Covid – 19: Uma igreja só para o Servico

Nos meus artigos sobre a Igreja – e muito ligados ao diaconado -, tenho sucessivamente realizado uma reflexão sobre os novos caminhos que toda a Igreja necessita de retornar aos seus primórdios no que toca ao Amor e à Misericórdia, afinal o Evangelho proclamado, sem tronos. A Igreja só assim o será quando for doada ao bem comum e bem-viver, numa missão profética, com atitudes como D. Manuel Vieira Pinto, agora falecido, deixou à Diocese do Porto – Portugal e à Diocese de Nampula, antiga colónia portuguesa. Essas reflexões têm sido muito críticas sobre a Igreja, e, certamente vão continuar. Mas, neste espaço, tenho que recordar a grande lição que tem sido em Portugal, em tempo de COVID-19. Mesmo neste mês de maio em que no santuário de Fátima, no dia 13, se concentram centenas de milhares de peregrinos – saliente-se que as visões de Fátima, não são dogma -, a Igreja Portuguesa teve uma decisão que merece ser aplaudida, não realizar as cerimónias com os peregrinos, pedindo-lhes que seguissem as mesmas de suas casas, uma decisão responsável e focada no bem da sociedade. No mesmo momento a CGTP – Confederação Geral dos Trabalhadores Portugueses, uma das duas mais importantes centrais de trabalhadores, e ligada maioritariamente ao Partido Comunista Português, insistiu e fez, concentrações em 24 localidades em Portugal. Não sou, nem nunca fui -lembro-me de ter pertencido a um grupo técnico da CGTP -, contra esta central sindical, mas foi um erro, que o sindicalismo português poderá vir a pagar muito caro. A Igreja portuguesa deu uma lição ao sindicalismo português, representado pela CGTP. Assinalo e louvo a atitude dos bispos portugueses e em especial do meu antigo professor bispo D. António Marto ao decidir não realizar essas cerimónias com a presença de peregrinos.

Por outro lado, não poderei deixar de lamentar a decisão de duas dioceses portuguesas querendo aderir ao lay-off, incluindo elementos do clero. Em tempo desta pandemia o Estado Português serve-se da lei do lay-off, permitindo que os trabalhadores possam estar confinados em casa. O Estado pagará 2/3 do seu salário e o outro 1/3 será pago pela entidade empregadora. E a quererem o lay-off estão essas dioceses dado a perda de receitas, resultante da não celebração de missas, casamentos e batizados e não tendo as receitas das “intenções das almas por sufragar”. Estas intenções, creio estar certo, custam 10 euros cada.

Em primeiro lugar deviam os pretensos padres designados para a função de administrar os dinheiros – como se houvesse alguma teologia para administrar dinheiros -, ter a certeza que a Igreja não possui “receitas”, aquilo que o povo de Deus oferece à Igreja para a sua vida e sustento, não são “receitas”, são uma partilha, uma dádiva, daquilo que receberam das mãos de Deus. Tudo o que a Igreja faz é gratuito, nada deve ser um “pagamento de serviços”, porque a vida não se vende, nem se compra, muito menos com os “sufrágios”. A Igreja não possui como as empresas um C.E.O. para administrar as “perdas” e os “ganhos” e distribuir os “lucros”. Na Igreja tudo é um dom gratuito oferecido por Deus, pela morte e ressurreição de Jesus. É verdade que todos os que servem a Igreja, incluindo o seu clero, almoçam e jantam, vestem-se e compram livros, vão ao cinema e de férias, e fazem bem, mas para isso conta a generosidade do Povo de Deus, que agora é ofendido com a recorrência ao tal lay-off. Quem o faz não tem Fé e Confiança em Deus e no seu Povo, que tudo sacrifica por aqueles e aquelas que estão dedicados ao serviço de Deus. Digo mais: é uma ofensa ao Povo de Deus.

E já agora lembro de dois párocos, da Diocese do Porto, vitimados pelo COVID -19 e que tiveram de permanecer em casa de quarentena, sem comida e sem meios para fazer face a seu dia a dia e nem podendo sair de casa. Algum dia o Povo de Deus destas paróquias deixou os seus párocos seu o apoio necessário? Algum dia estes padres deixaram de ter a comidinha, dada com carinho, pelos seus paroquianos à porta? Nunca, o Povo de Deus, nunca esquece quem o serve.
Quem não acredita no povo que apascenta, não é um pastor, pelo menos um pastor que tem o cheiro das suas ovelhas – como muito bem diz o papa Francisco -, mas alguém que sempre confiou em poderes e não em serviço. Uma Igreja aflita e que até agora -contrariando o papa Francisco -, sempre afixou os dias e as horas a que atendia os fiéis, para que estes não abusassem do seu clero, é uma igreja que leva para o caminho, não uma mochila, mas uma grande quantidade de pajens para a servir. Desculpem, mas não é a Igreja “sem bolsa e sem alforge”. Uma Igreja muito preocupada com a Páscoa a recolher a “côngrua” de casa em casa e como este ano não podia ser, montou em carros um sistema de som para passar com uma cruz, talvez por causa dos envelopes do dinheiro.

Que pelo menos os diáconos – de que faço parte -, saibam e tenham a coragem da denúncia destas situações. Porque lay-off nas igrejas e para o clero é um insulto ao Povo de Deus. Valha-nos a decisão sobre o 13 de maio.

Joaquim Armindo
Diácono – Porto – Portugal

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