O Diácono e os desafios evangelização numa Igreja “em saída”

Diácono Antonio Heliton Alves

Secretário da Comissão Nacional dos Diáconos

Vários são os aspectos que impactam o anúncio do Evangelho hoje: um acelerado processo de mudanças, onde se dissolve a concepção do ser humano e predomina a subjetividade e o individualismo; a influência dos meios de comunicação, criando uma nova cultura e novos referenciais; construindo uma nova concepção de pertença comunitária. Isso exige de cada um de nós uma perfeita sintonia com esta nova realidade e um olhar atento para este momento novo. Nesse contexto, é necessário surgir um novo modelo de pastoral, uma Igreja “em saída”,[1] para iniciar um verdadeiro trabalho missionário. Os primeiros destinatários desse esforço são os católicos afastados, já estes já têm uma base católica, sem negligenciar os demais, pois o anúncio do Evangelho é destinado a todos. “A pastoral em chave missionária exige o abandono deste cômodo critério pastoral: ‘fez-se sempre assim’.  Convido todos a serem ousados e criativos nesta tarefa de repensar os objetivos, as estruturas, o estilo e os métodos evangelizadores das respectivas comunidades.”[2]

Na 5ª Conferência Geral do Episcopado Latino-americano e caribenho, realizada em Aparecida (SP), de 13 a 31 de maio de 2007, a Igreja assumiu a missão continental como uma proposta para a evangelização na América Latina. As Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil é uma resposta a esse compromisso.

A eleição do Papa Francisco, primeiro Papa Latino-americano, trouxe para a Igreja uma nova primavera e um novo alento para a evangelização neste continente. Sua postura de aproximação com todos e a coerência entre suas palavras, gestos e ações, deixa uma profunda impressão em todos, católicos ou não. A Exortação Apostólica Evangelli Gaudium é uma referência para a evangelização e um convite a uma maior abertura ao chamado do Senhor. A alegria de anunciar o Evangelho é uma forma de partilhar a experiência do encontro com Cristo. E quem fez essa experiência não pode guardar isso somente para si.

O Documento 100, “Comunidade de Comunidades – uma nova paróquia”, quer ser uma resposta para fazer frente ao desafio que o nosso tempo exige: uma Igreja feita de pequenas agremiações que permite uma evangelização feita através da proximidade, pelo cuidado de uns pelos outros. É uma presença viva nas novas fronteiras da missão. As pequenas comunidades são o lugar ideal para o exercício do tríplice múnus do ministério ordenado, particularmente dos diáconos permanentes.[3] “O caminho para que a Paróquia se torne verdadeiramente uma comunidade de comunidades é inevitável, desafiando a criatividade, o respeito mútuo, a sensibilidade para o momento histórico e a capacidade de agir com rapidez.” (DGAE, 63).

No exercício equilibrado do tríplice múnus do ministério ordenado, o diácono, homem seguidor de Cristo Servo, homem de profundo sentimento de pertença à Igreja, homem de fé, homem de pé no chão e coração nas realidades sociais, presente nas celebrações, na proclamação da Palavra e na catequese e na ação concreta em favor dos mais pobres e excluídos. Animado por uma espiritualidade que nasce da Eucaristia e prolonga no cotidiano da vida, através de atitudes que implique ações e participações, sendo sal da terra e luz do mundo.

Neste novo contexto histórico de mudança de época,[4] a formação para o exercício do ministério diaconal deve ser preocupação constante dos pastores e de todos aqueles que são responsáveis por esse serviço na Igreja. Não apenas a formação inicial, mas também a formação permanente. Fundamental é o processo de discernimento vocacional, de modo que a vocação seja resposta a uma necessidade da Igreja, respondida por aquele que é chamado ao serviço dos irmãos. O chamado não é nosso, mas de Deus. Toda iniciativa é de Deus. Nunca nossa. Pois ele nos amou por primeiro, concedendo-nos o dom da fé, que não é propriedade de ninguém, mas um inestimável presente de Deus e que se mantém viva pelo estudo, pela oração e pelo diálogo.

Uma das marcas do nosso tempo é a pluralidade, particularmente a cultural e a religiosa. A Igreja não pode querer continuar fixada no passado. Nesse sentido, o futuro diácono deverá ser orientado para o diálogo ecumênico, inter-religioso e intercultural e, extensivamente, com aqueles que são diferentes.

Uma mente que está fixada no passado é uma mente depressiva; fixada no presente, é maníaca; a alma humana só é sadia se mantiver seu olhar no futuro. Olhar fixo em Jesus. A esperança não decepciona.

A pastoral deve ser mais propositiva, evitando se colocar “à parte”, distante da história e da cultura. Seremos sempre um “pequeno rebanho”. Os cristãos são para o mundo, aquilo que é a alma para o corpo.[5]

Decisivo é o encontro com a pessoa de Jesus Cristo. Ir ao encontro do outro é a “dimensão da fé”. A fé não é doutrina, mas o kerygma. Anunciar de forma alegre, acolhedora, gratuita e santamente (pessoal e institucionalmente). A Igreja não evangeliza apenas com palavras, mas como ela se apresenta.

“Juntamente com o Espírito Santo, Maria sempre está no meio do povo. […] Ela é mãe da Igreja evangelizadora e, sem ela, não podemos compreender cabalmente o espirito da nova evangelização”.[6]Os diáconos devem acolher Maria como modelo de sua missão, do sim generoso, da humildade, da generosidade para com todos, de modo particular junto aos mais sofridos – os restos e resíduos da humanidade –  cultivando uma espiritualidade trinitária-mariana que alimente o seu “ser” diaconal. Enquanto for oportuno, as esposas são chamadas também a acompanhar o esposo nessa devoção mariana.


[1] Exortação apostólica EVANGELII GAUDIUM, n. 17, “a”

[2]  Papa Francisco. Exortação apostólica EVANGELLI GAUDIUM. Sobre o anúncio do Evangelho no mundo atual, n. 33.

[3] CNBB. Comunidade de Comunidades: uma nova paróquia. Doc. 100, n. 206.

[4] DAp, 44.

[5] Carta a Diogneto, 6.

[6] EG, 284.

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