ATÉ NO CORONA VIRUS HÁ CLERICALISMO

A saga do clericalismo consegue estender-se a todas as etapas da vida, já não bastava o poder do comando e intromissão na vida das pessoas, atirando-lhes com o poder do mal e do inferno, até nos vírus dão ordens e querem sempre referir-se às populações com o sabor de quem manda são eles, são os espertalhões que sabem até de saúde. Sabíamos que o clericalismo era poder, que em séculos passados até determinava o ataque às epidemias com procissões vistosas e dizia que tudo isso era castigo de Deus. Sabíamos que o clericalismo até adivinha a responsabilidade das pessoas, o seu discernimento pessoal e determina o que uma pessoa pode ou não fazer na Igreja. Porque a eles o espírito sopra, aos outros o espírito sopra por eles. O clericalismo não são os bispos, os presbíteros e os diáconos, servos e humildes, como Paulo de Tarso ou Estevão, diácono. O clericalismo são os comandos que “determinam” onde está o Espírito do Senhor, e onde pode atuar. O clericalismo decide sozinho e nada quer com a sinodalidade, com a (com)paixão, o amor e a misericórdia de Jesus. Antes de tudo está o clericalismo e se as competências estão noutros, então os outros dizem e o clericalismo decide.

Estamos num tempo em que um vírus violento assola o mundo, em tempos onde devem pontificar os cientistas, os médicos, os enfermeiros, os profissionais de saúde com o seu aconselhamento do que é melhor para todos. O clericalismo assim não o entende. Vejam só, o que chegou ao meu conhecimento dum alto representante da Igreja: antes de uma missa começar e para não existir contaminações, que segundo os profissionais de saúde o afirmam, foi dado por um frasquinho uma solução aquosa para desinfetar as mãos. O resultado: isso não serve para nada e você não percebe nada disso. De uma boa vontade também de um clérigo, o outro clérigo respondeu de forma brusca, para que o seu poder fosse mantido imaculado. Por acaso o membro de clero que ofereceu o desinfetante até é especialista em Saúde Ambiental. Mas para o clericalismo poder exercer o seu poder e comando é necessário que os outros saibam “quem manda”, “quem comanda”, quem “tudo sabe”, até de saúde.

O Corona 19, creio bem, não conhece o clericalismo e atua em todos os lugares, onde entra e o deixam entrar. O Corona 19 não quer saber de clero e fiéis, atua e leva até à morte. E, aí vai, outro exemplo: os fiéis de uma determinada diocese deste nosso mundo foram massivamente convocados para uma missa, quando o país estava a entrar em alerta, e – estou à procura da palavra! – descuidadamente persistiu na convocatória, tendo havido em redes sociais uma grande incompreensão por esta teimosia – não queria usar esta palavra! – venceu, no entanto, o bom senso, e a missa foi desmarcada.

Todas estas imposições clericais, que são puro clericalismo, contrapõem-se aquelas que Francisco, bispo de Roma, tem seguido, o seu exemplo anti clericalista deveria ser seguido, neste caso, como em outros, de forma humilde por todos os que exercem posturas de servos das populações.

Até parece que, com estas atitudes, o nosso Deus bondoso castigará alguém por não ter comparecido à “missa de preceito” ou não cumprir alguma alínea do Código Canónico. Não sei sequer se Deus, o nosso Jesus, conhece o Código do Direito Canónico ou os deveres de “preceito” que os detentores dos poderes eclesiais fizeram sempre à “luz do Espírito Santo”, dado que não me parece que este sancionasse as “ordens” e as “(lei) zitas” forjadas.

O nosso Deus, o nosso Jesus, e o seu Espírito, não se regem pelas nossas leis, nem pelos nossos tempos, e a que tantas vezes a nossa forma organizativa interessará. O que é exigível é servir as mulheres e os homens que compõem ou não a Igreja. O clericalismo não serve para nada, a não ser atrapalhar quem quer servir os outros, servindo o Outro. As pessoas que se julgam “iluminadas” e que “tudo sabem”, são parasitários das ações da Igreja.

Às vezes parece até que estou contra a Igreja, o que não é verdade, estou é numa denúncia constante, dirão alguns profética, no sentido que o Evangelho que Jesus anunciou, seja o de dar vista aos cegos, dar audição aos surdos, dar o caminho aqueles que não o tinham, e, principalmente, que os mais débeis consigam ser como Zaqueu que sobe ao cimo duma figueira, só para ver Jesus, com medo de não ver a sua Luz, mas também do julgamento dos seus amigos e dos de Jesus.

Por mais que se queira, os diáconos como servos dos servos, estarão sempre na frente, como Estevão ou Filipe e jamais colocarão as leis que a igreja decidiu inculcar em detrimento do Amor de Jesus.

Joaquim Armindo

Diácono – Porto – Portugal

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