XII DOMINGO DO TEMPO COMUM A

MISSA DAS ORDENAÇÕES DE DIÁCONOS E PRESBÍTEROS

 

Caríssimos irmãos e irmãs!

Há muito tempo que não vivíamos um dia tão grande e tão feliz como este. O dom de 18 diáconos e dois presbíteros para o serviço da Igreja faz-nos exultar no Senhor e refazer a fé e a confiança no seu amor. O Senhor visitou o Seu Povo, veio ao seu encontro e agraciou-nos com um gesto de carinho, que ultrapassa infinitamente as nossas capacidades humanas. Resta-nos agradecer na oração e na entrega generosa da nossa vida ao serviço do anúncio do Seu Evangelho e da edificação da Sua Igreja.

O Povo de Deus clamou ao Senhor e Ele ouviu a sua voz. Percorrendo os mais variados recantos da Diocese, sou testemunha da dor das comunidades cristãs que sentem a falta de pastores para o anúncio do Evangelho, para a congregação dos fiéis e para a celebração dos sacramentos, especialmente a Eucaristia e a Penitência. Tenho encontrado muitos fiéis de todas as condições e idades que têm a causa das vocações tão entranhada nos seus corações, que nunca deixam de rezar por elas, confiantes na resposta que o Senhor dará para a salvação do Seu Povo. Pois a resposta de Deus aí está.

Os diáconos e presbíteros que hoje recebem o Sacramento da Ordem são a resposta de Deus a esta Igreja orante. No santuário mais íntimo de cada pessoa que reza, no santuário de cada família que vive a fé, no santuário de cada comunidade cristã que se une para louvar o Senhor e evangelizar e no santuário de oração pelas vocações, a Igreja de S. Tiago, na cidade de Coimbra, são muitos os irmãos e irmãs que elevam a Deus as suas preces, com as palavras, com o silêncio e com o coração. O Senhor ouviu a sua voz; ouviu a voz dos pobres que lhe confiaram a sua causa, segundo a expressão da Primeira Leitura, e quis dar-lhes um sinal inequívoco de que salva sempre a vida dos pobres. Louvado seja o Senhor!

 

O texto do Evangelho de S. Mateus que escutámos vem claramente ao encontro da Igreja do nosso tempo, frequentemente marcada por muitos medos, a começar pelo medo de ser ignorada, rejeitada ou perseguida. As mudanças na sociedade, na cultura, na adesão à fé e nas suas expressões, deixaram muitas pessoas e comunidades pouco confiantes e, por vezes, até mesmo sem ânimo. Quando ficamos débeis na fé e confiamos mais no poder da nossa organização humana do que no poder de Deus, facilmente desanimamos; quando deixamos em segundo plano a dimensão sobrenatural da comunidade cristã e sobrevalorizamos a realidade sociológica da Igreja, deparamo-nos com a debilidade dos projetos; quando nos centramos em nós, assumindo-nos como os protagonistas da edificação da comunidade, e não em Deus, o verdadeiro construtor, vemos se a obra ruir.

“Não tenhais medo dos homens”, foi a palavra de Jesus, plenamente portadora de ânimo, fundado na fé e na confiança n’Aquele que sempre nos visita e acompanha os nossos passos de peregrinos. Não tenhais medo, porque Ele cuida de vós, cuida das comunidades, cuida do seu povo e não deixará de apresentar-vos a vós e às vossas necessidades diante do Pai que está nos Céus.

“Não temais os que matam o corpo” foi outra palavra de Jesus, que nos ajuda a considerar se as nossas preocupações do tempo presente nascem de uma autêntica fé em Deus e na Igreja ou se, porventura, estão pervertidas por uma visão demasiado humana e terrena.

A Igreja, em cada uma das suas comunidades, em cada um dos seus membros e em cada um dos seus projetos, tem um caminho a seguir, que passa pela confiança em Deus que, por meio do Seu Espírito, a conduzirá a cumprir a sua missão. Estamos numa fase da história que nos pede uma grande conversão a Deus, no sentido da profundidade da fé, mas também uma grande conversão do nosso modo de sermos Igreja, no sentido de nos deixarmos conduzir pelo Espírito Santo.

Neste sentido, quando avaliamos a nossa vida e a vida das comunidades, chegamos, porventura, à conclusão de que somos uma Igreja que trabalha muito e reza pouco; de que nos incentivamos muito à ação e pouco à oração; de que investimos mais forças na dimensão estrutural do que na caminhada espiritual.

Neste dia solene e festivo para a Diocese, peço-vos, caríssimos irmãos e irmãs, sacerdotes, consagrados e leigos, que nos centremos na construção de comunidades mais enraizadas em Cristo e mais alicerçadas no Espírito Santo, Aquele que, em verdade, santifica a Igreja. Que os nossos planos privilegiem a pastoral da espiritualidade cristã, as celebrações litúrgicas bem preparadas e bem vividas, os tempos de catequese e oração como caminhos de crescimento interior da fé das pessoas e das comunidades.

 

Caríssimos candidatos ao diaconado e ao presbiterado!

Deus chamou-vos à fé, chamou-vos a fazer parte do Seu Povo e, agora, chama-vos ao ministério ordenado. Sois vasos de barro, mas por livre escolha e eleição do Deus amor, sois portadores do único e verdadeiro tesouro. Procurai sempre ser fiéis ao dom que recebeis, com humildade, pois ele vem de Deus e não de vós. Agradecei ao Senhor todos os dias a vossa vocação e manifestai-lhe na oração e na ação a vossa disponibilidade para O servir na pessoa dos vossos irmãos.

Recordai-vos que sois seus servos e que não vos pregais a vós mesmos, mas a Cristo Jesus, o vosso Senhor, o Senhor de todos e o Senhor de tudo.

Que na vossa pessoa e na vossa ação brilhe o esplendor da glória de Deus, que se reflete no rosto de Cristo.

Tomai como lema da vossa vida o desejo de em tudo mostrar aos homens o rosto de Cristo, que os ama e os quer salvar.

Não sois ordenados para mais nada, senão para ajudar a humanidade a encontrar-se pessoal e eclesialmente com Cristo. Esta é a vossa vocação e esta há de ser a motivação fundamental do exercício do ministério que vos é confiado.

Aquele que vos chamou velará por vós e o Coração Imaculado de Maria, sua e nossa Mãe será sempre o vosso refúgio no meio das adversidades. Ámen.

 

Coimbra, 25 de junho de 2017

Virgílio do Nascimento Antunes

Bispo de Coimbra