Diácono José Carlos Pascoal: "Clero e agentes de pastoral longe do povo?"

Ouvi durante a manifestação do “Grito dos Excluídos”, uma frase que me provocou profunda tristeza, apesar de concordar com a mesma. Gostaria muito (e sempre peço a Deus por isso), que fosse diferente. A frase é: “Muitos padres e diáconos têm as roupas arrumadas e perfeitas e os sapatos limpos porque não pisam na periferia”.
 
É constante a nossa afirmação e confirmação de que os políticos estão cada vez mais longe do povo. Têm os mandatos para nos representarem, mas preferem se locupletar com o dinheiro da corrupção, com os desmandos do poder, com as facilidades de enriquecimento ilícito. A cada dia, novo escândalo.
 
No caso do Clero, estar longe do povo tem outra dimensão, mas é ao mesmo tempo grave. Os pobres encontram na Igreja, em suas Pastorais e Movimentos Sociais a ajuda que precisam para sobreviver, para manterem viva a esperança de dias melhores, de promoção social. Mas, em contrapartida, as Pastorais e Movimentos Sociais estão tendo cada vez menor apoio por parte de alguns bispos e de muitos párocos. Parecem que estão fechando os ouvidos para não ouvirem os apelos do papa Francisco de uma Igreja em saída, de uma Igreja pobre e para os pobres, de uma Igreja evangélica e evangelizadora, missionária e acolhedora.
 
No caso dos leigos, a grande dependência do pároco, que torna o leigo clericalizado, impede sua participação em eventos de natureza social. Já as Pastorais Sociais minguam por não ter suporte logístico e financeiro por parte de algumas dioceses e paróquias para cumprirem a formação adequada em encontros, Fóruns e Retiros, além de cumprirem um certo formalismo litúrgico nas ações que deveriam ser litúrgicos sociais.
 
Quando da visita do papa Francisco a Aparecida, em 2013, ficamos aguardando a missa debaixo de forte temporal, porque, por imposição da Polícia Federal, a administração da Basílica nos impediu de entrar no templo antes que o papa estivesse pronto para a Celebração. E fiquei estarrecido ao ouvir o diálogo de dois presbíteros ao nosso lado. Um deles disse: “Temos hoje, por graça de Deus, um papa que se preocupa com os pobres e excluídos. O papa certo no momento certo, que dá testemunho de simplicidade e nos exorta a sermos simples e estarmos juntos do povo humilde”. Respondeu o outro: “Que nada, você acha que posso viver sem o celular, tablete e computador, sem um carro novo, sem ar condicionado? O papa falou, mas não somos obrigados a cumprir isso”. Ouvindo isso debaixo do temporal, ao lado de um amigo diácono, me deixou triste e estarrecido.
 
Celebrando o “Grito dos Excluídos” desde 2006, em minha cidade (Salto) e na sede da Diocese (Jundiaí) a partir de 2011, a cada ano lamentamos a ausência dos presbíteros e diáconos. Numa diocese com cerca de duas centenas de clérigos, exortados pelo bispo diocesano a participarem, vemos com tristeza um número ínfimo dos pastores das comunidades (nos últimos anos, nunca ultrapassou o número de três presbíteros e três diáconos). E, pior ainda, a não participação de pastorais, movimentos sociais e Cáritas de outras cidades da diocese, exceto as 3 mais próximas da sede. Neste 7 de setembro, sob a presidência do bispo diocesano, concelebraram 2 presbíteros e a celebração contou com 3 diáconos.
 
O carisma diaconal é estar a serviço do pobre, do excluído, do marginalizado. E, no entanto, a ausência dos diáconos, num momento em que se deve propor a ser e dar a voz do excluído, mostra que há muitos diáconos que preferem outras ações na Igreja, menos o ministério diaconal em sua essência. Não basta ser ordenado, é preciso “SER” diácono.
 
Duas frases do bispo, que considero chave para completar minha reflexão: “Parabéns, a vocês, heroicos participantes deste Grito dos Excluídos”; “Que bom termos um grande número de seminaristas nesta celebração. Espero que a presença não seja por imposição do Reitor, mas pelo desejo de participar”. Isso é alentador, pois o bispo se preocupa com os pobres e excluídos. Pena que, dos aproximadamente 30 seminaristas presentes, apenas 4 ou 5 permaneceram no Ato Cívico. Pena também que jovens presbíteros não estão preocupados com a questão social aflitiva do nosso povo. Há muita preocupação com as vestes, com os templos, até com o dízimo, mas (e isso serve como alerta aos diáconos, já que muitos têm a mesma preocupação), é preciso mais atenção aos excluídos da sociedade. É cada vez mais necessário ir à periferia, aos sem os 3 “Ts”: Sem Teto, Sem Trabalho, Sem Terra.
 
Diácono José Carlos Pascoal e Diácono Permanente na Paróquia São Benedito, Salto, diocese de Jundiaí, SP. Participa do Fórum das Pastorais Sociais da CNBB Regional Sul 1. É agente da Pastoral da Moradia em Salto, SP.
 Tomado de: cnd.org,br

Deja una respuesta

Tu dirección de correo electrónico no será publicada. Los campos obligatorios están marcados con *