COVID 19 – UMA NOVA GLOBALIZAÇÃO

“Catalán de nacimiento. Brasileño “naturalizado por la malaria”. Africano e lationamericano por pasín. “Mi pátria es araguaia”, assegura. Un ciudadano de la humanidad, dicen todos”, escreve Ana Helena Tavares no seu livro, publicado há pouco, em espanhol, pela editora Verbo Divino, “Uno bispo contra todas las cercas”, sobre o bispo Pedro Casaldáliga. A leitura deste livro leva-nos, neste tempo de pandemia a refletir sobre o paradigma de uma nova humanidade. Como Pedro dizia “En tierra de hombres, no existe extrangero”, e ninguém pode ser estrangeiro na nossa humanidade, mesmo que para tal seja necessária uma alteração radical da sociedade, e muito mais da nossa Igreja. O livro de Ana Helena sobre Casaldáliga demonstra um bispo que esteve sempre com o povo, e nunca ao lado dele, porque se sentia, embora nascido na Catalunha, um bispo que não pertencia nem à sua diocese de Araguaia, nem à sua terra de nascimento, mas provedor de uma nova globalização onde os homens e as mulheres se tratem como iguais, não numa integração, mas numa inclusão, e esta é a aposta para vencer os vírus, quer este maldito COVID – 19, quer quaisquer outros vírus provenientes dos poderes políticos, religiosos ou sociais. Este poderá ser um ponto de partida para a interculturalidade e não para a subjugação de uns povos sobre outros.

Permiti um parêntesis. Há dias estive presente numa conferência sobre a “Ética da Inclusão”, por iniciativa da Igreja Presbiteriana de Portugal, e pude ouvir o meu amigo de infância Professor Doutor David Rodrigues, que, muito bem, dizia que uma integração, não é uma inclusão, integrar é chamar o outro para o nosso ponto de vista, a nossa cultura, incluir será diferente é irmos todos, com virtudes e defeitos, ao encontro de todos, por isso mesmo a nova globalização há de ser inclusiva e não integradora, afinal o que o bispo Casaldáliga fez da sua vida.

Por muito que custe perder os poderes, os nossos bispos terão de saber estar nesta nova globalização, após COVID -19, e ter como mitra, um chapéu da cultura dos povos, o sol e o luar, a chuva e o sereno, o olhar dos pobres com quem caminha, e o olhar glorioso de Cristo, o Senhor; por báculo a Verdade do Evangelho e a confiança do povo em si, porque sempre está sentado, não num cadeirão, acima de todo o povo, como homem só, mas imerso nele, como pertença dele; por anel, a fidelidade à Nova Aliança do Deus Libertador e a fidelidade ao povo, de que será o último; por escudo a força da Esperança e a liberdade das filhas e dos filhos de Deus, nem terá luvas, mas o serviço do amor, como foi dito na sagração do bispo Pedro Casaldáliga.

Este livro, agora publicado em espanhol, é um sopro de uma Igreja missionária ao serviço das mulheres e dos homens, quem quer que sejam e que os nossos bispos devem ler. Uma história que conta: aquando de um assalto realizado à sua residência pela polícia ditatorial, então no Brasil, que procurava panfletos e livros subversivos, o bispo Pedro – não coloco nunca o “dom”, porque ele o abominava -, pegou no Novo Testamento fez uma dedicatória e disse: “pega aqui tens o livro mais subversivo que existe”.

Mas Pedro, também, sempre foi poeta, porque comungava da utopia da poesia que é realidade, e em 1982, aquando da morte em França, para onde foi deportado em 1979, do padre Francisco Jentel, escreveu este poderoso poema: “En el lado de la alegría/no hay más Codearas, /ni leys de Seguridad Nacional./Tampoco presidentes Geisel,/ ni acuerdos entre ambajada y nunciatura…/El tribunalde los hombres serviles/ahora es el abrazo del justo indefectible./ La cárcel-cuartel/ya es la liberdad./Tus varios exílios/ya son,por fin, la pátria./El juez auditor y Jesucristo/coinciden en la última sentencia.Descansa en paz, Francisco.”

É uma lucidez de bispo, como Pedro, que lutou por uma sociedade onde todas e todos tenham lugar, com profundo culto da cultura dos povos, que levará a que esse novo paradigma de humanidade tenha lugar na sociedade do após COVID -19, que não pode ser igual aquele que existia, mas será um outro, como o de Pedro Casaldáliga.

A Igreja, as Dioceses e os bispos, os presbíteros e os diáconos, devem assumir uma Luz, que não pode ficar debaixo do alqueire. Uma radicalidade como a de Jesus de Nazaré. Assim seremos servos e não senhores, teremos cadeiras e não tronos, que infestam o povo de Deus.

Joaquim Armindo

Diácono – Porto – Portugal

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