Bispo diocesano, uma atenção particular do delegado episcopal e duas coisas que não podem falhar: formação e oração. Estes suportes da ação do diácono precisam de ser muito consolidados.

Diác. António Jesus Ferreira Cunha

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