Dom Esmeraldo Barreto de Farias: "O fecundo testemunho de um Diácono"

Caro irmão diácono, agradecendo a Deus por sua vida e missão nas grandes cidades, no interior, nas áreas ribeirinhas da Amazônia, nos sertões do Nordeste, nos campos do Oeste, coloco no coração daquele que “não veio para ser servido, mas para servir e dar a vida em resgate por muitos” (Mc 10,45) a sua vida e a de sua família.

O testemunho do diácono Estêvão, aquele servo de Deus cheio do Espírito Santo e por ele guiado (cf. At 6,5a. 10; 7,55), pode trazer-nos uma grande luz!

Estêvão aparece como o primeiro da lista dos sete homens escolhidos para a missão diaconal: “Estêvão, homem de fé e cheio do Espírito Santo” (At 6,5a); “cheio de graça e poder, fazia grandes milagres e sinais entre o povo” (6,8); “alguns membros da sinagoga dos Emancipados, (…) puseram-se a discutir com Estêvão, mas não conseguiam resistir à sabedoria e ao espírito com que falava” (At 6,9-10).

NA TRAJETÓRIA DE ESTÊVÃO, PODEMOS DESTACAR:

a) O chamado, a missão e a consagração para a missão – cuidar dos pobres -, nascem de uma real necessidade da comunidade em Jerusalém, da sugestão dos Doze, da provação da comunidade reunida e da oração e imposição das mãos dos Apóstolos. Era a ação de Deus através de desafios que se lhes apresentavam iluminando o caminho da Igreja nascente para que fosse realmente servidora, no caminho do Servo (6,1-7). Estêvão assume a missão que lhe foi confiada e, a partir da prática, cresce na consciência de ser Servo. O que ajuda Estêvão a crescer nessa consciência? Certamente, para ele está clara a situação que a comunidade enfrenta, isto é, a necessidade de . Daí, a necessidade e a socorrer as viúvas no atendimento diário. Nessa prática, ele guarda no coração a experiência de tantos servos de Deus que tinham sido chamados e enviados por Deus para uma grande missão: Abraão, José, Moisés, os profetas e que tudo era preparação para a vinda do Justo, que foi crucificado. Ele vai amadurecendo a experiência de que, para o seguimento a Jesus Cristo servo, é necessário abrir-se ao Espírito Santo. Referindose aos membros do grande Conselho (Sinédrio), Estêvão afirma: “Duros de cerviz, incircuncisos de coração e de ouvidos, resistindo sempre ao Espírito Santo! Sois como vossos pais. A qual dos profetas vossos pais não perseguiram? Mataram os que profetizavam a vinda do Justo, aquele que vós agora entregastes e assassinastes. Vós que recebestes a lei por ministério de anjos, e não a observastes” (At 7,51-53). Então, o diácono está convencido de que ele é chamado a servir a partir de Jesus Cristo e que o Espírito é quem torna a missão fecunda. Daí, a necessidade e a importância  da vivência da graça da comunhão, da experiência do mergulhar no Mistério. O testemunho de Estêvão nos indica que o caminho do servo não pode ser a partir de si mesmo, mas daquele que nos constitui seus servos: Jesus Cristo.

b) O testemunho de Estêvão entre o povo, realizando sinais (6,8). Eram sinais ordinários e extraordinários. Quais os sinais ordinários no serviço que somos chamados a realizar na profissão, na família, na comunidade eclesial e para a transformação da sociedade como um todo?

c) As palavras de Estêvão não são apenas palavras (discurso elaborado pela inteligência), são um sinal de sua experiência interior, da vivência do Mistério. O seu testemunho profético mostra que a missão, quando guiada pelo Espírito de Deus, pode nos conduzir para além de algumas tarefas que somos chamados a assumir! (7,2ss). d) Estêvão faz memória da ação de Deus e ao mesmo tempo é memória dessa mesma ação. O relacionamento de Estêvão com a Palavra é algo que nos encanta, pois ele vê a ação de Deus em toda a história da salvação. Ele faz Memória da ação de Deus e faz ver que a sua ação amorosa está presente naquele momento. Na Palavra, ele encontra força e luz diante das dificuldades e desafios presentes na missão. A profundidade do relacionamento com a Palavra de Deus faz com que Estêvão viva a missão não a partir de si, mas do projeto de Deus realizado em Jesus Cristo. Ele faz memória e vive essa memória na perspectiva de JC. “Recordai-vos dos vossos guias, que vos pregaram a palavra de Deus” (Heb 13, 7). Às vezes, trata-se de pessoas simples e próximas de nós, que nos iniciaram na vida da fé: “Trago à memória a tua fé sem fingimento, que se encontrava já na tua avó Lóide e na tua mãe Eunice” (2 Tm 1, 5). O crente é, fundamentalmente, “uma pessoa que faz memória” (EG 13), pois contempla a ação de Deus na história, no presente, deixa Deus agir em sua vida e aponta a esperança.

A partir da trajetória do diácono Estevão, podemos dizer que contar o chamado, é contar a experiência da Memória de Deus, contar a experiência do encontro com Deus, das várias experiências do Amor de Deus em nossa vida. Cada vez que contamos a história, fazemos a Memória da Ação  de Deus e sempre descobrimos algo novo. O Missionário coloca a Memória (a ação de Deus) em sua vida e na vida dos outros a serviço do anúncio para falar não de si, mas de Deus (ver isto no Magnificat). Que bela Memória faz Paulo! – cf. 1Tm 1,12-17). O missionário se deixa guiar pela Memória de Deus, para ser Memória e despertar nos outros a Memória de Deus. A Memória de Deus é caminho para não ficarmos acomodados e centrados em nós mesmos.

A missão nos abre a esta memória de Deus, para meditarmos sobre a ação do Amor de Deus em nossa vida e também nos outros, fortalecendo e enriquecendo a Memória de Deus que é a história do Amor de Deus, de quem enviou o seu Filho ao mundo não para condenar o mundo, mas para que o mundo seja salvo por ele, de quem entrou neste mundo, de quem desce para libertar, para doar a vida: “Amai-vos uns aos outros como eu vos amei”. Contemplando o testemunho de Estêvão, podemos perguntar-nos:

Como está a vida e o ministério diaconal que recebi da graça de Deus? Quais os maiores desafios que encontro no exercício desse ministério? O testemunho de Estêvão traz alguma luz para a minha vida e missão como diácono? O Espírito Santo o ilumine e lhe conceda renovar a forte experiência do encontro com aquele que nos transforma por dentro e nos dá a graça do testemunho como servo missionário. Seja abençoada sua família e as comunidades a quem você serve recebam a graça de serem comunidades solidárias, missionárias, proclamadoras da Palavra que nos liberta e celebrantes do mistério pascal de Jesus Cristo.

Dom Esmeraldo Barreto de Farias é bispo Referencial da  Comissão Nacional dos Diáconos (CND)

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