VIOLÊNCIA

Diácono Antonio Heliton Alves (1)

A publicação do 11º Anuário Brasileiro de Segurança Pública e do Mapa da Violência (2015-2016) expõe a situação da segurança pública em nosso País. No ano de 2016 aconteceram 61.619 mortes violentas intencionais, numa média de quase 169 pessoas assassinadas por dia (7, a cada hora).  Equivale a um avião de passageiros lotado, caindo. Mas, como são mortes no varejo, não se tem a noção da sua amplitude e não chama a atenção, exceto quando se apresentam as estatísticas.

É uma verdadeira tragédia para um país que não está em guerra, nem externa, nem interna. Contribui para isso a impunidade e a falta de ação (omissão) do poder público que deixa entregue espaços da cidade, especialmente a periferia, a grupos armados e a toda a sorte de violência.

Atribui-se ao tráfico em suas mais variadas formas (drogas, armas, pessoas) a responsabilidade do maior número de assassinatos, especialmente de jovens entre 16 e 24 anos.

No entanto, os dados mostram que um número significativo de homicídios também são cometidos por motivos fúteis, como ciúmes, desavença entre vizinhos, brigas de trânsito e outros conflitos (de gênero, de fundo religioso, de minorias excluídas, de orientação sexual, etc.)

Os homicídios não são a única forma de violência. Os sequestros, os estupros, a violência doméstica são também uma preocupação direta e imediata.

É fundamental o estabelecimento de políticas públicas que visem proteger aqueles que vivem na extrema vulnerabilidade social, retirando-os de situações que facilmente tenderiam para a criminalidade. É uma questão social que exige a participação mais ampla de todos os cidadãos. A busca de solução não passa apenas pelo encarceramento daqueles que cometeram crime. O Brasil tem uma população carcerária que supera os 700.000 apenados! É necessário um processo educacional, calcados nos valores fundamentais da convivência humana, da ética, da justiça, da família, complementado pelo sistema formal de educação.

O desrespeito à dignidade das pessoas e dos direitos humanos, bem como o esgarçamento dos valores culturais, sociais, familiares, religiosos, éticos e morais, com toda certeza, refletem no atual estágio da (in)segurança pública.

Esta situação evidencia uma crise civilizatória grave, caracterizada pelo desequilíbrio ecológico, divisão social, migração em massa, desemprego, intolerância. Os valores que norteiam a sociedade já não mais dão conta de responder a essas demandas, exigindo dos homens e mulheres um sentido de urgência e mobilização para o imperativo ético da mudança de atitude que precisamos ter em face à destruição da vida abundante com que Deus agraciou o planeta, especialmente a vida humana.

A civilização ocidental, construída sobre o tripé dos valores da filosofia grega; do direito, tendo por base o direito romano; e da herança religiosa judaico-cristã, parece estar no limite de seu esgotamento. Há que se resgatar valores como o da solidariedade, humanizando as relações e a convivência e impregnando a sociedade com os valores do Evangelho.

Mais do que oportuna a Campanha da Fraternidade 2018, com o tema “Fraternidade e Superação da Violência”, e o lema «Em Cristo somos todos irmãos» (Mt, 23, 8). É uma reflexão que busca tematizar a questão da violência, oferecendo subsídios para a reflexão da comunidade cristã e das pessoas de boa vontade, bem como sugestões de ações concretas, visando a superação da violência em todas as suas formas.

A proposta da Igreja é para a construção de uma cultura de paz que nasce na família, se expande para a comunidade e para toda a sociedade, à qual ninguém pode se furtar de participar. Há que se recuperar a compreensão de que o outro é irmão, parceiro, companheiro, colaborador e não inimigo, ameaça, de quem devo me afastar. Somos todos filhos do mesmo Pai Celeste, pertencemos à mesma humanidade e, portanto, “todos irmãos”.


(1) O autor é Bacharel em Administração, Mestre em Teologia Sistemática, área de concentração e pesquisa em Doutrina Social da Igreja. Diácono Permanente na Diocese de Osório (RS) e Secretário da Comissão Nacional dos Diáconos (CND).

Tomado de: cnd.org.br

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