25 anos de ordenação diaconal do diácono Armando Dilão “O meu ministério ganha realidade ao servir a comunidade”

É casado, é pai, é avô e garante que a família nunca esteve desassociada da sua caminhada de diácono permanente. O diácono Armando Dilão, que completou, no passado dia 1 de julho, 25 anos de ordenação diaconal, aponta a preocupação pelos outros e o seu percurso escutista, onde chegou a ser secretário nacional, como “pontos de chamada para o Senhor”.

 

É um dos rostos que se encontram na Chancelaria da Cúria Patriarcal, no Mosteiro de São Vicente de Fora, em Lisboa. Com 72 anos de idade, o diácono Dilão, como é conhecido, cumpriu recentemente 25 anos da sua ordenação diaconal. Delegado e coordenador dos diáconos permanentes na Diocese de Lisboa, considera este serviço como “um elo de ligação e serviço aos demais irmãos diáconos”. “Por coincidência, estou colocado na Cúria, o que acaba por ser mais útil em determinadas circunstâncias”, observa.

Do surgimento da sua vocação ao primeiro grau da Ordem, o diácono Dilão destaca a ligação à pastoral social como preponderante para a sua vocação. “Como leigo, estava muito envolvido com a pastoral social na minha paróquia, Santa Catarina, tendo também uma ligação muito grande com a Santa Casa da Misericórdia. Juntamente com a grande presença e testemunho de vida do meu ‘velho pároco’, o padre José da Rocha Reis, fundámos, juntamente com uma equipa, o Centro Social Paroquial de Santa Catarina, em Lisboa. Durante toda essa caminhada fui sentindo pontos de chamada para o Senhor”, refere ao Jornal VOZ DA VERDADE o diácono Armando Dilão, salientando também a importância do seu percurso no Corpo Nacional de Escutas (CNE) para a caminhada em Igreja. “Comecei a ir à Igreja desde os 5 anos de idade. Aos 8 anos fui sensibilizado pelo escutismo que existia na minha paróquia, fiz a minha promessa de lobito e permaneci no Escutismo Católico Português. Foi uma grande escola de formação humana e cristã, através de grandes dirigentes: homens de grande testemunho e autênticos formadores. Isso aproximou-me da Igreja e levou-me a conhecer o meu pai na fé”, aponta. Na “vida que passava na Igreja”, e em particular inserido em atividades escutistas, Armando Dilão conheceu o então jovem escuteiro Manuel Clemente. “Conheci o atual Cardeal-Patriarca de Lisboa há quase 50 anos no Escutismo, em Torres Vedras, enquanto ele era um jovem caminheiro. Eu tratava-o por Manuel Clemente e ele tratava-me por ‘chefe’. Logo que ele foi ordenado, tudo se mudou e hoje, ele é o meu pai na fé e foi sempre um modelo como formador, para mim, e um testemunho forte ao longo da sua vida”, garante.

 

Família

Enquanto profissional liberal e noutras funções, o diácono Dilão destaca o que mudou com a sua ordenação diaconal, em 1990, nos Jerónimos. “Nas minhas funções profissionais e noutras de carácter cívico, cruzava-me com graves problemas e não os via. Fui aprendendo a vê-los e foi assim que nasceu esta sensibilização para o diaconado permanente”, refere, lembrando que a família teve um lugar preponderante. “A minha mulher nunca esteve, de forma alguma, desassociada da minha caminhada. Ela compreendeu sempre a minha vocação porque nos conhecemos desde os 11 anos… Dou graças a Deus por isso”, afirma este membro do clero de Lisboa, que este ano celebra 52 anos de matrimónio.

Da sua caminhada de formação diaconal, Armando Dilão lembra alguns episódios de sofrimento, que encontraram na família a “grande força”. “Nos momentos mais importantes e difíceis da minha formação para o diaconado, a minha esposa acompanhou-me fortemente, sendo o meu sustentáculo nesses momentos de provação, bem como na nossa própria vida, após ter sido ordenado. É disso exemplo o divórcio da nossa filha mais nova, em que todos nós sofremos. A minha mulher é que foi a minha grande força”, sustenta. “No nosso lar, a minha mulher substitui-me muitas vezes. Ela compreende perfeitamente que na minha missão de diácono também é cooperante. Creio que as forças dela são extraordinárias, porque Deus a compensa com isso. E eu sou o primeiro beneficiário”, afirma o diácono Dilão, concluindo que “se o diaconado for entendido como uma graça de Deus, onde Ele nos pede para sermos cooperantes na sua obra, não nos distancia da família”.

