AS DUAS MÃOS ERGUIDAS EM DEFESA DO UNIVERSO

Estamos perante uma situação explosiva neste universo que Deus nos deu para passearmos e cuidarmos, onde a única lei existente é que era proibido proibir. Mas não respeitamos este universo, as suas estrelas, os seus planetas, o seu céu azul, os prados e os montes, os mares e suas areias. E os outros seres viventes, que desprezamos, as plantas e as árvores e as aves voadoras e animais selvagens. E aqueles – que achamos não serem viventes -, os abióticos, que são memórias, também nos falam, como os museus e os mosteiros ou os castelos. O equilíbrio do nosso universo é colocado em causa e já são milhares de milhões de toneladas de “lixo” que vagueiam no cosmos, pronto a abater-se sobre a nossa Terra ou sobre os outros planetas. Quando nos falam em pegadas ecológicas, são coisas de extremistas, e ligamo-los à esquerda extrema. Abandonamos os nossos rios e ribeiras à sorte dos dejetos que não queremos, esmagamos o nosso planeta até ele não poder mais. A nossa Casa Comum é tratada com selvajaria, e estreitamo-la ao nosso canto, com muros e vedações, para melhor espoliar os mais pobres, mesmo que para isso tenhamos de combatê-los, se eles morrerem arranjamos outros. Ou melhor, arranjamos instituições chamadas “de caridade”, para melhor os controlarmos, e, assim, alijar as nossas consciências.

Eis que aparece um homem, vestido de branco, e que há poucos dias, foi louvado por aqueles que nem são crentes, que publica dois documentos, na senda daquilo que a Organização das Nações Unidas propõe, com a sua doutrina sobre a sustentabilidade. Esses documentos que se chamam “Louvado Sejas” e “Querida Amazónia”, chamam toda a humanidade a cuidar da Casa Comum, nas suas múltiplas facetas, conjugando-as e caminhando para um terreno fértil. Estes sonhos de cariz cultural, ambiental, social e eclesial – da “Querida Amazónia” -, vêm complementar a “Louvado Sejas”, e dizem ao mundo cristão ou não, que o caminho a seguir não é ignorar esses alicerces a favor de uma economia que há muito deveria ter um outro paradigma. A quem ele se dirigia, e, nomeadamente, aos cristãos católicos, tais documentos foram direitinhos para o “caixote do lixo”, e só, e só, mesmo só, muitos que são ateus ou agnósticos lhes deram o valor sustentável, como contributo essencial para a vida humana.

Mas também aparecem outros como o Cardeal Burke que perante a pandemia que estamos a atravessar e quando Francisco, o homem de branco, só, de tal forma que sensibiliza todos os homens e mulheres de boa vontade, na Praça de São Pedro, recomenda, contra as diretivas da Organização Mundial de Saúde, que os cristãos devem ir para os templos, que é lá o seu lugar, mesmo que se contaminem com o vírus, parecendo os presidentes do Brasil, Estados Unidos ou Inglaterra. Pode ele não ir, é um Cardeal, e celebra missa na sua capela particular, mas os outros, os cristãos, os vulgaríssimos cristãos, esses podem muito bem contaminar-se, em nome de um Jesus, que não é o da manjedoura. Este sinal de Burke não é isolado, tem a parceria de muitos outros, como Cardeal Sarah e Joseph Ratzinger, papa emérito.
O COVID-19 não é um castigo, muito menos de Deus, mas o sinal de que deveremos avançar à luz de Jesus e do seu Evangelho, mesmo contra Cardeais, que só mesmo a eles se servem. Mas o COVID -19, aquele que veio de animais, é o sinal de que podemos destruir toda a face da Terra. É por isso tão evidente que se requer aos cristãos a sua ação decisiva para o combater, e inaugurar uma nova era, onde as armas deem lugar ao “arado que lavra a terra”.

O ataque violento do COVID-19 não pode deixar tudo na mesma, após os milhões de mortes que produzirá, é necessário que os cristãos se levantem e ao sair dos templos pensem e ajam, como cuidadores da Casa Comum. Os apelos dirigidos pelos ortodoxos, católicos, anglicanos e todas as religiões cristãs, e mesmo de todas as tradições espirituais, sobre a defesa do Clima e da Terra, nunca mais poderão ser ignorados.

Mas as cristãs e os cristãos não olhem para a “Louvado Sejas” ou “Querida Amazónia”, como documentos reflexivos, pois trata-se de ação. Sei que numerosos dirigentes, bispos, padres e diáconos, pensaram que estas reflexões e sonhos, eram para ler – se fossem lidos, já não era muito mau -, rezar e guardar. Enganam-se e enganaram-se, são mesmo para colocar em prática, até porque o “Querida Amazónia”, não é para aquele lugar, é para todos nós. E todos temos “Amazónias”.

Que pelo menos os diáconos possam na sua função diaconal ser forças disruptivas e coloquem o Evangelho da Vida, na luta contra o COVID -19, e prospetivem a defesa da Vida, que Jesus de Nazaré é. Os bispos, os presbíteros e os diáconos, se não o fizerem, serão cooperadores dos vírus que aí virão. Se não o fizermos sobre os telhados seremos os demónios à solta, contra a Verdade e a Vida. E se não nos ouvirem que andemos com uma canga de bois, como Jeremias, ou nu como Isaías, para pelo menos olharem.

Duas mãos erguidas de cada um de nós, como Moisés, duas mãos erguidas com o cajado que separa as águas e dá liberdade às filhas e aos filhos de Deus.
Joaquim Armindo

Diácono – Porto -Portugal
Doutor em Ecologia e Saúde Ambiental

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