AS AMAZÓNIAS DOS DIÁCONOS

A Amazónia dos diáconos é cada parte da nossa terra. Aqui em Portugal, nós, diáconos, somos Amazónia. Isso significa que o diácono está sempre acampado em defesa do Jesus oprimido e martelado até ao amago dos sofrimentos dos pobres e da Terra. Isso significa que a ignorância do que se passa em cada lugar onde estejamos é pecado, somos obrigados a ver a Terra a brotar sangue e os oprimidos a clamar “Pai porque me abandonaste?”. E tanto do nosso clero – onde estamos incluídos -, desconhece o sofrimento de cada parcela da terra e de cada homem ou mulher na sua dignidade de Filhos e Filhas de Deus. Estas “Amazónias” abandonadas são fruto da nossa incapacidade de compreender o que é a misericórdia de Deus. Cada pedaço que andamos e descuramos é uma flecha apontada ao filho do carpinteiro. Estas “Amazónias” existentes em África, na Ásia, nas Américas ou nas Europas, têm um evidente significado escatológico, compete-nos, enquanto cristãs e cristãos, uma atuação determinante como o Espírito do Senhor requer. Nós que devíamos estar possuídos deste Espírito que o Senhor nos deixou, estamos constantemente a abandoná-lo. E é por isso que este mesmo Espírito Santo cada vez mais fala ao mundo por tantas nossas irmãs e nossos irmãos, de outras religiões e sem qualquer religião. O terreno fértil que deveríamos ser, está toldado de lamaçal pelas nossas incompetentes doações, mais parecidas com o Diabo que quis tentar Jesus no deserto. Nós estamos a tentar Jesus nos pináculos dos tronos colocadas nos templos, em sinal de um poder de não-serviço, quando não de anti-serviço. As nossas orações são rezas sem qualquer tipo de ação, mas de quem detém e quer continuar a ter e a ser poder. Os poderosos somos nós, que recusamos a viver o menino da manjedoura.

Como eu gostaria de ver uma Igreja aberta ao presbiterado de homens casados. De que todas as comunidades cristãs tivessem na Eucaristia o agradecimento da semana que passou e o argumento cristão da semana que aí vem. Como eu gostaria de ver em cada comunidade um presbítero – temos tantos diáconos, ditos permanentes -, nas condições necessárias para tal. Teriam cometido o pecado do casamento? Não creio! No casamento só pode estar Jesus, e é absolutamente independente da ordenação presbiteral. Não façamos mais dogmas, quando Jesus nos deixou a liberdade de sermos libertos. Aliás, necessário se torna que a Igreja (re)leia os seus dogmas, e faça deles um serviço às mulheres e aos homens livres e não obstáculos que nem o Espírito do Senhor compreende. A Luz de Jesus determina a urgência da abertura ao presbiterado de homens casados e que não se ofusque pela prazenteira e, ao mesmo tempo inócua determinação, sem qualquer base bíblica e teológica e ética e moral e da tradição, do uso do “solteirismo” como base sufocante do cantar as aleluias necessárias aos nossos tempos, como até nos primeiros tempos que Jesus inaugurou.

Como eu gostaria de ver uma Igreja aberta à ordenação das mulheres ao presbiterado e ao diaconado. Como eu gostaria de ver as mulheres a servir ao nosso Deus, sem ser nas cozinhas ou como criadas dos senhores que até hoje governam as Igrejas. Como eu gostaria de ver o sorriso que é a Luz de Cristo nos altares a celebrar a Eucaristia, na pessoa das mulheres. Como eu gostaria de ver o gesto feminino no diaconado, com uma nova e mais evidente forma de amar o outro e O Outro. Também é incompreensível ofuscar as leituras bíblicas, a teologia, a ética, a tradição ou a moral com “razões” completamente erróneas para não ordenar as mulheres.

Como eu gostaria que neste ano e 2020, a Igreja Católica Romana, desse este gesto de reconciliação com os tempos que vivemos, ordenar mulheres e homens, casados ou não, ao diaconado e ao presbiterado. Não é uma fraqueza da Igreja ler os sinais dos tempos, e como leu que não poderia ordenar homens e mulheres casados ou não a todas as ordens – diaconado, presbiterado e bispado -, agora entendesse que Jesus nunca isso ensinou.

Seria de uma grande humildade reconhecer em 2020, que, independentemente da falta de presbíteros, reconhecer que não existem razões para a não ordenação de cristãs e cristãos empenhados, ao serviço de Deus Pai, Deus Filho e Deus Espírito Santo. É o descobrir do serviço aos outros que está em causa, desafiando aqueles poderes que se dizem “castos” e empenharmo-nos todas e todos na mensagem do Evangelho.

Estas também são periferias da Igreja: a ordenação de homens e mulheres casados ou não, saibamos nós destruir estes nefastos “muros da vergonha” e “amazónias dos vendilhões dos templos”. Que a Luz de Jesus, seja para nós o Caminho, a Verdade e a Vida.

Joaquim Armindo
Diácono – Portugal

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