 

Nova evangelização

Em 1998, a Congregação para a Educação Católica e a Congregação para o Clero publicam uma declaração sobre as normas fundamentais para a formação dos diáconos permanentes, que foi aprovada pelo Papa João Paulo II: “O diaconado permanente, restaurado pelo Concílio Vaticano II, em harmonia de continuidade com toda a Tradição e com os próprios desejos do Concílio de Trento, conheceu nestes últimos decénios, em muitos lugares, um forte impulso e produziu frutos prometedores, com vantagem para o trabalho urgente da nova evangelização”. Em Lisboa, a primeira ordenação de diáconos permanentes, após o Concílio Vaticano II, tinha acontecido uns anos antes, em 1987, quando o então Cardeal-Patriarca, D. António Ribeiro, ordenou 7 diáconos permanentes. Três anos mais tarde, a 1 de julho de 1990, Armando José Dilão da Encarnação escutava o seu nome como candidato ao primeiro grau da Ordem, no Mosteiro dos Jerónimos, em Lisboa. Então com 47 anos, o diácono Dilão continuou com o seu percurso profissional de aduaneiro, na Alfândega de Lisboa, enquanto começava a exercer o seu ministério. “No trabalho, deixávamos de falar dos problemas laborais e começávamos a falar do dia-a-dia do ser humano, dos nossos problemas, das nossas alegrias e tristezas. O que foi mais notório foi encontrar os meus colegas quando celebrava casamentos e batizados e sentir como era feito este acolhimento”, refere, sorridente, o diácono Armando Dilão.

 

Permanente

“É uma função permanente, tal como o nome indica. Um católico define-se, essencialmente, por testemunhar o amor de Deus em qualquer lugar e circunstâncias Posso passar o dia inteiro na Igreja mas se não testemunhar o amor de Deus eu sou a negação deste sentido de vida que é ser cristão”, testemunha o diácono Dilão quando questionado sobre as funções de um diácono permanente.

Em comunhão com o seu pároco atual, o padre Valter Malaquias, pároco de Santos-o-Velho e São Francisco de Paula, o diácono Armando Dilão, para além de presidir a algumas celebrações litúrgicas, como casamentos, batismos, funerais ou a exposição do Santíssimo, tem como responsabilidade “assegurar a resolução de diversos problemas de carácter administrativo que são imprescindíveis, como o cartório”. “Sinto que a minha colaboração nas comunidades liberta os meus párocos para serem pastores”, salienta o diácono Armando Dilão, lembrado de alguns nomes que o formaram para essa missão. “Não posso omitir os mestres extraordinários que tive enquanto trabalhador da Cúria Diocesana, como por exemplo, o cónego Orlando Martins Leitão – os seu escritos eram lições extraordinárias –, e o cónego Manuel Alves Lourenço – transmitiu-me, no dia-a-dia, como descobrir o amor de Deus, uma forma de servir e amar o próximo, no exercício de todas estas formalidades que alguns entendem como ‘burocracias’”, refere este ministro, resumindo que “o objetivo do diácono é apoiar o pároco no exercício do ministério, que não é só participar na liturgia”.

 

Diácono conversa

Foi na paróquia do Sacramento, no Chiado, em Lisboa, que o diácono Armando Dilão cumpriu o estágio para o diaconado, durante um ano e meio, e onde veio a exercer os primeiros cinco anos de ministério. Desse trabalho pastoral, este diácono destaca a ‘conversa’ com o povo de Deus. “Recordo um trabalho pastoral que foi feito pelo colégio dos diáconos, na Pastoral da Baixa. Tínhamos um cartaz que dizia ‘Diácono não confessa, mas conversa’”, lembra. Muitas horas foram passadas a escutar os fiéis que se aproximavam. Mais tarde foi nomeado para a paróquia de Santa Isabel, onde esteve durante dois anos e onde reativou o primeiro agrupamento de escuteiros que existiu em Lisboa. “Recordo com muito carinho a passagem pela paróquia de Santa Isabel”, afirma este membro do Clero que tinha sido, durante 30 anos chefe de agrupamento e que foi nomeado dirigente regional do CNE, já como diácono permanente.

