Um Sinodo de mulheres na Igreja

UM SINODO DE MULHERES NA IGREJA

Na próxima primavera, aquando da realização do Sínodo, convocado pelo bispo de Roma, papa Francisco, sobre “Sinodalidade”, numerosos grupos de mulheres cristãs da Igreja Católica Romana, levarão a efeito um Sínodo paralelo, pelo reconhecimento da dignidade e igualdade das mulheres, na Igreja, contra o clericalismo feroz que alguns cardeais e a parte da estrutura da Igreja conservadora. As mulheres são convocadas pela plataforma Voices of Faith, e contam já com imensas organizações de mulheres. Dizem, com razão, que “o uso e abuso de seu poder [do clericalismo] tem levado à violência de género. A antropologia atual, de raízes medievais e ultrapassadas, mantém a desigualdade e a submissão, impede a integração das mulheres em todos os órgãos da Igreja e ignora as riquezas do magistério das mulheres”, exigem uma leitura da história que regaste as mulheres constantemente silenciadas, e, por isso, querem “ mudanças na liturgia, nos sacramentos e na linguagem eclesial; nova compreensão dos ministérios; diálogo entre a Igreja e o feminismo”. O Sínodo, agora convocado, pelas bases, constituídas por mulheres da Igreja Católica Romana, quer denunciar o patriarcado na Igreja católica e a estrutura do poder “machista” vigente, distante do que Jesus de Nazaré pregava.

Porque as mulheres querem discutir propostas que acreditam sejam uma mudança de paradigma na Igreja a seu respeito, despertaram com o sonho de melhor servir Jesus, se a hierarquia, consubstanciada no clericalismo e no patriarcalismo for capaz de perceber quanto Jesus queria que todas as mulheres fossem. Apresentam três propostas: acabar com a violação dos direitos humanos na Igreja, e que tem levado à violência sobre as mulheres; a integração na Igreja da “teologia feminina”, o que favoreceria a Igreja e o Evangelho e daria voz aos excluídos, neste caso as mulheres; refletir sobre os ministérios na Igreja e não negando a assunção das mulheres às ordens existentes (bispos, presbíteros e diáconos), perceber, também, o que neste momento a humanidade necessita em termos de outros ministérios. E, aqui, não se poderá nunca esconder os milhões de cristãos, sem qualquer pastoral e comunidades geridas e animadas por mulheres, às vezes anos, até que o presbítero chegue. Não é uma luta contra os homens, mas ao serviço de todos, defender os direitos humanos, até já reconhecidos na sociedade civil.

Esta “revolta das mulheres da Igreja Católica Romana” não reconhece a “deidificação” do homem, como ser supremo, e único que chegue a Deus, mas sim que as mulheres são instrumentos de Deus para a Igreja conhecer os sinais dos tempos. Nas igrejas cristãs o número de mulheres é muito superior ao número de homens – e elas até servem de criadas, sem vencimento, para serviço dos homens, que discutem as “coisas de Deus” -, mas não será pela quantidade de mulheres ser maior que reside substrato para lhes conferir a igualdade que Jesus a todos e todas deu. Maria de Magdalena é um exemplo do que é servir Jesus, e ela não foi nunca uma apostola dos apóstolos, mas serviu como mensageira do Evangelho de Jesus, por isso, foi uma apostola, no sentido da sua plena ordenação.

Há uma comissão a discutir se poderão existir diáconas, e revê-se este refletir se no tempo de Jesus elas existiam. Se é este o problema: existiam! Presidiam a comunidades e sabemos os seus nomes. Mas, creio, que recorrer à Tradição para ordenar ou não diáconas, nos nossos tempos, é de uma argúcia vergonhosa, porque poderíamos perguntar se Jesus andava de automóvel ou ia de comboio ou se ia a com os seus pés a caminhar, então que agora os seus sucessores andem a pé a caminhar, em quaisquer distâncias. Mas, como disse, as mulheres presidiam a comunidades, refere a Tradição, a Palavra de Deus não rejeita as mulheres para qualquer papel na Igreja, os sinais dos tempos (a razão), são característicos da inserção do sexo feminino em todos os papeis da sociedade.

O Sínodo que as mulheres propõem realizar é mais um sinal do Espírito Santo de que a Igreja não está inativa. É uma revolta justa que Jesus não deixará de apoiar, dado que se faz no estrito cumprimento do Evangelho. Quando Paulo – e foi Paulo que o disse, que parece não ser tido como muito adstrito com as mulheres -, que não há judeu, nem grego, nem homem, nem mulher…, mas todos somos um em Cristo, referia-se já com a “razão” há dois mil anos.

Na sua diversidade as várias opiniões devem convergir sempre para um Ser Único, Jesus Nosso Senhor. Ele, naquele tempo, fez uma revolta maior, quando indisciplinadamente e provocatoriamente se sentou a falar com uma inimiga junto a um poço importante, a Samaritana, e esta foi anunciar a Palavra de Deus. Este gesto é indicativo do valor da mulher na sociedade em que Jesus vivia – quando elas eram mencionadas no meio dos cabritos e das cabras -, e foi este, o maior Sínodo do reconhecimento das valorosas ações das mulheres naquele tempo e no nosso tempo. Por isso o Sínodo das Mulheres é bem-vindo e representa uma ação do Espírito do Senhor.

Joaquim Armindo

Diácono – Porto – Portugal

Pós-doutorando em Teologia

Doutor em Ecologia e Saúde Ambiental

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