Homilia do Cardeal-Patriarca de Lisboa na celebração da ordenação de Presbíteros e Diáconos

Homilia do Cardeal-Patriarca de Lisboa
na celebração da ordenação de Presbíteros e Diáconos

+ José da Cruz Policarpo, Cardeal-Patriarca de Lisboa
Mosteiro dos Jerónimos, Portugal, 27 de Junho de 2010
www.agencia.ecclesia.pt
 
1. Ordenar Presbíteros e Diáconos é uma expressão da graça que foi, para toda a Igreja, o Ano Sacerdotal, solenemente encerrado em Roma pelo Papa Bento XVI. Não estamos a encerrar o Ano Sacerdotal; estamos, sim, a iniciar um tempo novo em que, em Igreja, havemos de continuar a aprofundar o dom maravilhoso do sacerdócio, sendo fiéis às graças e interpelações que nos foram dadas durante este Ano. O sacerdócio apostólico é para a Igreja, é dom de Jesus Cristo à sua Igreja, para que possa, toda ela, ser Povo Sacerdotal, oferecer, em comunhão com Jesus Cristo, o sacrifício pascal da redenção. Vós, queridos ordinandos, sereis sacerdotes de Jesus Cristo para a Igreja, sereis a expressão do seu amor de esposo pela Igreja sua esposa.

Porque considero que estamos a começar um tempo novo, de fidelidade renovada, quero dizer à Igreja de Lisboa, a vós queridas irmãs e irmãos, o que nós os sacerdotes, o presbitério de Lisboa, queremos ser para vós. Conhecemos a nossa fragilidade, mas acreditamos que o amor de Cristo, que é o dom do seu Espírito, nos fortalecerá e transformará o nosso coração, ensinando-nos a ser sacramentos do seu amor redentor.

2. Em primeiro lugar, queremos entregar toda a nossa vida, tudo o que somos e temos, a este ministério de amor, como Eliseu matou os bois e queimou o arado, para seguir Elias, o profeta de Deus. Queremos tomar a sério a exigência de Jesus: “Quem tiver lançado as mãos ao arado e olhar para trás não serve para o Reino de Deus” (Lc. 9,62). Somos poucos, mas completamente disponíveis seremos mais. Esta entrega total será, para nós, a conquista da verdadeira liberdade, como escutámos, há pouco, do Apóstolo Paulo: “Foi para a verdadeira liberdade que Cristo nos libertou” (Gal. 5,1).

Queridos Padres e Ordinandos, não tenhais medo do despojamento total por causa do vosso ministério. Essa é condição para seguir Jesus que confessa acerca de Si próprio: “As raposas têm as suas tocas e as aves dos céus os seus ninhos; mas o Filho do Homem não tem onde reclinar a cabeça” (Lc. 9,58). Jesus tinha a certeza que o Pai não O abandonaria, solicitude expressa àqueles e àquelas que serviam Jesus, O acompanhavam e cuidavam d’Ele. Nós também sabemos que as comunidades cristãs, na sua solicitude de ternura, cuidam daqueles que se lhe entregam sem limites.

3. Esta radicalidade do dom de nós mesmos só pode ser uma expressão de amor, do nosso amor a Jesus Cristo e à Igreja. Somos celibatários mas temos a Igreja como esposa, a mesma de Jesus Cristo. Não lhe regatearemos a ternura e a total entrega de nós mesmos. Queremos que o nosso amor por vós, queridos irmãos e irmãs, seja profundamente esponsal, porque quer ser expressão do próprio amor de Jesus Cristo. Cultivaremos a bondade e a tolerância. Não faremos como aqueles discípulos que queriam logo abrasar com fogo a falta de acolhimento dos samaritanos. Queremos ter por vós a solicitude do Bom Pastor, na disponibilidade para acolher, numa atenção privilegiada aos que sofrem, no corpo e no espírito, e a todos os que procuram, por vezes angustiosamente, respostas para as interrogações que a vida lhes põe. Queremos que ocupeis o primeiro lugar na nossa vida, dando-vos prioridade às estruturas e organizações, que só têm razão de ser se forem expressão dessa solicitude amorosa.

