NÃO PENSEMOS POR ELES, PENSEMOS COM ELES

NÃO PENSEMOS POR ELES, PENSEMOS COM ELES

Esta explicita e linda frase que coloquei no título deste artigo não é da minha autoria, mas do bispo de Roma, papa Francisco. Afirmou isso na vide mensagem enviada ao evento “A economia de Francisco”, em 21 de novembro do ano passado, referindo-se aos excluídos e injustiçados, que nunca têm vez, nem voz. E quando a têm falam por si, aqueles que estão a pensar por eles, e não a pensar com eles, por isso a frase constitui uma perfeita constituição daquilo que deverá ser a igreja, uma igreja sinodal, ao serviço e à escuta de todos e todas que constituem a humanidade. Francisco abre a sua participação dizendo qual o sentido de sinodal e fraternal. Não de cima para baixo, mas de baixo para cima, e em baixo se encontram todos, os de baixo e os de cima. A Fraternidade que o bispo de Roma, Bergoglio, aqui espelha é o serviço e não o poder, o ouvir e decidir com “eles”, ou seja, com todos aqueles que não estão no “topo”.
Há alguns dias a Conferência Episcopal Portuguesa (CEP), aprovou o documento “O Diácono Permanente – Ministro do Serviço e da Proximidade”, que vem colmatar uma falha no edifico da (re) construção do chamado “Diaconado Permanente”. Este documento havia sido objeto de longa reflexão pelos bispos portugueses e enviado aos responsáveis diocesanos de Portugal – os designados Delegados Episcopais para o Diaconado Permanente, em Portugal este lugar não é desempenhado por nenhum diácono -, para reflexão e posterior envio ao bispo da CEP responsável pelo diaconado permanente. Objeto dessa reflexão, com muito pouco tempo, refira-se, por grupos formados na Diocese do Porto – via ZOOM -, de entre uns 30% dos diáconos ordenados no Porto. Da reflexão de cada grupo o secretário designado enviou ao Delegado Episcopal as propostas de alteração, que as reviu e coligiu num único documento e enviou para a CEP. Esta, como escrevi, compilou definitivamente o documento final, que aprovou e de que os diáconos permanentes ainda não sabem o resultado. Aliás, diga-se que o documento final enviado pelo Delegado Episcopal também não foi dado a conhecer aos diáconos.
A estrutura em Portugal do diaconado permanente é diferente dos vários países, enquanto em alguns existem “associações”, que marcam a agenda dos trabalhos, das preocupações e do caminho do diaconado permanente, em Portugal não existem. Um bispo é encarregue disso ao nível da CEP, marca um encontro anual e sua agenda, ouvindo, digo eu, certamente os Delegados Episcopais, que não são diáconos. Na Diocese do Porto existe um Delegado Episcopal, cónego, que com o bispo decide do ano pastoral do diácono, sua formação permanente, os temas e marca o encontro diocesano – infelizmente pouco participado -, e aquilo que lá se irá discutir. Existe uma pequena equipa do Delegado Episcopal e dois diáconos – nomeados pelo bispo do Porto -, para assessorarem aquele, no que diz respeito à formação de novos diáconos. E assim funciona o diaconado na Diocese do Porto. Não estou a fazer qualquer juízo de valor, só escrevo factos, e por isso titulei este artigo com uma frase de Francisco.
Em síntese o pré-documento de que se realizou a análise, foi, de acordo com a opinião do grupo a que pertenci, objeto de algumas observações, que não sabemos depois se foram comtempladas. Assim, pareceu que a feitura do documento esteve mais preocupada com o “Magistério e o Direito Canónico”, do que em três princípios fundamentais: a Palavra de Deus, a Tradição e a Razão, os fundamentos cultuais e culturais dos tempos de hoje e não numa objetividade de qual é a missão da Igreja dos tempos atuais e da proclamação do Evangelho, que os sinais da Humanidade nos ensinam a (re)ler, embora se refira nele essa preocupação.
A restauração do diaconado permanente, quer na Diocese do Porto, quer no todo da igreja católica romana – dado que em outras tradições cristãs, não existiu interregno -, pressupõe a necessidade do carisma especial que tem para a igreja este ministério, o que é reconhecido no documento, mas adianta-se que no momento histórico que vivemos o diaconado pode, e deve, assumir funções de várias naturezas, normalmente atribuídas aos presbíteros, dada a sua escassez e o aumento exponencial em todo o mundo do diaconado permanente. Isso requer que todos os ministérios se respeitem e façam “sinodalidade paroquial e diocesana”, sem isso não há, por mais que queiramos, igreja que “pensa com eles”.
O documento – talvez por ser o primeiro, creio -, não especifica tantas outras coisas, como uma atitude de largueza de visão da dimensão espiritual do diácono, do celibato ou, até, da ordenação de mulheres diaconas, entre muitos outras questões sujeitas ao diálogo. Esperemos que o documento final, que irá ser, creio, analisado no dia vinte do corrente mês, possa conter a expressão de Francisco: “Não pensemos por ele, pensemos com eles”. Disso daremos informação em próximo artigo.
Joaquim Armindo
Pós-doutorando em Teologia
Doutor em Ecologia e Saúde Ambiental
Diácono – Porto – Portugal

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