A ORDENAÇÃO DAS MULHERES DIÁCONOS

Joaquim Armindo – Diácono da Diocese do Porto

Um dos argumentos mais fortes da Igreja Católica para a não ordenação das mulheres ao diaconado, é que não se prova a existência de mulheres diáconos na igreja primitiva. Assim como não se evidencia a ordenação de mulheres diáconos, atrevemo-nos a afirmar que também não se evidencia a sua não existência. As mulheres ao tempo de Jesus tinham um estatuto de menoridade, talvez igual aos cabritos e cabras, no entanto Jesus nunca as deixou de colocar com igual dignidade de filhas de Deus e com capacidade de as tornar descobridoras de Reino dos Céus. Impugnar a existência da ordenação de mulheres não é um ato cristão, saído de Jesus, Senhor Nosso. Existem tantas evidências na igreja primitiva, que não são iguais à igreja de hoje, até em sentido contrário. As cartas que Paulo escreveu com algumas indicações sobre as mulheres, são anteriores aos textos do Evangelho, e produto do viver das comunidades para quem escreveu. São Palavra de Deus, mas a Palavra de Deus fala para as mulheres e os homens em cada momento da história, tal deve ser contextualizado. Arrepia-me que a Igreja Católica -pelo menos uma parte -, se movimente contra a ordenação de mulheres diáconos, com o argumento que Jesus não ordenou nenhuma. Isso não é substantivo, até porque existem provas evidentes do contrário. Quem disse que no seu Reino “não há judeu, nem gentio, nem homem ou mulher”, foi o próprio Senhor.

Se lermos o capítulo 15 do Livro dos Atos dos Apóstolos – primeiro concílio, de Jerusalém -, foram convocados os Apóstolos, na altura treze e não doze, os Anciãos e toda a Igreja, para se pronunciarem sobre a circuncisão, era sim ou não – para nós a discussão disto num concilio, é quase anedótica, nos dias de hoje -, e no fim Tiago “tomou a palavra e disse…”. Ao que parece aqui, embora Pedro falasse, Tiago estava a dirigir o conclave, curiosamente aberto à igreja. Hoje, o que temos num Concilio? O papa e os cardeais, em Roma. É diferente. Porque os tempos são diferentes. Aliás veja-se quantas vezes o papa Francisco usou os seus poderes excecionais, nenhuma vez, está a igreja a tornar a sua organização sinodal, como outras igrejas cristãs o já são. E neste concilio não se diz que não estiveram mulheres!
No Evangelho Lucas capítulo 10, versos 38 a 41, temos o episódio de Marta e Maria, que receberam Jesus em sua casa. Ora uma delas, Maria, ouvia os ensinamentos de Jesus, que Ele disse ser a melhor parte. Porque Jesus ensinava a uma mulher as coisas do Reino, para ela esquecer ou anunciar a Boa Nova? Não existiam diferenças entre o ensino de Jesus para homem ou mulher.

Antes, porém, sempre valorizou as atitudes das mulheres. Em Lucas 21, refere-se a uma viúva pobre que entregou tudo o que tinha, umas moeditas. E entregou mais que todos os outros, porque deu-se a si própria.

Junto à cruz, quando muitos discípulos dos doze, tinham por precaução se escondido, Jesus contou com o testemunho inaudito das mulheres. Ali ficaram, não tiveram medo dos guardas, nem táticas e estratégias, ficaram para louvar o Senhor das suas Vidas.

E quando ressuscitou a quem apareceu primeiro, a Maria de Magdala, Joana e Maria mãe de Tiago, porque elas chegaram primeiro que todos ao tumulo. Pedro nega Jesus – por tática, dizemos, e será -, mas as mulheres não o negam, vão com Ele, estão com Ele, morrem e ressuscitam com Ele.

Quem lava os pés a Jesus? Uma mulher!

As mulheres que não tinham estatuto ao tempo, são aquelas que melhor anunciam o Senhor. Porque não podem agora anunciar? As mulheres sempre estiveram com Jesus, não como auxiliares, mas protagonistas.

Não vejo, nem descortino nenhuma razão para a não ordenação de mulheres ao diaconado, e a pesquisa se existiram ou não mulheres diáconos, só serve para adiar a sua ordenação.
O Espírito do Senhor vai atuar, como o está a fazer em tantas tradições religiosas. A ordenação de mulheres ao diaconado é urgente e necessária.

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