Homilia de Dom Carlos Verzeletti por ocasião da ordenação de 56 diáconos permanentes na Diocese de Castanhal, Brasil

Ouvimos a passagem do Evangelho de João que nos lembra o grande gesto de Jesus, o Lava-pés, gesto esse que é um testamento, gesto realizado na última ceia antes de ser condenado e morto. Aquele gesto fala alto para toda a Igreja de todos os tempos, Jesus levantou-se da mesa, tirou o manto, aquele manto que era o sinal de realeza, e com esse gesto Jesus está nos convidando ao despojamento, também tirar o manto, quem serve é alguém que já aprendeu e vai aprendendo essa grande atitude de despojar-se de si mesmo, nós temos muitas seguranças, nos apoiamos em nós mesmos, nos nossos planos, nas nossas ideias, nos nossos desejos.

Para poder servir a Deus e os irmãos é necessário este despojamento constante e contínuo, sobretudo, temos de nos despojar da nossa autossuficiência, devemos reconhecer nossa pequenez e fragilidade, nos despojar de todas as atitudes de superioridade, Jesus que era Deus se fez último e servo de todos, ele bem disse para nós “Não vim para ser servido, mas para servir”, por isso queridos irmãos, que estão para serem ordenados diáconos, vocês e nós, somos chamados a esse desprendimento de si. Esse despojamento constante é uma conversão pessoal contínua, e com vocês a igreja toda tem de se despojar das suas seguranças, afastar qualquer atitude de autoritarismo, vocês não estão galgando degraus para estarem acima dos outros, na verdade, a partir de hoje, de modo especial, vocês terão que aprender a descer degraus, a eliminar as distâncias, a chegar mais próximos de todos, “tirou o manto”, “despojou-se”, e depois, diz o evangelista João, que Jesus começou a lavar os pés dos seus discípulos, para lavar os pés é necessário abaixar-se, curvar-se, descer até os pés, já o despojamento é sinal disto, mas aqui, na hora que Jesus lava os pés, Ele se prostra aos pés de seus discípulos, era próprio dos escravos lavar os pés dos seus senhores, e jesus assume esse lugar dos último dos escravos, para dizer aos seus discípulos, e dizer a nós, que não estamos acima dos outros, mas que os outros estão acima de nós, nós não devemos olhar os outros pensando que os outros estão ao nosso serviço, mas nos colocando abaixo deles, nós colocamos a serviço deles, e isso deve acontecer no dia a dia, nas nossas relações em casa, vocês têm esposas, têm filhos, que bonito se esse abaixar-se, este curvar-se se realize já na vida matrimonial, diante da pessoa que amamos, diante dos filhos, se colocar sempre nessa atitude de servir e fazer isso com humildade, com simplicidade, com alegria, isso, na família e na comunidade, em qualquer tipo de atividade vocês possam se envolver sempre numa atitude abaixo dos outros, a serviço dos outros, “e Jesus começou a lavar os pés”, os pés, é a parte mais baixa da pessoa, e nós com os pés poderíamos imaginar os últimos, os excluídos, as pessoas não amadas, os esquecidos, abandonados, explorados, poderíamos pensar em tantas periferias geográficas e existenciais, que vivem esquecidas.

Lavar os pés quer dizer ir ao encontro daqueles que ninguém enxerga, se colocar a serviço da promoção da dignidade humana, da vida plena, resgatar a vida onde a vida é desprezada ou é pisada. Nós temos tantas pobrezas, tantas situações de misérias em nossas cidades e nosso bairros, mas se não tivermos a capacidade de perceber, de ouvir o clamor, o grito que surge do coração das pessoas, nós não chegaremos aos pés delas. Nós não podemos cair na tentação de ficar na sacristia, de ficar no escritório paroquial, de ficar num grupinho dos melhores, aqueles que dão certo. Nós seremos tentados sim, de agradar aqueles que nos agradam, de convidar àqueles que nos convidam, e o Senhor nos diz que está tudo errado, nós temos que convidar aqueles que ninguém convida, enxergar àqueles que ninguém enxerga, ter a coragem de ir ao encontro desses irmãos e o cuidado de afastar as tentações de dizer “este não precisa”, “não adianta”, “trabalho perdido”, temos situações dramáticas que clamam em nossa Diocese como os milhares de presos em nossas penitenciárias. Lavar os pés deles é dedicar tempo a eles, deixar tantas outras coisas para poder mostrar o carinho da Igreja para esses irmãos, temos tantos moradores de rua, temos tantas crianças não amadas, que são jogadas da tia para a avó, de um canto para o outro, temos tantos adolescentes e jovens desnorteados, iludidos pelas promessas do mundo, casais em crise, famílias quebradas, que cada um fique pensando onde estão estes pés que nós devemos lavar, e certamente, não estarão tão longe como você imagina. Talvez até perto da sua casa, por isso olhando para Jesus, aprendemos de Jesus a exercer a caridade, o amor, com alegria, servir com alegria, servir a Deus com a alegria e servir a Deus e aos irmãos com alegria, todas as vezes que servimos aos irmãos estamos servindo a Deus, e continuar a imitar Jesus que não veio para ser servido, mas para servir e dar a vida pela salvação de todos.

