Arquidiocese do Rio de Janeiro (Brasil):Diáconos Sidrack e João: 30 anos servindo a Igreja

•A história do diaconato tem sua origem ainda na Igreja primitiva quando, devido ao crescimento da comunidade cristã, os apóstolos decidiram escolher “sete homens de boa reputação, cheios do Espírito Santo e de sabedoria” (At 6, 3), aos quais foi confiado o serviço da caridade.

•Após o Concílio Vaticano II, houve uma restauração no diaconato, o que abriu espaço para que homens casados e viúvos fossem ordenados para o serviço. No Rio de Janeiro, o ano de 1987 se tornaria especial na vida de Sidrack Gragoatá Chagas e João de Barros Almeida.

•Ambos fizeram parte da primeira turma de diáconos da Arquidiocese do Rio de Janeiro, ordenados no dia 6 de junho de 1987. Dentre os nove diáconos ordenados naquele dia, somente os dois continuam vivos e, neste ano de 2017, completam 30 anos de serviço a Deus através do ministério diaconal.

 

A História

 

•Um ponto em comum na vida de Sidrack e João era o desejo de ser sacerdote. Ambos chegaram a ingressar no seminário, sendo o primeiro no Seminário Arquidiocesano de São José, e o segundo no Seminário Arquidiocesano da Paraíba.

•Para Sidrack, a saída se deu justamente por perceber que não tinha vocação para o sacerdócio. Já para João de Barros, o afastamento do seminário foi mais doloroso. “Naquela época, contraí tuberculose. Por isso não podia mais permanecer no seminário nem mesmo quando estivesse curado. O bispo disse que eu não poderia mais acompanhar minha turma. Então, afirmou que preferia que eu fosse um bom pai de família a um péssimo padre”, lembrou. Fora do seminário, João de Barros seguiu sozinho em direção ao Rio de Janeiro. Enquanto isso, Sidrack seguia por outro caminho, diferente dos planos de Deus. O álcool se tornou um de seus vícios, o que o impedia de realizar muitas coisas. Porém, talvez Deus se utilize da pequenez e miséria de Seus filhos para realizar na vida deles Seus maiores milagres.

•Do outro lado, João de Barros, antes de sair de João Pessoa, ficou noivo de Júlia Dias de Almeida. Cinco anos depois, seu pai decidiu vir ao Rio de Janeiro para conversar com o filho. “Conversando comigo, meu pai disse: ‘Se você não quer se casar com a menina, não atrapalhe a vida dela’. Isso foi em novembro, em fevereiro, nos casamos”, recordou.

• O casamento de João de Barros durou 53 anos, uma vez que Júlia partiu para a casa do Pai há três anos. Segundo ele, “tudo o que tenho hoje, agradeço a Deus e a esposa que Ele me deu”, afirmou.

•Sidrack casou-se com Idalina Jacinto Chaves seis anos depois de sair do seminário. Para ele, ir à missa com a família era um orgulho. “Desde que me casei, meu maior orgulho era ir à missa com ela. Havia um banco na igreja, o primeiro, que já era nosso, sempre sentávamos ali. Essa também era minha maneira de pregar. Nas vezes em que faltávamos, aquele banco ficava vazio”, contou.

O Chamado

 

•Na década de 1980, o então arcebispo do Rio de Janeiro, Dom Eugenio de Araujo Sales, divergindo do Conselho Presbiteral da época, decidiu instituir o diaconato permanente na arquidiocese. Para isso, delegou nas mãos de seu bispo auxiliar Dom José Palmeira Lessa a tarefa de escolher nove homens que, depois de quatro anos de preparação, atuariam no ofício.

