Diácono à Serviço da Família, da Vida e da Esperança

SOMBRAS          

Chegamos a cinquenta anos da restauração do diaconado e nos parece que caminhamos em direção ao individualismo como se seguíssemos os passos dos discípulos de Emaús. Os novos tempos e tempos novos estão nos levando a viver o meu ministério, o meu trabalho, a minha paróquia e outros tantos meus. Quando da ordenação diaconal deixamos de ser “eu” para nos tornar “nós” em comunhão com toda a Igreja integrando o corpo diaconal.  

O ministério não é propriedade de ninguém e sim dom de Deus que chama a quem Ele quer e quando quer, para o serviço em união com a Igreja Ministerial e fi éis leigos. Pertencemos a um organismo de articulação conforme as diretrizes do documento 96 nº123 e 125, descrito a nível diocesano, regional e nacional para que haja confraternização, partilha de vida e de experiências na promoção da vocação diaconal e formação permanente entre outros.  Como está a nossa auto avaliação em relação aquilo que a Igreja nos pede? (diretrizes doc. 96 nº94 – homens do seu tempo).  

Olhando para o nosso corpo diaconal, onde está a nossa corresponsabilidade em relação aos colegas que muitas vezes passam por difi culdades fi nanceiras?  Somos orientados no Doc. 96 nº122 para que se forme um fundo diocesano para socorrer algum irmão em necessidade urgente. Como estão as nossas visitas e diálogo com os diáconos idosos e muitas vezes em precário estado de saúde? As viúvas estão sendo convidadas às reuniões e ou retiros? (Cf. Atos 4,34).  Somos por excelência homens do trabalho, da família e da economia de mercado, portanto, devemos nos preocupar com o próximo, especialmente com nossos irmãos de ministério. E, assim unidos promover e trabalhar o diaconado nos três níveis: diocesano, regional e nacional, conf. Doc. 96 nº 127,128 e 129.  

Nesses últimos quatro anos pude ouvir de alguns diáconos que são impedidos por seus párocos de exercer seu ministério no espaço sagrado do presbitério junto ao altar nas celebrações eucarísticas. Como se o ministério ordenado fosse algo pessoal que alguém manipula ao seu entendimento. Os ministros da Igreja não são ordenados para si, mas para a Igreja. Portanto, dizer não a um bispo, a um presbítero ou a um diácono é estar dizendo não a Igreja de Jesus Cristo. Afi nal o que se entende por clero? Precisamos nos orientar nas diretrizes do doc. 96 º 118 e 119.  

O diácono exerce a sua vida ministerial na dupla sacramentalidade do matrimônio e ordem. Estamos cuidando bem destes dois sacramentos? O número 86 do Doc. 96 diz que o diácono casado não descuidará de seu lar sob o pretexto do exercício de ministério diaconal. Devemos estar em permanente diálogo fraterno com nossos párocos e bispos disponibilizando ao menos um fi m de semana para estar com a família.  No doc. 96 em seu nº 90 a CNBB orienta que bispos  e  presbíteros devem respeitar a condição do diácono como homem casado. Em alguns casos, esta consideração e realidade estão tão distantes.  Também no seu nº 88 somos orientados para que cuidemos de nossos fi lhos e fi lhas sem lhes impor obrigações adicionais, pois, eles não são diáconos.  

As questões econômicas em alguns casos também preocupam. Muitos diáconos para exercer o seu ministério em comunidades, muitas vezes, distantes precisam tirar do seu sustento para pagar as despesas de sua locomoção e manutenção do seu meio de transporte. Vi pessoalmente diáconos que vivem precariamente com aposentadorias mínimas e defasadas passando por diversas difi culdades econômicas.  Sendo que as diretrizes em seu nº 97 e 98 orientam que os párocos estejam atentos para cobrir as despesas e o reembolso dos serviços pastorais prestados à comunidade.

 Os condomínios e edifícios cada vez mais numerosos em nossas cidades são um desafi o de como conseguir evangelizar nesses locais tão protegidos por convenções condominiais e seus moradores não querem ser incomodados.  Depois de cinquenta anos da restauração do diaconado esse ministério ainda não é conhecido em muitas de nossas dioceses e paróquias, onde cristãos estão pouco ou nada informados sobre o diaconado. Devemos registrar que um número expressivo de diáconos não estão fi liados à CND, vivendo a margem do corpo diaconal, embora nossos bispos orientem que todos devem se fi liar, fortalecendo, assim, o corpo diaconal nacional.  

