O Diácono vive na alegria do Evangelho

 

Diacono Mario Henrique Pinto

 

O Diácono vive na alegria do Evangelho

Na segunda metade do mês de abril passado, tivemos a semana de Oração pelas Vocações e curiosamente em Portugal,
foi omitido em geral a vocação ao Diaconado Permanente.

Falou-se muito da vocação ao Sacerdócio, às vocações consagradas, ao matrimónio cristão e às vocações ministeriais de leigos. Os diáconos na sua humildade são superiores a essas “gafes”, porque já estão habituados a ser um “ornamento”, uma presença tolerável que por vezes é útil, mas na maioria das opiniões, tanto dos leigos como dos padres são dispensáveis.

Ainda há muito caminho a ser feito, a sua restauração com o II Vaticano, é como um “bebé” que caiu do céu e todos pensam que é ilegítimo e vêm tirar o lugar aos veteranos. Todos devem ficar descansados, sabeis porquê? Porque o diácono vive a alegria interior de seguir o Evangelho, o seu Senhor, que o chamou para o seguir no silêncio da sua vocação, no ministério sagrado de ser aquele que participa da presença do seu Amado Jesus Cristo. Não gosta de dar nas vistas nem quer tirar protagonismos, não quer mostrar que sabe fazer tudo, mas está sempre atento `a voz do Espírito. Na sua paciência e na sua bondade está sempre preparado para cumprir aquilo que o Senhor lhe pede através de alguma necessidade da Igreja para com os irmãos. Não é ganancioso, porque pela sua dupla sacramentalidade sabe viver no muito e no pouco, aceita aquilo que Deus coloca nas suas mãos. Por vezes é chamado ao anúncio da Palavra, logo é criticado, não, por não saber, mas, por falar com alma e com o coração, sendo por vezes incómoda só, a sua presença; é como dizia no Informativo anterior de junho, o diácono Joaquim Armindo num dos seus textos, que há imagem de Jesus o diácono é também um marginal, porque a sua presença incomoda, os poderes instalados tal como um “espelho” que mostra a imagem por vezes feia que se quer esconder, como se tudo não passasse de uma cena teatral !

Não é por acaso que já é possível ouvir vozes a desautorizar as palavras do Papa Francisco em homilias, uns por acharem que o Papa é aquele super-homem, que pode modificar tudo que já não está na moda, ou outros que estão à espera que ele morra para fazer o assalto ao poder.
Como é frágil a sua humanidade, como deve sofrer este homem sucessor de Pedro que inspirado pelo Espírito tenta fazer o seu melhor no meio de tanta adversidade, incompreendido na sua bondade , no seu amor por Deus e pelos últimos. Veio tirar os privilégios dos príncipes e dos poderosos e na sua denúncia é perseguido e “deitado” aos leões na arena de Roma, se estivesse no tempo dos Apóstolos.

Como é vil a maldade e a hipocrisia dos homens que por um lado se fazem de santos, mas que de lobos se tratam. Quando ele partir esperemos que o Diaconado não seja vencido também, pela maldade dos homens que sempre lutam contra a vontade de Deus.

Esta presença diaconal na hierarquia foi restaurada na Igreja, não por vontade humana, mas por vontade divina que sempre conduz cada um de nós com a sua Omnipresença. Não é um sinal evidente que a crescente evolução de ordenações de diáconos permanentes não são obra do acaso?

O diácono hoje, sabe que está a construir o caminho das próximas gerações de diáconos, que terão cada vez mais responsabilidades pastorais. Mas como nos é aconselhado:” tratai de cair nas boas graças dos vossos párocos” assim podemos perceber como desejam tratar o ministério criado pelos Apóstolos. Se forem “servis e mansos”, não fizerem “ondas” e levarem ao “colo” os vossos superiores na hierarquia sereis toleráveis.

Cito a referencial passagem dos Actos dos Apóstolos 6,1-6, da escolha dos Sete próto-diáconos, eles foram enviados para presidir às comunidades cristãs helenistas, que estavam a ser descuradas, este serviço também incluiria tudo o que faziam os anciãos (presbíteros). Aconteceu comigo que me pediram para ir rezar por uma mulher nos seus últimos dias de vida, abençoá-la e prepará-la para a sua partida o que eu fiz de boa vontade e sem qualquer outro interesse a não ser esse gesto de caridade. Logo passado uns dias fui repreendido que não podia fazer aquilo sem autorização. É assim que funciona ? Não fui dar a extrema -unção, pois até nem tenho o óleo dos enfermos, nem sequer o Viático, então porque o diácono que foi chamado não pode ir fazer a visita, uma vez que ainda mais, com a escassez de párocos esse serviço praticamente foi abandonado?! Sabemos pelos textos antigos que em alturas excecionais os diáconos, administravam o sacramento da reconciliação em caso de morte eminente de alguém. Hoje ainda não se consegue entender o lugar, quem é, o que é, para que serve, o diácono estável ou permanente.
Todos devemos saber de casos sobre estas questões,” para quê os diáconos se os leigos podem fazer a mesma coisa?”, dizem uns. Por acaso não saberão que não foram os próprios a pedir a restauração, mas sim por inspiração do Alto, no seu tempo certo? Por acaso haverá muitas dúvidas que o caminho natural da Igreja será aceitar o regresso das mulheres diáconas? Tanta falta fazem, neste “universo” machista, que não conta a eficiência e as capacidades e “jeitos” próprios daquelas que sempre souberam lidar bem com o lado afetivo, intuitivo e amoroso da vida, mais que os homens muitas vezes protagonistas de um crescimento debilitante e traumático ao nível afetivo? Vós caríssimas esposas dos diáconos em que muitas de vós partilhais e acompanhais a caminhada com vossos maridos na dupla sacramentalidade, e que dizer de todas aquelas mulheres que entregaram suas vidas ao seu Esposo Jesus, consagrando-se ao serviço dos mais frágeis, não são igualmente ilegíveis para serem ordenadas diaconisas?