•Um deles foi Sidrack, que, anos antes, havia recebido Dom Lessa nos tempos de seminário. Ao saber que o amigo estaria na Paróquia Coração Eucarístico de Jesus, sua igreja de origem, para realizar uma visita pastoral, Sidrack não hesitou em encontrá-lo, mesmo após ter bebido uma garrafa de cachaça. “Eu era alcoólatra. Não tinha condições para ser diácono. Chorava pedindo a Deus para me libertar, mas eu não conseguia largar o vício. Naquele dia, Dom Lessa não sentiu o cheiro da bebida e perguntou: ‘Você não quer ser diácono?’ Deus tirou de mim a garrafa de cachaça e me deu estola de diácono”, afirmou.

•Quem também estava na lista era João de Barros, o qual já era ministro da Eucaristia e, após uma visita ao reitor do seminário, o então cônego Edson de Castro Homem foi chamado para o ministério. “Aceitei o diaconato porque tinha esperança de um dia ser padre. Quando minha esposa morreu, eu já tinha mais de 80 anos e, por isso, não podia mais ser sacerdote”, destacou.

•Eles foram preparados durante quatro anos para assumir o ministério. Os encontros aconteciam todas as quintas-feiras no Edifício João Paulo II, cujos formadores eram o bispo auxiliar Dom Narbal da Costa Stencel, além dos padres Edson de Castro Homem e José Mazine. Além disso, eles passaram pela Mater Ecclesie, na qual também recebiam formação.

•De acordo com Sidrack, a primeira turma de diáconos era como uma família que se amava, apesar das desavenças. “Éramos como uma família mesmo, entre brigas e reconciliações. Um frequentava a casa do outro. Reuníamo-nos uma vez por mês, mas também sempre tínhamos nossos encontros festivos. Certa vez, num retiro, o João quase arrumou uma briga com outro diácono porque ele queria rezar o Terço de Nossa Senhora, e o outro diácono disse que só pensávamos nisso. Na mesma hora, o João disse: ‘Só não te dou um tapa na cara porque estamos em retiro. Não admito que você diga isso de minha mãe’. Talvez, ele nem se recorde desse fato”, contou entre risos.

•Após a preparação, Sidrack Chagas e João de Barros foram ordenados diáconos permanentes no dia 6 de junho de 1987, na Catedral de São Sebastião, pela imposição das mãos de Dom Eugenio Sales. João afirma, até hoje, sentir o calor das mãos de Dom Eugenio durante a bênção. Já Sidrack se recorda da multidão que lotou a Catedral, acompanhada da grande mídia, uma vez que a celebração foi destaque nos principais veículos de mídia do país.

A Missão

•Depois de ordenados, os diáconos foram enviados para paróquias distintas. Sidrack passou pelas paróquias de Santa Clara, em Guaratiba; Sant’Ana, em Campo Grande; São Lourenço, em Bangu; Nossa Senhora da Conceição e São Victor, em Campo Grande, e atualmente na Paróquia Coração Eucarístico de Jesus, em Santíssimo, há cinco anos.

•Diácono Sidrack lembrou, com emoção, o último dia em que esteve ao lado do padre José Melchior, com quem trabalhou em Guaratiba. “Ele foi o que mais me ensinou com seu trabalho e humildade. Para mim, ele é um santo. No dia de sua morte, estávamos realizando uma visita pastoral. No almoço, tremendo muito, me pediu para assistir a um casamento, porém não pude atendê-lo, pois havia outro casamento na comunidade. Foi justamente neste dia, quando corria para celebrar o casamento após ter realizado os batizados das crianças, que ele sofreu o acidente de carro e morreu”, contou.

Já João de Barros passou pelas comunidades Sagrada Família, na Taquara, Santo Sepulcro e São Brás, ambas em Madureira, Capela do Colégio Militar, Nossa Senhora do Carmo, em de Vicente de Carvalho, e atualmente na Paróquia São Luiz Gonzaga, onde atua há 20 anos.

•Segundo ele, no início do ministério, a esposa o acompanhava e apoiava nas missões. Depois de alguns anos, houve problemas, mesmo ela sendo católica praticante, devido ao grande período que o diácono passa fora de casa a serviço de Deus e as missões que aconteciam em comunidades mais distantes de casa.