Em uma viagem a um regional tive a oportunidade de conversar com um pároco que atua numa área rural e ribeirinha com 96 comunidades, algumas destas, distante 400km da sede com caminhos difíceis por estradas de chão batido ou pelo rio, e alguns trechos somente a pé. Como é que podemos ser solidário a este nosso irmão com tantas difi culdades para exercer seu ministério sacerdotal? E o povo daquelas comunidades não merece um ministro ordenado ao menos uma vez por mês? Como atender os novos areópagos nos cinturões de pobreza e miséria que hoje se formam em torno de nossas cidades. Para muitos desses irmãos não conseguimos marcar presença por falta de presbíteros e diáconos que cheguem até eles.                  

LUZES            

Agradecemos a Deus por tantos bispos que aceitaram e tomaram como meta em suas dioceses a implantação do diaconado. Neste tempo de graça nossos bispos assumiram a condição de verdadeiros pastores e tornaram-se pais do ministério diaconal. Igualmente agradecer a muitos presbíteros e párocos que nos ajudam, aconselham e planejam as atividades paroquiais junto com seus diáconos. Isto é a Igreja pensada e restaurada no Concílio Vaticano II, para que hoje tenhamos em mãos o documento 96 –  aprovado na 49ª assembleia da CNBB em Aparecida/2011. Na maioria dos regionais houve um grande crescimento, a ponto de, nos últimos quatro anos mais do que dobraram as ordenações. Percebemos que dioceses que não tinham diáconos passam a ordenar os primeiros. Além do crescente número de candidatos observamos a diminuição da idade dos vocacionados. Cada vez  homens mais jovens se colocam a serviço da Igreja. Como também, na qualifi cação escolar.  

Agradecemos ainda a tantas escolas diaconais surgindo e crescendo em todo país. Isto favorece a participação de mais candidatos devido às distâncias encurtadas. Hoje temos mais de 2500 alunos em formação e em pouco tempo teremos o dobro de diáconos no Brasil. Há bonitos exemplos de diáconos orientados por seus bispos que partem a atender comunidades ribeirinhas distantes da sede paroquial. São ex
periências interessantes onde diácono e esposa partem em missão levando remédios, roupas, alimentos e no exercício do ministério fazem batizados, ministram catequese e celebram a palavra de Deus. Pois, a visita do Bispo ou do pároco se dá em muitas comunidades somente uma vez por ano. Há dioceses com experiências positivas onde diáconos são preparados para atuar nos condomínios onde residem. Atendendo as necessidades das pessoas e sendo a presença do Bispo nestes locais.  

Muitos diáconos atuam hoje em dia em pastorais da saúde, com alimento e medicamentos alternativos (naturais). Temos diáconos trabalhando no conserto de móveis e camas hospitalares e de casas geriátricas recolhendoas e depois de consertadas são distribuídas à população carente através das caritas paroquiais. Diáconos atuando em presídios e hospitais atendendo as necessidades daquelas pessoas. Um número expressivo de diáconos se dedica à administração das paróquias, construções de Igrejas e centros comunitários. Muitos outros estão à frente de cooperativas de reciclagem de lixo ajudando as comunidades em seu sustento. Em cooperativas de habitação organizando as pessoas nos seus direitos junto aos órgãos públicos.  

Como vemos neste breve relato que nós diáconos estamos inseridos em todos os setores da vida moderna sendo presença de Cristo no meio do povo. A cada dia surgem novos lugares e situações onde é requerida a presença da Igreja através do bispo, do presbítero ou do diácono. Por tudo isso, estejamos atentos ao chamado do povo para bem atendê-los nas novas situações e novos areópagos que estão surgindo. E, para tanto, temos que estar em permanente formação, unidos em nossas dioceses, nos regionais e no âmbito nacional.  Os tempos novos e novos tempos são um desafi o para todos nós.  

Que Nossa Senhora Conceição Aparecida rainha e padroeira do Brasil e mãe nossa cubra-nos com seu manto de amor e inspire sempre a obediência e sempre nos conduza pelo bom caminho fazendo a vontade de Deus.

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