O ser e o fazer do diácono

 


Exposición en el Segundo Congreso Continental sobre Diaconado Permanente

 

Itaicí, San Pablo, Brasil, 25 de mayo de 2011

 Importante considerar o contexto social e eclesial porque é dele que o diácono provém e nele desenvolve o seu ministério. Desafios que interpelam e servem de estímulo para caminhar. Não é possível traçar um quadro completo da realidade em pouco tempo. Destacar aspectos que devem ser considerados atentamente para a compreensão da “identidade do ser diaconal” no contexto histórico, sócio-cultural e eclesial em que vivemos.

 

Postura diante da realidade

 

Mais do que aspectos particulares, é preciso pensar a postura frente ao contexto social e eclesial, a atuação dos diáconos na Igreja e na sociedade. Pergunta: se não existisse o diácono onde se encontra, faria diferença para a comunidade, o bairro ou a cidade? Atitude fundamental deve ser de participação responsável, de co-responsabilidade. a) Responsabilidade diante da sociedade, da história; não expectadores passivos, indiferentes, perante o desenrolar dos fatos, como se a história e a sociedade fossem feitas apenas pelos outros ou por alguns personagens ilustres; b) Diante da Igreja: co-responsabilidade, sinal de pertença e de comunhão; sentir-se participante da Igreja; não vê-la como algo externo, como se estivesse fora dela. Temos contribuição própria a dar, a começar da Igreja local (comunidade, diaconia, paróquia, diocese), em comunhão.

 

A realidade social

 

1. “Ser” diácono numa sociedade marcada pelo fazer.

 

* Risco de compreender “ministério” diaconal numa perspectiva funcionalista, pragmática, reduzindo-o a prestação de serviços, ao cumprimento eficiente de funções. Se isso ocorrer, a formação diaconal poderá ser reduzida à capacitação técnica ou treinamento.

 

* O desafio de “ser” cristão diácono o tempo todo: “permanente” não apenas em relação aos graus do ministério ordenado, mas a ser vivido sempre e para sempre.

 

2. Diácono a serviço da comunhão num contexto sócio-cultural marcado pelo “interesse próprio”.

 

* Risco de não valorizar a comunitariedade, a fraternidade diaconal e o exercício colegiado do ministério, a vida em família e em comunidade, a perspectiva de diálogo e a comunhão. O Documento de Aparecida (n. 206) recomenda a inserção no corpo diaconal. Importante recordar o grupo dos Sete. A figura do cristão ou do cristão diácono isolado não tem sentido.

 

* Por outro lado, também há sentido uma postura corporativista.

 

* Além disso, a comunhão não condiz com a exclusão. Comunhão é o contrário de desunião, mas também de exclusão. As situações de exclusão na sociedade representam quebra de comunhão. Celebramos a comunhão eucarística numa sociedade não-eucarística, marcada por divisões, graves desigualdades e exclusões.

 

* Repensar os relacionamentos humanos: “analisar como estão as nossas relações com as mais diversas pessoas que entram em contato conosco” (cf. Subsídio da IX Assembléia, p.12), destacando a vida matrimonial e familiar do diácono (“alguns diáconos vivem ‘divorciados’ das suas responsabilidades familiares e matrimoniais”).

 

3. Compreender a diaconia como serviço, numa sociedade marcada pela busca do poder.

 

* na sociedade: busca do poder (político, econômico, científico, midiático, religioso), fazendo valer o interesse particular ou de grupo, através do lucro e da competição.

 

* processo de mercantilização das relações humanas, onde o valor da pessoa é estabelecido pelo mercado, pelo poder que se tem, pelos bens que possui, pela capacidade de produzir ou consumir.

 

* busca de privilégios e honrarias, tendência em levar vantagens; risco de se ver o diaconado nesta ótica.

 

* é preciso resgatar a lógica da gratuidade, a perspectiva da graça.

 

4. Serviço da caridade perante os “novos rostos dos pobres” tornando-se ainda mais necessário e desafiador. O Documento de Aparecida (n.402) elenca os “novos rostos dos pobres”: “os migrantes, as vítimas da violência, os deslocados e refugiados, as vítimas do tráfico de pessoas e seqüestros, os desaparecidos, os enfermos de HIV e de enfermidades endêmicas, os tóxico-dependentes, idosos, meninos e meninas que são vítimas da prostituição, pornografia e violência ou do trabalho infantil, mulheres maltratadas, vítimas da exclusão e do tráfico para a exploração sexual, pessoas com capacidades diferentes, grandes grupos de desempregados/as, os excluídos pelo analfabetismo tecnológico, as pessoas que vivem nas ruas das grandes cidades, os indígenas e afro-americanos, agricultores sem-terra e os mineiros”. Aparecida destaca ainda os “rostos sofredores que doem em nós” (407-430): “moradores de rua, migrantes, enfermos, dependentes de drogas e detidos em prisões”.

 

* a serem identificados concretamente na realidade local; não basta em geral.

 

* novas situações e ambientes, mas também antigos problemas sociais que perduram e se agravam penalizando tanta gente (miséria, desemprego, violência); a vida violada desde a concepção até o seu final.

 

* pressupõe não apenas iniciativas pessoais, espontâneas, mas a caridade a ser praticada de modo comunitário e organizado, de cunho assistencial (emergencial) e sócio-transformador.

 

5.  Os “novos areópagos” se difundem e se consolidam como verdadeiros desafios para a ação evangelizadora da Igreja e, especialmente, para o ministério diaconal; terreno propício para a constituição de diaconias.