•Após quatro anos desde a primeira ordenação diaconal, ambos foram chamados para serem tutores da segunda turma que formaria cinco diáconos em junho de 1991. Segundo eles, o principal trabalho era oferecer formações mais voltadas para o dia a dia com o povo de Deus e o que se deveria fazer nas celebrações.

As dificuldades e alegrias do diaconato

•Durante os anos dedicados ao diaconato, ambos sempre carregaram a mesma certeza de a principal função do ministério era levar Jesus para fora dos muros da Igreja, o que tem sido cada vez mais evidenciado pelo Papa Francisco.

•Para Sidrack, ser diácono é “servir no Altar, mas não viver somente nele. É preciso fazer aquilo que, muitas vezes, o padre, por falta de tempo, não consegue. O diácono deve contribuir na evangelização junto aos sacerdotes, levando Cristo para o povo, indo às casas, assistindo às viúvas e doentes, e não querendo aparecer mais que Jesus”, ressaltou.

•Aos 85 anos, diácono João de Barros disse: “Ainda quero fazer o que o Papa Francisco nos pede: sair da poltrona para evangelizar”, afirmou. Ele ainda atua na paróquia, mesmo após ter sofrido um Acidente Vascular Cerebral há alguns anos.

•De acordo com Sidrack, o início do diaconato no Rio de Janeiro não foi fácil. “No meu tempo, os diáconos tinham mais campo, porque eram poucos. Ainda assim, comemos o pão que o diabo amassou para limparmos o caminho para que os de hoje pudessem atuar. Enfrentávamos muitas perseguições, porque o povo e alguns padres não aceitavam. A missão do diácono se parece com a do padre, o que faz com que as pessoas confundam, e muitos se aproveitam disso para ser mais que o padre”, afirmou.

•Para João de Barros, assistir aos casamentos sempre foi sua grande alegria. “Eu ficava feliz da vida quando assistia a um casamento. Achava muito lindo, tinha vontade de chorar. Gostava muito de fazer a entrevista com os noivos, eu os aconselhava, conversa, abraçava. Hoje em dia, ainda desejo assistir aos casamentos, porém me falta voz. Também gostei muito de trabalhar com a Pastoral Familiar. Eu orientava, visitava famílias e gostava de dar palestras”, destacou.

•Enquanto para Sidrack uma alegria no diaconato era a oportunidade de celebrar o batismo. “Eu me identifico com o Batismo, porque nele encontro muitas pessoas que aparecem na Igreja somente nessa ocasião. Então aproveito para passar a mensagem de Cristo para eles. Perdi a conta de quantas crianças já batizei”, sublinhou.

•Porém, sua maior alegria se traduz na vocação de seu filho, Marcos Venício Jacintho Chagas. “Naquele tempo, em 1953, não havia pastorais, somente Movimento Mariano, no qual eu participava. Nesse período, meu filho, com 15 anos, já não queria mais participar na Igreja. Não havia nada que o fizesse retornar. Porém, com o advento do grupo de oração, ele foi com minhas filhas, gostou e permaneceu. Esse foi o retorno dele à igreja. Tempos depois, ele se candidatou ao diaconato. Agora, a missão diaconal tem sido repassada ao meu neto que, ainda na juventude, já sonha em se tornar diácono”, sublinhou.

•Durante a entrevista, foi perguntado aos diáconos se ambos estariam dispostos a fazer tudo outra vez. A resposta foi uníssona: “Sim”, até o “porém” proferido pelo diácono João de Barros: “Menos casar. Ainda que eu não fosse diácono, dedicaria minha vida à Igreja como leigo ou tentaria mais uma vez me tornar sacerdote”, concluiu. •Fonte:

http://arqrio.org/noticias/detalhes/5825/sidrack-e-joao-30-anos-servindo-a-igreja-no-rio-pelo-diaconato-permanente

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