TODOS IRMÃOS, QUANDO AS MULHERES NÃO FOREM ESQUECIDAS

TODOS IRMÃOS, QUANDO AS MULHERES NÃO FOREM ESQUECIDAS

Todas e todos admiramos os documentos de Francisco, bispo de Roma e papa, e sentimos os seus ensinamentos e apelos necessários. Também sabemos, pela experiência, que estes documentos não são refletidos e muito menos são para ser postos em prática. Tenho dito que a Amazónia é o mundo, e que “Querida Amazónia” é para todo o nosso planeta, assim como as outras encíclicas e, agora, a “Todos Irmãos”. Têm, porém, um condão estes documentos do papa Francisco, não são para aplicar e, em breve, todos eles ficarão no “cesto dos papeis”. Como vai uma Cúria Romana aceder às reformas, algumas das quais estão nas antípodas daquilo que vinha a ser seguido pelo Vaticano. Não se coloca dúvidas que a maioria dos bispos – nos bispos portugueses é assim -, falam de Francisco quando lhes convém, e estão sempre prontos a esquecer os seus apelos. Francisco é um “protestante” a sério, que se não fosse papa e vivesse em outro século seria excomungado. Os ditos “irmãos separados”, os agnósticos e os ateus compreendem mais Francisco que os católico-romanos. E quanto menos se falar no que ele afirma, melhor. Faz-se, agora, como se fazia aos textos bíblicos, não são dados a conhecer ao Povo de Deus. A grande maioria dos padres e diáconos não o lê, quanto mais apresentá-lo e colocar em prática as suas posições, que são sempre baseadas no Evangelho de Jesus, Senhor Nosso. Mas nada calará a voz do Espírito, mesmo que o queiram, Ele soprará como um vento que varrerá a Igreja das suas posições legalistas em detrimento da Palavra do Senhor, e que tão bem Francisco interpreta.

A encíclica “Todos Irmãos”, sendo compreensível no seu título, até porque foi produzida por Francisco de Assis, é, no entanto, incapaz da abordagem da questão da mulher no seu direito de ser ordenada aos serviços de bispos, presbíteros e diáconos, e à assunção de iguais direitos na condução da igreja de Jesus, contrariando o enorme peso que tiveram as discípulas de Jesus. Se poderá ser “religiosamente correto”, no sentido de evitar qualquer cisma, é, contudo, não conforme a Palavra de Deus, que nunca exclui as mulheres nos diversos serviços da igreja. Elas que são mais de 50% da igreja, não têm vez, nem voz, são deserdadas e excluídas, constituindo mesmo “periferias da igreja”. Há muitos ministérios na igreja, que devem ser para todos e todas e não só para o sexo masculino. Ou, então, ministérios que arrumam as mulheres como “lojas de flores” que enfeitam os altares, ou “criadas” sem ordenado para servirem os jantares e almoços, lavarem os lençóis das camas, para os homens, enquanto estes discutem e decidem como lhes aprouver. Se somos “Todos Irmãos”, então seremos irmãos e irmãs que assumem os vários serviços na igreja, sejam eles quais forem. Teremos uma igreja ao serviço do mundo, com as qualidades masculinas e femininas, que não se contradizem, mas se estimulam mutuamente. Nunca haverá “Alegria do Evangelho”, “Laudato Si`”, “Querida Amazónia” ou “Todos Irmãos”, enquanto esta questão não for resolvida. É fulcral e fundamental que seja compreendido a impossibilidade de um universo de irmãos, enquanto as irmãs, não forem tidas como epicentro de toda a atuação da Igreja. Isto – quanto a mim, e podem excomungar-me -, é o epicentro de todos os problemas. Ao homem e à mulher foi dada a Criação para a cultivarem e desenvolverem e não só ao homem. Nisto, a encíclica falha!
Na encíclica, não podemos desconhecer, que Francisco, finalmente, propõe uma economia outra, para um mundo novo. A critica ao neoliberalismo, que se poderá ler como “economia que mata” é saliente. Ela já está escrita na “Louvado Si`”, mas sem indicar o neoliberalismo, agora Francisco vem à génese da questão e nomeia, claramente, quem ela é, uma economia fundida com o mercado, tentando a todo o custo salvar-se, chama-se mesmo neoliberalismo. Embora este, como é natural, seja conformado em outras formas e cores, é ele o responsável pela degradação da Terra e pela existência de pessoas totalmente marginalizadas.

Mas Francisco, também, conta uma outra estória a do “Bom Samaritano”, num tom claro para dizer à sua Igreja o que não deve fazer. Um homem, podia ser uma mulher, estava doente, fora atacado, então passou um bispo, um presbítero e um diácono, ao largo, para não se contaminarem, nem protegerem aquele que era da sua igreja. Mas passa um samaritano, um inimigo, e condói-se, para e trata dele. Limpa-lhe as feridas, interessa-se por ele, independentemente de quem é. Cuida dele e paga os seus cuidados, para seguir adiante na sua missão. Esta parábola contada por Jesus é demasiado atual, numa igreja, à qual nós pertencemos, que parece não ver que todos somos filhas e filhas de Deus, todos somos suas criaturas e todos devemos ser missionários, para levar o Amor onde ele não existe. Quantas pessoas a própria igreja não entende o que é “Todos Irmãos” e Irmãs, acrescento eu, são abandonados à sua sorte. Às vezes a Igreja socorre quem não é dela, o que deve fazer, mas para esconder que o seu coração não está aberto ao mundo.

Os diáconos que nunca fujam de quem está na berma da estrada e não se calem quando a dignidade humana defendida não é defendida, seja na Igreja ou fora dela.

Joaquim Armindo

Pós- Doutorando em Teologia
Doutor em Ecologia e Saúde Ambiental
Diácono

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