 

* Ambientes e situações que vão além da estrutura paroquial. Ser “apóstolos nas novas fronteiras da missão” exige presença nos novos areópagos: mundo das comunicações, a construção da paz, o desenvolvimento e a libertação dos povos, a promoção da mulher e das crianças, a ecologia e a proteção da natureza, o mundo da cultura, da ciência e das relações internacionais (cf. DAp 491).

 

* Pode-se incluir aqui a atuação do diácono “nos ambientes de trabalho”. Subsídio (p. 12): “O nosso ministério, como profissionais das mais diversas áreas de trabalho, se realiza muito mais nos ambientes de trabalho do que nas celebrações e atividades pastorais da Igreja”.

 

* Espaços privilegiados para a vivência do serviço da Caridade, o anúncio e o testemunho da Palavra. 

 

6. A diversidade de situações culturais existentes no Brasil, especialmente, urbana e rural, pré-moderno, moderno e pós-moderno, que se encontram frequentemente mescladas.

 

* Exigência de abertura, diálogo e formação pastoral adequada.

 

* Desafio de ser diácono “católico”: não apenas para uma categoria de pessoas, para um grupo ou segmento social; a eventual especialização pastoral não pode implicar em reducionismos no ser diaconal; desafio da busca de unidade no respeito à diversidade (perspectiva trinitária).

 

* Risco de não considerar de modo justo a cultura urbana e a rural; de não se dar o devido valor a manifestações como a piedade popular ou a anseios legítimos do homem “moderno”.

 

* dentre os principais traços culturais do mundo urbano-moderno: a emergência da subjetividade, a busca de sentido, de liberdade, a valorização dos sentimentos (afetividade), a fruição do momento (satisfação imediata), a dimensão estética, repercutindo muito no universo religioso, no modo como se compreende e se vive o religioso. Ambivalência destes novos traços.

 

A realidade eclesial

 

Alguns tópicos para ajudar a refletir sobre a identidade – “ser diáconal” – no atual contexto eclesial.

 

  1. 1.O pluralismo cultural, ético e religioso redefinindo o papel da Igreja na vida das pessoas e na sociedade.
  • Importância da identidade e da contribuição própria num clima de diálogo, de fidelidade ao Evangelho e de comunhão eclesial.

 

  1. 2.Novo cenário religioso.

 

  • A multiplicação das novas denominações religiosas: os “evangélicos”, o neopentecostalismo; a “teologia da prosperidade”.
  • o “mercado” religioso, com estratégias de marketing; o crente visto como consumidor; a satisfação das necessidades pessoais; o proselitismo e a competição; o risco de ser “Igreja” de mercado; a ausência da questão social ou militância política corporativista; enfraquecimento ou ausência do profetismo e do “martírio”.
  • a satisfação das necessidades pessoais e imediatas (consumismo religioso), a livre escolha religiosa; o indivíduo acima da instituição (o padre ou pastor procurado mais do que a instituição religiosa).
  • aumento dos que se declaram “sem religião” e grande percentual de “católicos não-praticantes”, sem participação na comunidade eclesial.
  • compreender este cenário não para acomodar-se nele, mas para buscar transformá-lo a partir de posturas pastorais adequadas.

 

 

 

  1. 3.A estrutura paroquial no novo contexto sócio-cultural e eclesial.

 

  • Limitações da paróquia tradicional geograficamente delimitada e centralizada na matriz, especialmente, nos centros urba
    nos maiores, onde a vida das pessoas acontece numa diversidade de espaços geográficos.
  • “Fazer da Igreja casa e escola de comunhão”, promovendo a experiência de vida comunitária. O Documento de Aparecida (n. 205), ao falar dos diáconos, afirma: “são ordenados (…) também para acompanhar a formação de novas comunidades eclesiais, especialmente, nas fronteiras geográficas e culturais, onde ordinariamente não chega a ação evangelizadora”.
  • A valorização dos ministérios ordenados e não-ordenados. Igreja ministerial, paróquia ministerial, onde há lugar para as diferentes vocações e ministérios, incluindo o ministério do diácono e os ministérios confiados aos leigos; não monopólio do ministério diaconal.
  • O papel dos leigos nas comunidades, pastorais, movimentos, organismos de participação e comunhão. Os novos movimentos eclesiais e as novas comunidades, com seus valores, contribuição e limitações. O diácono servidor de todos, sem reducionismos ou absolutização de experiências ou espiritualidades específicas; promover a comunhão e a inserção na Igreja local.

 

  1. 4.A conversão pastoral e a renovação missionária de toda a Igreja.

 

  • A influência de Aparecida; seu grande potencial renovador na Igreja, inclusive para o diaconado permanente;
  • DAp 370: “a conversão pastoral exige que se vá além de uma pastoral de mera conservação para uma pastoral  decididamente missionária”.
  • DAp 365: “esta firme decisão missionária deve impregnar todas as estruturas eclesiais…”. No final deste parágrafo: “abandonar as estruturas ultrapassadas que já não favoreçam a transmissão da fé”.
  • DAp 548 – Missão Continental: “necessitamos sair ao encontro das pessoas, das famílias, das comunidades e dos povos…; não podemos ficar tranquilos em espera passiva em nossos templos, mas é urgente ir em todas as direções…”.
  • O diaconado permanente não pode ficar fora deste processo de conversão pastoral e renovação missionária; há o desafio de repensar e aprofundar os critérios de seleção, de formação e de ação pastoral dos diáconos, bem como, a vivência pessoal do diaconado.
  • Diaconado permanente à luz dos três grandes eixos de Aparecida: o discipulado, a comunidade e a missão.
  • Crescimento do número de diáconos e escolas diaconais no Brasil.  DAp 99-c  destaca como  positivo o “desenvolvimento do diaconado permanente”  e o “grande esforço que se faz para a formação…. nas escolas para o diaconado permanente”.

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