Num livro, agora publicado, sob o título “Terra-Futura”, o bispo de Roma, papa Francisco, encaminha-se, mais uma vez, para o nosso relacionamento com a Terra Mãe e de uns com os outros. Nada diz que não já saibamos pelos livros bíblicos, mas rompe com a posição da igreja católica romana que impôs regras e preconceitos àquilo que Deus criou, e que podem, ser empecilhos à obra de Deus e de que nós somos concriadores. A Teologia da Criação não impede ninguém de querer alimentar-se o melhor possível, sem delapidar os recursos da Terra Mãe, assim como não impede qualquer ser humano de amar o outro sexualmente (Teología de la creación – Ruiz de la Peña). O poema épico que traduz ao povo hebreu, e a nós, a forma como Deus criou os céus e a terra, as águas de cima e de baixo, isto é, tudo criou e viu que era bom. Também, criou o género humano e viu que era bom. No segundo relato da Criação, capítulo 2, do livro de Génesis, e proveniente de outra fonte, Deus cria tudo e o homem e a mulher e refere a reprodução de mais homens e mulheres, o que já anteriormente tinha feito para as plantas e os animais. Ele a nada diz que é “mau”, mas que tudo é “bom”. Desde que aí não se introduza o “pecado”, no texto a questão da maçã, ou seja, se delapide o que se criou – pecado original originado -, e esse pecado se dirija às gerações futuras – pecado original originante. Estamos em pecado não por amar – porque é bom – Deus o disse -, mas por não-amar – porque é mau, Deus o disse.
O bispo de Roma, papa Francisco, na entrevista dada e publicada em livro, refere que “Os prazeres chegam-nos diretamente de Deus, não são católicos [romanos] ou cristãos, ou outra coisa qualquer. São simplesmente divinos” e a seguir: “A Igreja condenou o prazer vulgar, desumano, bruto, mas, por outro lado, sempre aceitou o prazer humano, simples, moral” e afirma, para desencanto dos fazedores de direitos canónicos, avessos à Criação, que os prazeres do sexo ou de uma refeição, são divinos e foram injustamente vítimas do excesso do zelo da Igreja no passado. Porque, diz: “Os prazeres de comer e do sexo vêm de Deus” e qualquer visão oposta é prejudicial e é sentida em alguns casos no momento presente.
Não tendo as palavras de Francisco nada de novo, como se depreende de qualquer texto bíblico, elas constituem, porém, a correção de uma visão que a Igreja Católica Romana tinha e tem, principalmente, sobre a sexualidade e do que comemos. Embora comer um bom bife, regado por um bom vinho, seja apanágio do clero da Igreja, até acompanhado pelos bons licores e bolos saborosos que as “criadas” – freiras – dos mosteiros fazem, seja muito agradável, nesta mensagem de Francisco, a questão da sexualidade é muito complexa, para mentes distorcidas e enquadradas pelos efeitos de “seminários-fora-de-uso” e sustentadas em leis e leizinhas, tantas fora do único mandamento de Jesus: “Amar a Deus e ao Próximo”.
Mas, também, é necessário enquadrar as palavras de Francisco, quando se refere à alimentação, às refeições, ele está a falar em “refeições saudáveis”, bem preparadas e que não ofendam esta Ecologia – diálogo -, com o resto da Criação. Porque se ofenderem não é senão pecado, porque está isenta de Amor. Não estou a fazer mais leis, mas a atender ao princípio criador de Deus. Quando estas refeições são feitas com fertilizantes que contaminam os rios, as florestas, os montes, as árvores e por aí fora, contaminando também os homens e as mulheres, constituem um não- Amor, e, sim, aí ofendem o nosso Criador e constituem pandemias, geradoras de efeitos contrários á vivência dos seres humanos e da Criação no seu conjunto. Nem se ama a Deus, nem ao Próximo. Não é um prazer divino, nem provém de Deus, mas de nós, atarefados pela economia e desigualdade entre o género humano e a restante Criação.
Sempre a Igreja Católica Romana se tem referido, indevidamente, ao pecado original, como sendo as relações sexuais. Ora, Francisco, aqui, dá um tremendo safanão às diretivas emanadas pelo clero, dizendo que é um prazer divino. Se o é – e sei que é -, muito tem de mudar na Igreja Católica Romana, inclusive a obrigatoriedade do celibato. Se assim não for, teremos de intuir que existe um prazer divino – a sexualidade -, que está vedada ao clero, exceto ao diaconado. E não será isso pecaminoso?
Duas questões de que já não pode refletir-se muito, mas atuar no sentido de “refeições saudáveis” e “sexualidade”, serem prazeres divinos. Isto traz muitas alterações nas leizitas dos Códigos de Direito Canónico e outras orientações de tantos cardeais, como Robert Sarah.
Joaquim Armindo
Diácono – Porto – Portugal
Doutor em Ecologia e Saúde Ambiental
Pós- Doutorando em Teologia