Nos últimos tempos temos assistido a uma movimentação de mulheres que só querem servir o Senhor Jesus. Não é só o seu direito de receber a Graça do Sacramento do Diaconado, mas de quem tem palavras sábias para dizer. O que lemos – e não podemos ignorar -, é que no exemplo das mulheres alemãs a sua movimentação é mais que o diaconado. Atinge os poderes dos homens de em tudo serem comandos infalíveis. Elas tomam atitudes que poderemos discordar, como muitos discordaram ao tempo dos profetas, um por andar nu, outro por ter uma canga de bois sobre o seu pescoço. Que diríamos se estas mulheres aparecessem todas nuas, numa das nossas praças, chamando a atenção para a profecia de que um dia vão ter participação ativa na Igreja? Que diríamos se estas mulheres aparecessem de canga no pescoço, porque os poderes religiosos não as aceitam como seres humanos? Que estavam doidas? Também os profetas estavam, mas o Espírito do Senhor soprava sobre eles. Na Alemanha foram mais comedidas, menos fraturantes, estavam vestidas, ora cantavam, ora as suas bocas apareciam tapadas com fitas, denunciando que a hierarquia da Igreja as orienta para um silêncio, mesmo quando o Espírito do Senhor sopra sobre elas.
Um dos primeiros lamentos destas mulheres é que não podem ser ordenadas, podem trabalhar, podem ler, mas não podem receber a Graça da Ordenação Diaconal. E porquê? As perguntas apresentam-se hoje como um sinal de interesse integral. Porquê? Porquê? Não descendem de Adão e Eva, como no mito da criação do mundo nos é narrado? Uma negativa da não ordenação das mulheres como diáconos, pode ser sustentada em três razões: a Palavra, a Tradição e a Razão.
Na Palavra de Deus – a Bíblia -, não encontramos nenhuma razão para a não ordenação de mulheres ao diaconado. A Bíblia apresenta-nos mulheres em ação, mesmo no tempo em que elas eram tratadas como seres iguais aos animais. Era um tempo e um espaço histórico, com as regras das sociedades que geravam leis por tudo, só o povo hebreu contava com centenas de proibições, sobre tudo e sobre nada. Hoje não as compreendemos, naquele tempo compreendia-se. Quantas mulheres salvaram o povo de Israel dos inimigos? Não têm conta. Jesus foi falar com a samaritana, contrariando todas as regras estabelecidas pelo “bom senso”. Jesus apareceu a mulheres quando ressurgiu, e isso significa um reconhecimento de que elas nunca o deixaram, ao contrário dos seus amigos que se refugiaram. Não conheço nada que seja obstáculo na Palavra de Deus, universalmente reconhecida, que impeça a ordenação das mulheres ao diaconado.
Na Tradição da Igreja. Nos primeiros tempos da igreja de Jesus as mulheres tinham uma participação ativíssima, sendo ordenadas como os homens. Quando Jesus disse “a quem perdoardes os pecados, serão perdoados…”, quantas mulheres estavam naquele sítio? Na última ceia, para além dos doze, não sabemos se estavam mulheres, mas é quase certo que estariam. Está provada a ordenação de mulheres nos primeiros tempos do cristianismo e o exercício da atividade pastoral. Outras tradições religiosas que não a católica-romana, com sucessão apostólica, ordenam mulheres, reconhecendo assim o seu papel decisivo para a Igreja de Jesus. As imposições posteriores do catolicismo romano vieram impedir a sua ordenação, mas isso não constitui a Tradição da Igreja. Constituem determinações de nos seus tempos, por razões, tantas vezes que a razão desconhece, tal foi proibido. Não conheço nada na Tradição da Igreja que impeça as mulheres de serem ordenadas diáconos.
Na Razão. Estamos em tempo em que se luta pela igualdade de direitos e deveres das mulheres em todos os domínios. Constitui flagrante contradição entre a sociedade e a igreja, prescindir da capacidade e tenacidade das mulheres. Não existem, nas sociedades desenvolvidas, qualquer referência à superioridade dos homens sobre as mulheres. Todos os cargos na sociedade podem ser preenchidos por mulheres ou homens. Mais, usam-se instrumentos sociais, para uma igualdade de mulheres e homens. Então, como é que a nossa Igreja de Jesus – que veio libertar todo o género humano -, tem razão para colocar obstáculos à ordenação das mulheres ao diaconado. Seria para o diaconado uma bênção do Senhor possuir mulheres no seu seio, que dariam, sem dúvida, uma outra dinâmica positiva, nos três eixos fundamentais no diaconado. Então na Caridade e no Amor teríamos testemunhos vivos de como é que se ama e se perdoa. Não conheço nada na Razão que impeça as mulheres de serem ordenadas diáconos.
As mulheres diáconos são um sinal dos tempos, que Jesus sempre escutou. Estaremos nós, diáconos homens, a ouvi-lo?
Joaquim Armindo
Diácono da Diocese do Porto – Portugal