O serviço para o qual a igreja vos chama é o serviço do altar, o serviço da Palavra, o serviço da caridade no serviço do altar, vocês deverão ajudar os presbíteros na preparação do altar, vocês poderão presidir a celebração do santo batismo, assistir o sacramento do matrimônio e abençoar os que querem selar sua aliança de amor com Deus no matrimônio, assistir e presidir as exéquias, levar o viático aos doentes e moribundos, conduzir as nossas comunidades no encontro com a Palavra, e aí, este serviço da Palavra deve receber tanta atenção e disponibilidade de vossa parte, fazer com nossos irmãos em nossas comunidades amem a Palavra, vivam a Palavra, por isso é necessário que vocês mesmos primeiramente se alimentem da Palavra, vivam esta Palavra de tal forma que quem olhe para vocês perceba que você, antes de falar, já vive a Palavra, você já é a Palavra viva do Evangelho. É o serviço da caridade, que talvez seja o mais difícil, o mais exigente, o mais urgente para nossa Igreja, porque já falei tantas vezes, nossas celebrações são bonitas, podemos dizer que cuidamos bem dos sacramentos, mas no que diz respeito a caridade, temos ainda um longo caminho a fazer, precisamos superar os medos, precisamos sair de nós mesmos, sermos mais ousados, mais decididos, dedicar mais tempo para quem sofre, afinal, lá onde alguém sofre, lá estão as chagas de Jesus, vivas, que precisam de nossos cuidados e do nosso carinho, como rezamos na oração da coleta desta santa Missa, pedimos que Deus conceda a cada um de vocês a solicitude do seu ministério, sejam solícitos, isto é, prontos, não precise que alguém chame, chame duas vezes, não, você percebe, você está ansioso em servir, solícitos nos seus ministérios, claro, lembrando que vocês tem uma esposa e tem uma família.

Sabendo conduzir bem o seu tempo, suas atividades, você encontrará muito tempo para servir com prontidão, depois que o Senhor der a vocês mansidão no vosso trabalho, a mansidão que se faz doçura, dedicar tempo, não pensar que estamos perdendo tempo quando se escuta o irmão, quando se dá atenção a cada pessoa, quando dedica tempo para o aconselhamento, a mansidão deve estar em tudo que fazemos, o que é exatamente o contrário da superioridade do autoritarismo, e vem a constância dos vossos serviços, ser constantes, perseverantes, não deixar chegar os momentos do cansaço, às vezes, até do desânimo, dos problemas, obstáculos que podem até interferir em sua entrega e sua doação, mas com a constância do serviço, a perseverança do serviço depende certamente da constância na oração. Quem tem uma vida intensa de oração, vai longe, supera as dificuldades, recupera a anima e consegue também animar os outros, por isso, a experiência da proximidade com Jesus fortalece a nossa saída para nos fazer próximos daqueles que sofrem.

Nossa Igreja recebe um grande presente, que certamente agindo em nome de Jesus, sendo um sinal vivo de Jesus que serve, poderá animar mais e melhor a vida das pessoas. Vocês são os colaboradores diretos do bispo na íntima comunhão efetiva e afetiva, de tal forma que quando o bispo pedir, você prontamente sabe atender e reconhecer naquele pedido o próprio pedido de Deus, porque não é bom que cada um se feche no seu “espaçozinho”, que crie quase a sua fortaleza. Será sempre bom ter o espírito missionário de sair, às vezes, até sair da própria paróquia, se o seu serviço for necessários em outros lugares, ou talvez em outros espaços, em outras situações bem diferentes que a paróquia, porque o lugar onde devemos servir não é só na paróquia, há uma imensidão, um campo vasto onde a igreja tem que se fazer presente, e vocês, poderiam certamente fazer esta diferença também nestes lugares que são esquecidos por todos.

Nós queremos aqui enfim, manifestar nossa gratidão, a quem hoje veio, a quem se preocupou com vocês ao longo desses anos, a minha gratidão pessoal, a gratidão de todo o presbitério, ao padre Dávide que os acompanhou na formação […]

Fonte: http://www.diocesedecastanhal.com

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