Do Patriarca D. António Ribeiro, o diácono Dilão recorda o momento em que o nomeou para a paróquia de Belas, naquela que viria a ser a última nomeação do Cardeal português. Depois da passagem pela paróquia da Vigararia da Amadora, o diácono Armando Dilão colaborou com o padre Duarte da Cunha, na paróquia de São Vicente de Fora, durante quatro anos. Foi então nomeado para a paróquia de Santos-o-Velho, onde permaneceu sete anos, até 2010, data em que comemorou 20 anos de ordenação diaconal. “Nessa altura pedi ao Cardeal-Patriarca, D. José Policarpo, um ano sabático, não deixando de exercer o meu ministério, na paróquia da Encarnação, em Lisboa, onde fui apoiar o cónego João Seabra na liturgia”. Terminado esse tempo, D. José Policarpo nomeou o diácono Dilão para a paróquia de onde era natural e onde é residente, Santa Catarina, e Mercês. “Com os olhos postos na passagem do Evangelho de São Lucas: ‘Em verdade vos digo que nenhum profeta é bem recebido na sua própria terra’, tentei demovê-lo, pela única vez, dessa decisão. Prevaleceu a obediência”, revela. Em 2014, o Patriarca D. Manuel Clemente nomeou o diácono Dilão para uma paróquia onde já tinha estado, Santos-o-Velho, e para São Francisco de Paula. “São comunidades muito carinhosas às quais me sinto muito gratificado pelo carinho e onde fui muito bem recebido”, revela.

 

Sentido do ministério

Numa celebração eucarística, celebrada pelo Cardeal-Patriarca, D. Manuel Clemente, no passado dia 1 de julho, por ocasião dos 25 anos de ordenação diaconal, Armando Dilão salienta as palavras finais que dirigiu a todos os fiéis. “Tomei como meu o grito de São Paulo: ‘Ai de mim se não anunciar o Evangelho’. Quando olhei para a comunidade vi que eles é que são o sentido grande do meu ministério. Porque a exemplo de Jesus Cristo, o meu ministério ganha realidade em servi-los. Se eles não estiverem lá, não me sinto diácono. Será só um título. Sem comunidade a quem servir, um diácono é um cabide de dalmática”, observa o diácono Dilão, garantindo que “o resultado deste trabalho pertence a Ele”.

Sobre o diaconado permanente na Diocese de Lisboa, o delegado e coordenador afirma que “o ministério está consolidado na diocese”. “Deus provem tudo o que é necessário para a sua messe… e aquilo que merecemos. É importante que os diáconos tenham o verdadeiro sentido do que é o diaconado como ministério: não é um ATL para o pós-reforma, nem é uma coisa que seja o próprio a pedir, mas a comunidade, na pessoa dos seus pastores, a fazer essa busca, discernimento e oração para convidar”, salienta o diácono Dilão, reforçando a importância do ministério para o futuro da Igreja: “O diaconado é cada vez mais importante para a Igreja. Tudo já foi dito, a começar pelos Evangelhos. Às vezes só ‘queremos arrombar portas abertas’. Fazemos um grande esforço e a porta está aberta. Temos de ser norteados para olhar”. Este membro do Clero destaca, contudo, a função específica do sacerdote. “Podemos ter aqui 200 diáconos mas se não tivermos um presbítero, não temos Eucaristia. São funções específicas que se completam em Jesus Cristo. Ao longo dos tempos, o Espírito irá revelando as múltiplas funções que os diáconos têm para fazer na sociedade de hoje, em todos os locais, sobretudo no mundo do trabalho e na sociedade civil”, refere o diácono Armando Dilão.

 

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Diácono Armando José Dilão da Encarnação

Reside na freguesia de Santa Catarina, em Lisboa, na casa onde nasceu, a 11 de julho de 1942. Foi ordenado diácono permanente a 1 de julho de 1990 e é delegado e coordenador dos Diáconos Permanentes do Patriarcado, notário da Cúria Patriarcal, adjunto da Secretaria Geral, secretário da Mesa Administrativa da Irmandade de São Pedro do Clero do Patriarcado de Lisboa e presta serviços paroquiais em Santos-o-Velho e São Francisco de Paula, em Lisboa.

texto por Filipe Teixeira; fotos por FT e arquivo pessoal do diácono Dilão

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