Queremos ser focos de comunhão, para que toda a Igreja seja comunhão: na família, na catequese, nas associações de fiéis, mas sobretudo em cada Eucaristia celebrada como Povo Sacerdotal. Mas, queridos Padres e Ordinandos, para sermos focos de comunhão para toda a Igreja, temos de procurar a comunhão entre nós, como presbitério, amando-nos uns aos outros, vencendo tensões e diferenças, percebendo que só o amor realiza a unidade na Igreja. O Santo Padre pediu-nos isso, recentemente, em Fátima: “Amados irmãos sacerdotes, neste lugar que Maria fez tão especial, tendo diante dos olhos a sua vocação de discípula fiel de seu Filho Jesus desde a sua conceição até à Cruz e depois no caminho da Igreja nascente, considerai a graça inaudita do vosso sacerdócio. A fidelidade à própria vocação exige coragem e confiança, mas o Senhor quer também que saibais unir as vossas forças; sede solícitos uns pelos outros, sustentando-vos fraternalmente. Os momentos de oração e estudo em comum, de partilha das exigências da vida e trabalho sacerdotal são uma parte necessária da vossa vida. Como é maravilhoso quando vos acolheis uns aos outros nas vossas casas, com a paz de Cristo nos vossos corações! Como é importante que vos ajudeis mutuamente por meio da oração e com conselhos e discernimentos úteis! Particular atenção vos devem merecer as situações de um certo esmorecimento dos ideais sacerdotais ou a dedicação a actividades que não concordem integralmente com o que é próprio de um ministro de Jesus Cristo. Então é hora de assumir, juntamente com o calor da fraternidade, a atitude firme do irmão que ajuda seu irmão a manter-se de pé”.

4. Queremos ser para vós, queridos irmãos e irmãs, arautos incansáveis da verdade, não da nossa verdade mas do Evangelho de Jesus Cristo. O anúncio da verdade é expressão da caridade. “Caridade na verdade”, resumiu Bento XVI na sua última Encíclica. Só a caridade nos conduz à verdade; mas esta desafia o nosso amor humano a ser expressão da exigência da verdade de Deus. Não espereis que vos anunciemos as verdades como gostaríeis de as ouvir. Teremos para vós e para connosco a exigência da verdade de Deus. Não queremos ser a fonte da Verdade, mas apenas servidores da Verdade.

Neste nosso serviço à Palavra da Verdade, que é expressão da caridade, contamos com o contributo precioso dos nossos irmãos Diáconos, a quem saúdo neste momento. Sereis ordenados, não para o sacerdócio, mas para o ministério, isto é, para o serviço da Palavra, na caridade.

5. Irmãos e irmãs. No início deste tempo novo, motivado pela graça do Ano Sacerdotal, disse-vos o que nós, os sacerdotes, queremos ser para vós. Permiti que termine dizendo-vos, a vós e a toda a Igreja de Lisboa o que desejamos que vós sejais, connosco, para o Senhor e para o mundo em que viveis. Reconhecei-vos na vossa dignidade de Povo Sacerdotal, em cada Eucaristia que celebrais, que vos convidará a fazer de toda a vossa vida uma oferta a Deus, Trindade de Amor. Em cada Eucaristia, sereis, connosco, Povo Sacerdotal, o que só é poss&iacut
e;vel porque Cristo preside à nossa oferta através dos que receberam o sacerdócio apostólico. Esta qualidade sacerdotal é o laço mais forte a unir os sacerdotes e o Povo de Deus.

E sede, em tudo, focos de comunhão. Só o amor salvará o mundo. Amai os vossos irmãos, pois a força do vosso amor revelar-lhes-á o amor com que são amados por Deus, na pessoa do Seu Filho Jesus Cristo.

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