Economia e fraternidade

Diác. José Antonio Jorge,

Doutor em Agronomia e mestre em Teologia,

autor do Dicionário Informativo, Bíblico, Teológico e Litúrgico

Campinas, Brasil, 16 de febrero de 2010

 

A Quaresma está chegando (17/2) e neste tempo litúrgico refletimos sobre o texto da Campanha da Fraternidade cujo tema será “Economia e fraternidade” e lema “Vós não podeis servir a Deus e ao dinheiro” (Mt 6,24). Esta é a terceira Campanha Ecumênica, isto é, elaborada pela Igreja Católica em conjunto com Igrejas de outras denominações cristãs, participantes do Conic (Conselho Nacional das Igrejas Cristãs) , numa demonstração de maturidade, pois é mais importante salientar o que nos une – Jesus Cristo, a ação do Espírito Santo e o Batismo – do que aquilo que nos separa. A primeira Campanha ecumênica aconteceu em 2000 com o tema “Dignidade humana e paz” e lema ”Um novo milênio sem exclusões”. Em virtude do sucesso desse evento, a experiência ecumênica foi repetida em 2005 com o tema “Solidariedade e paz” e o tema “Felizes os que promovem a paz”. A fraternidade deve ser um vínculo muito forte entre os cristãos, tendo em vista, o Pai comum a todos – o que nos deve levar a relacionarmo-nos como verdadeiros irmãos.

 A atualidade do tema se deve ao fato de que a humanidade, imbuída do materialismo, consumismo, individualismo tornou-se idólatra no sentido de cultuar o dinheiro, colocando-o como centro e meta de vida. A avareza escraviza o ser humano. Quando Jesus adverte que não podemos servir a Deus a ao dinheiro (Lc 16,13b) não está insinuando que o dinheiro seja um mal em si mesmo, mas que tende a afastar das pessoas o sentimento de solidariedade e o espírito de partilha. O dinheiro isola a pessoa levando-a ao perigoso sentimento de auto-suficiência, achando que pode prescindir de Deus e esquecendo que é impossível a uma pessoa viver como uma ilha.

 Vivemos numa sociedade perversa onde uns se afogam no supérfluo, enquanto outros miseráveis não têm o mínimo para uma vida digna. O problema da fome não é pelo excesso de população, mas pelo consumo excessivo dos ricos. E há solução viável para aumentar a produção de alimentos. Estudos indicam que aplicando-se em mecanização e irrigação US$ 83 bilhões por ano nos países mais pobres (hoje aplicam-se US$ 23 bilhões) redundaria num aumento de 70% na produção de alimentos no mundo. Apenas na África Subsaariana, hoje com cerca de 800 milhões de pessoas, mais de 200 milhões passam fome. No mundo, dez milhões de crianças com menos de 5 anos morrem de fome, anualmente. Cerca de 840 milhões de pessoas não consomem diariamente a quantidade de alimento necessária para manter a saúde (carência alimentar). A fome demonstra uma situação de crise ou de escândalo? O escritor Kateb Yacine expressa seu horror neste poema: “é preciso que nosso sangue se inflame. E que nos incendiemos. Para que os espectadores se comovam. E o mundo abra, enfim, os olhos. Não sobre os despojos. Mas sobre as chagas dos sobreviventes”.

Deja una respuesta

Tu dirección de correo electrónico no será publicada. Los campos obligatorios están marcados con *