Diáconos: Espiritualidade

Os diáconos não possuem uma espiritualidade. A espiritualidade de Jesus pertence a todos, sejam membros do clero, não sejam membros do clero. O Professor Frei Carlos Gonçalves explica na “Revista de Espiritualidade”, de abril de 2019, os conceitos a ter sobre “espiritualidade”. Explica que na antropologia judaico-cristã clássica o ser humano sendo uma totalidade exprime-se na tripla dimensão do corpo, alma e espírito. Com o corpo o ser humano relaciona-se com os outros e o mundo, a alma é a identidade que constitui o centro individual e de consciência e o espírito a relação vertical com Deus. Implica tal uma relação com Deus e um sentido profundo à relação com os outros.

Já no final do século XX e princípios do XXI – diz o autor -, o movimento científico apresenta um construto com três referências de espiritualidades contemporâneas: espiritualidades terapêuticas, feministas e monásticas. 1) A espiritualidade terapêutica focaliza-se no individuo e no aqui e agora e tenta-se sanar a vulnerabilidade da pessoa consigo mesma através de fármacos, afim de lhe retirarem os medos e as angústias. Hoje são substituídas por medicinas alternativas como as práticas orientais, budistas, crenças e culturas. 2) A espiritualidade feminista, que provém do domínio do homem sobre a mulher, denuncia as linguagens existentes masculinas usadas pelas religiões, onde a dominância do masculino, detém o poder sagrado, é assim uma tomada de consciência da parte feminina. 3) A espiritualidade monástica, é a que existe em mosteiros, onde reina o silêncio e a vida interior de cada pessoa. Onde se fazem os retiros e, curiosamente, – digo eu -, as empresas começam a usar.

A espiritualidade adquire quatro componentes fundamentais: 1) o ser humano confere sentido à vida e à morte; 2) existe uma abertura a um Transcendente, ao Sobrenatural; 3) uma ligação à natureza; 4) uma ligação aos outros, comprometida, solidária, justa e digna. Constitui, pois, uma operante força sobre o domínio físico, a saúde, a fadiga e a energia, sobre o domínio psicológico, os sentimentos, os pensamentos, sobre a autonomia pessoal, sobre as relações sociais, onde se envolve as questões psicossexuais e as ambientais, onde predominam a poluição, ruido e clima.

A existência da espiritualidade constitui uma necessidade do encontro do sentido para a vida, a esperança da vida, a fé em cada um e em Deus. Faz-se entender espiritualidade como um bem-estar psicossocial, que intervém com decisão na qualidade de vida de cada um dos viventes, seja qual for a Transcendência a que se dirige. A espiritualidade constitui um fator de desenvolvimento do pensamento positivo face à dor, tendo ela um pendor religioso ou não. Nem só as religiões conseguem realizar esta (re) ligação com um Todo, são meios importantes e imprescindíveis para alguns – como eu, por exemplo -, mas ela pode ter uma outra base de bem comum. Como afirma Frei Gonçalves a espiritualidade atua a três níveis: o psicológico, o social e o comportamental. Permite enfrentar com maior aptidão os acontecimentos trágicos da vida e reduz o nível de ansiedade. Permite uma maior estabilidade social e familiar, a honestidade, a generosidade, o perdão e a humildade. Permite promover comportamentos saudáveis e práticas sexuais seguras.

Aparecem muitas “novas” espiritualidades, nomeadamente procurando a paz interior, que as Igrejas cristãs não foram capazes de transmitir, e sem sequer colocar em questão que os relaxamentos são formas de a encontrar, pesando, no entanto, os negócios que daí advêm, a espiritualidade dos cristãos deve compreendê-las e usá-las numa abertura ao mundo e à natureza.

A mulher e o homem não vivem sem espiritualidade, porque são seres espirituais, mas podem fazê-lo conflituando com atávicas perspetivas conferidas por trôpegas reflexões, que não leem os sinais dos tempos do Espírito do Senhor.
Aqui cabe o papel do diácono, normalmente com personalidade de vivência na sociedade, de forma total, sem celibatos sexuais ou comportamentais, com vivência constante das vidas, das famílias e dos filhos e dos empregos. Aqui se vive uma espiritualidade engajada no mundo, e não separada.

Joaquim Armindo – Diácono da Diocese do Porto

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