Será que também muitos ainda duvidam que os diáconos permanentes são uma porta aberta de aprendizagem para o descerrar da obrigatoriedade do celibato sacerdotal? Ou será melhor toda uma “misancene” oculta, muitas vezes com finais tristes?

O caminho da Igreja não é feito pelos homens, é um caminho com recursos humanos com o Arquiteto por trás. Tanto os Pastoralistas, como os Teólogos ou os Canonistas são instrumentos da Verdade que têm por missão em sua conjugalidade ouvir a voz do Divino no seu contexto espaço-temporal, eles não são, nem têm por si sós a verdade.

A Igreja na Europa na qual se situa a Região Ibérica e na qual o Informativo se insere, está desde há muito a atravessar uma crise de identidade de fé, os valores já não são transmitidos às novas gerações como outrora. Com o agravar da pandemia à escala global a extensão do problema da vivência da fé ainda mais se agravou. Vive-se como se a fé cristã estivesse encerrada nas igrejas e só para grupos pequenos de pessoas das gerações mais velhas; e os mais novos? Quem lhes consegue tirar a tecnologia e os prazeres da vida virtual? Sim, a Igreja na Europa está a passar um momento de grande “limpeza” espiritual, quase em agonia, sem ânimo (quase sem alma) ministrando o básico dos básicos. Continua-se a pensar no modelo antigo na figura do párococentrismo, como se fosse possível continuar no mesmo paradigma do passado. O diácono para que serve? Não serve para grande coisa, dizia-se no meio do clero “quem os propôs que se coza”. Lembro-me numa Assembleia Nacional de Diáconos em Fátima há uns anos atrás, ter sido levantada a questão que ninguém gosta de tocar: “ o diácono é mão-de-obra barata na Igreja”.

Pois aqui está uma das raízes do problema entre os diáconos e os presbíteros. Se alguns diáconos são reformados e têm boas reformas podem prescindir do direito da côngrua por serviços que presta quando é chamado, mas há muitos casos de diáconos desempregados, ou com reformas insignificantes que devem ter direito a usufruir de uma partilha económica pelos seus serviços pastorais.

Que por acaso é o meu caso que nem tenho ainda idade de ser reformado, nem estou empregado juntamente com a esposa. Todos sabem o que se passa, mas passam como na “parábola” e olham para o outro lado…! Porque não é feito um levantamento sobre a saúde e a situação familiar dos diáconos? Se a formação diaconal durante os quatro anos foi paga pelo próprio diácono, é justo que usufrua no caso de necessitar da côngrua dos serviços que presta, por outro lado se foi através da comunidade de fé que seus estudos foram pagos, (para que se saiba ficam por vários milhares de euros) então é compreensível que não tenha de receber nada por servir na comunidade(s) .

O título deste texto, é, o diácono vive a alegria do Evangelho, na sua solidão na sua interioridade ele coloca-se aos pés de Jesus a quem serve, e é neste servir que quer também servir aos irmãos em Cristo, mesmo sabendo que muitas vezes é incompreendido e mal tratado, vive essa felicidade interior, intensamente sendo fiel ao compromisso sacramental, mas muitas vezes dececionado com a realidade que o véu ao abrir-se se lhe vai revelando…
Como este Informativo é vocacionado para os diáconos em primeiro e às suas esposas e a todos aqueles que direta ou indiretamente estão relacionados com o diaconado, gostaria de lembrar o imenso labor que ressoa aqui sobre vós, irmãos diáconos de todo continente Americano. Aqui em Portugal os diáconos acham que para a ordenação diaconal devia ser exigido a licenciatura Teológica ou Ciências Religiosas, não será isto querer configurar-se aos presbíteros? E não será um clericalismo camuflado? Imagino muitos de vós longe das Escolas de Formação Diaconal se tivésseis de ter todos uma licenciatura …Tantos diáconos sábios e investidos do Espírito Santo que não são doutores (no sentido académico) e fazem grandes serviços nas comunidades! A cada um nos é dado um dom particular.

Queridos irmãos dêmos o nosso testemunho com Amor, com Verdade, na Família, no Mundo vivendo com alegria o Evangelho, dia após dia, sempre disponível no chamamento do Mestre, e sua Face, vai pouco a pouco sendo revelada, como sugere a imagem .

Que a Virgem Maria e S. José intercedam pelos diáconos .

One thought on “O Diácono vive na alegria do Evangelho

  1. De acordo, exceto na formação que, creio, deverá pelo menos ter a licenciatura em Ciências Religiosas. O Clericalismo forma-se pelo clero poderoso, o que é normal em Portugal, mas não pelas habilitações académicas.

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